Com a compreensão de que os movimentos da estrutura terrestre se desenrolam num tempo longo, podemos desenvolver boa parte das teorias sobre a dinâmica das esferas terrestres. Mas, e quanto aos movimentos bruscos, que em tempos mais curtos podem provocar alterações nas formas da superfície terrestre, como a explosão de um vulcão? E um movimento mais lento, como a abertura dos oceanos? Podemos adiantar que, as teorias e pesquisas inovadoras de James Hutton e Charles Lyell não foram capazes de explicar todos os fenômenos que ocorrem na litosfera terrestre.
Um pensamento original e ousado: a deriva continental
Um mapa é uma linguagem espacial e nele é adequado apresentar informações do espaço ou que estão no espaço. Num mapa é muito difícil representar o tempo. Cada mapa é um retrato de um único tempo, de um presente. Se um único mapa é um retrato, para mostrar mudanças deve-se mostrar um retrato de outro momento, depois outro e assim por diante, criar uma sequencia, como na linguagem verbal (para compreender o que se quer falar, passar). Chamamos de cartografia dinâmica, uma coleção de mapas colocados em sequencia, como a ?Coleção de mapas sobre a deriva continental: da Pangeia até nossos dias?. Os mapas mostram continentes se formando e se afastando. Mostram oceanos se abrindo. Eles estão representando um processo natural de escala planetária em cinco tempos:
- o primeiro mapa representa a Terra há 225 milhões de anos, no Período Permiano, a época em que se inicia a abertura dos oceanos;
- no segundo mapa, Período Triásico, 25 milhões de anos depois, o grande bloco terrestre observado no primeiro mapa já apresenta fragmentos e espaços preenchidos pela água;
- no terceiro mapa, Período Jurássico, essas aberturas já são maiores, após a passagem de mais 65 milhões de anos;
- no quarto mapa, Período Cretáceo, essas aberturas estão ainda maiores, após mais 70 milhões de anos;
- até o mapa atual, 65 milhões de anos depois, essa abertura só fez aumentar.
Os blocos continentais que estavam se formando como fragmentos de uma única massa continental (Pangeia) parecem peças de um quebra-cabeça. A América do Sul não parece se ajustar bem à costa ocidental da África? Esse processo representado nos mapas é o de abertura dos oceanos por entre fragmentos de um único bloco continental, o que representa a formação dos continentes que conhecemos.
Os mapas mostram uma dinâmica da natureza, numa temporalidade mais ou menos rápida para a natureza, mas muito longa para o ser humano. Eles estão mostrando que a crosta terrestre não é fixa, e que estamos sobre algo que se movimenta como se fosse uma balsa.
Hutton e Lyell não perceberam essa movimentação e assim, não fizeram estudos a respeito. Essa é a lacuna que será preenchida no conhecimento geológico que Hutton e Lyell legaram para o século XX.
No início do século XX, as pesquisas científicas sobre o mundo natural ainda eram alvo de censura (por exemplo, a censura religiosa) como no passado. O conhecimento geológico estabelecido não considerava essa hipótese de um movimento de afastamento dos continentes. Quando, em 1912, o geofísico e o meteorologista alemão Alfred Lothar Wegener (1880-1930) apresentou essa hipótese, ele foi tratado como um aventureiro, um irresponsável, um ?herege?, até pelos seus colegas cientistas. Seus contemporâneos não estavam preparados para essa ideia um tanto desconcertante e não foi fácil para ele suportar a aversão dos discordantes. E os mapas apresentados expressam exatamente o que ele pensava.
A Geologia não sabia explicar os movimentos que geravam os terremotos e tinha pouco entendimento sobre os vulcões, ou seja, muitas perguntas estavam sem respostas. Graças a isso, apostar num movimento da crosta tal como imaginou Wegener era bem razoável como hipótese. Afinal, além dos processos lentos bem apreendidos por Hutton, existiam outros movimentos que permaneciam misteriosos. Pesquisas posteriores encontraram nas costas da África e da América do Sul fósseis de vegetais idênticos, em estratos rochosos antigos. Se forem idênticos não é porque estavam próximos, se afastando depois, ao longo de 200 milhões de anos? Isso se confirma com a presença, nos dois lados, de estruturas geológicas e rochas também idênticas. Parece não haver dúvida: um dia esses blocos continentais integravam um único continente. Wegener teve de fato uma intuição genial e revolucionária que inaugurou uma nova era nos conhecimentos sobre a Terra. Aqueles que o censuravam estavam pouco abertos para o novo. Após a morte de Wegener, e depois de constatado o valor de sua hipótese, os geofísicos aproveitaram a porta aberta e foram mais longe na interpretação das estruturas da Terra. Como e por que se dava esse movimento? Os geofísicos notaram que esse movimento de afastamento era possível porque a crosta terrestre era formada por pedaços ou placas, e não por uma única capa de rochas. Essa grande revolução científica aconteceu nos anos 1960. Novas informações no campo da Geofísica marinha propiciaram um melhor conhecimento do fundo dos oceanos e avançou-se no conceito de falhas, na localização precisa dos terremotos etc. Nascia assim a teoria Tectônica de Placas com os trabalhos de J. Morgan, X. Le Pichon e D. McKenzie, entre outros autores. Atualmente, não há Geologia sem considerar a deriva continental, como ficou conhecida a visão de Wegener e a teoria das placas que compõem a crosta terrestre.
Uma cartografia das placas tectônicas
A crosta terrestre é formada por placas que flutuam sobre um material viscoso chamado magma. Inicialmente admitiu-se a existência de 6 placas; hoje estão identificadas aos menos 15 placas: Placa Eurasiática, Placa das Filipinas, Placa Australiana, Placa da Antártica, Placa da Índia, Placa da Arábia, Placa Africana, Placa Sul-Americana, Placa Nazca, Placa Caribenha, Placa Cocos, Placa Juan de Fuca, Placa Norte-Americana, Placa do Pacífico e Placa de Scotia. No interior de algumas placas se encontram os blocos continentais, normalmente, nas placas maiores. No ?Mapa da placas tectônicas?, os continentes estão representados com seu contorno. Por exemplo, na Placa Norte-Americana se encontra os EUA, o Canadá, o México, a Groenlândia e um segmento da Ásia.
As áreas de encontro das placas são fundamentais para se entender certos eventos geológicos como o vulcanismo e os terremotos. Por exemplo: nota-se que o Japão situa-se no encontro de duas ou três placas (Norte-Americana, Eurasiática e a Placa das Filipinas), e isso tem consequências na instabilidade geológica que ali ocorre. A existência dessas placas e o fato de elas se movimentarem trazem para a superfície terrestre consequências que já se sabe e que, aliás, foi por onde essa descoberta começou: a deriva continental.