As formas do relevo brasileiro expressam tempos da natureza muito distintos. Podemos observar que eventos de bilhões de anos atrás combinados com outros bem mais recentes deixaram suas marcas. Descrever as grandes formas de relevo brasileiro não é tarefa simples em função da enorme escala territorial de nosso país. No entanto, para enxergar a organização do relevo é preciso também organizar o olhar. Essa é a função das diversas classificações do relevo brasileiro. Elas organizam nosso olhar, cada uma a seu modo. E cada uma delas nos dá acesso a realidades distintas.
As formas de relevo devem ser compreendidas na sua dinâmica, e o mesmo acontece com as classificações. Elas se alteram mais que as próprias formas de relevo. O relevo muda, porém bem mais lentamente que o conhecimento humano. Além de discutir as forças que atuam na constituição do relevo brasileiro, vamos refletir sobre as próprias formas de classificação e como, por meio de teorias que reúnem forças estruturantes, formas e medidas, constroem-se olhares produtivos sobre essa dimensão da natureza, que é o modelado da crosta terrestre, mais especificamente, o modelado brasileiro.
O relevo não é produto apenas dos movimentos tectônicos, mas de outra força que atua na superfície terrestre: a erosão.
Alguns termos se referem às formas da superfície terrestre: relevo, modelado, Geomorfologia, topografia. Certamente, a palavra modelado tem maior correspondência com a linguagem corrente. A superfície terrestre é modelada por irregularidades. Por exemplo: a Cordilheira dos Andes, que é um soerguimento da placa Sul-americana, é uma irregularidade que compõe o modelado da Terra.
- Relevo: forma da Terra, modelado, que resulta da interação das forças internas (tectônica) e das forças externas (erosão no sentido amplo);
- Modelado: considerado um sinônimo informal de relevo, é a forma da Terra ou então a "epiderme" da Terra;
- Geomorfologia: trata-se de uma das áreas que compõe a Geografia Física, ao lado da Climatologia, Hidrografia e Biogeografia. Seu objeto de estudo é justamente o relevo, tanto dos blocos continentais quanto do fundo oceânico. Seus objetivos são medir, descrever as formas e explicar as origens e a evolução do relevo;
- Topografia: conjunto de saberes técnicos que contribuem para apreender o espaço segundo a localização e a medida dos objetos geográficos visíveis (aqui se encontram as estruturas do relevo e, também, os rios, os objetos construídos pelo ser humano etc.).
Se entre as funções da Geomorfologia está a de medir o relevo, os conhecimentos de Topografia serão necessários.
Classificações das macroestruturas: modos de apreender e de ver
Ao trabalhar a dinâmica da placa Sul-americana, parte dos estudos sobre o relevo brasileiro estava sendo realizada. Essa parte diz respeito aos processos que ocorrem na estrutura da crosta terrestre, revelados pela teoria da tectônica de placas. Mesmo em se tratando de origem e evolução das formas de relevo, esses estudos são parciais, porque outro agente igualmente poderoso na definição das formas da superfície terrestre precisa ser considerado: a erosão.
O que entendemos, quando falamos sobre construção e destruição?
- No encontro das placas tectônicas Sul-americana e de Nazca, fala-se em destruição da borda da placa, mas também se pode falar em construção de relevo, mais propriamente da Cordilheira dos Andes;
- Na área de divergência das placas Sul-americana e Africana, há afloramento de magma para a superfície, que, ao se solidificar, tem efeito construtivo: faz crescer as duas placas, ampliando a crosta oceânica, e origina cadeias montanhosas no fundo do Oceano Atlântico, como a Dorsal Mesoatlântica. Neste caso, constrói-se placa e constrói-se relevo submarino;
- Na superfície terrestre, a erosão é uma força destrutiva de relevo, podendo, ao longo de milhões ou bilhões de anos, arrasar integralmente uma cadeia montanhosa. Mas, se estivermos pensando apenas nas formas de relevo, a erosão pode ser considerada uma escultora, que vai desenhando formas, mas uma escultora insatisfeita, que vai esculpindo até nada mais sobrar. Porém, ao mesmo tempo em que destrói, a erosão constrói outros relevos, e é a causa da deposição de sedimentos em áreas mais baixas, dando origem a planícies, por exemplo.
Considerando a escala planetária, nos últimos 60 milhões de anos (vide escala geológica do tempo) não têm ocorrido eventos tectônicos que construam relevo, mas têm ocorrido, de forma incessante, processos que destroem relevo, que, na verdade, vão lhe dando formas. Trata-se da erosão, cujos agentes principais são as águas, as geleiras e os ventos. A erosão remove, desgasta, transporta os resíduos e deposita-os em outras localidades mais baixas.
Considerando as origens e a evolução (dinâmica) das formas de relevo, vale reconstituir as forças trabalhadas: o tectonismo e a erosão. Ambas são responsáveis tanto pelas formas como pela altura do relevo ao longo do território brasileiro.
O tectonismo, a erosão, as formas e a altura são palavras-chave, fundamentais e suficientes para se entender e ver o relevo brasileiro. De modo geral, qualquer forma de descrever e classificar o relevo brasileiro vai combinar e fundir esses quatro elementos:
tectonismo ? erosão ? forma ? altura (altitude) |
Como é possível ver o relevo em uma extensão e em uma escala tal como a do território do Brasil? Não é fácil, dadas as dimensões e também a variedade do que nossos olhos verão. Não se vê o relevo de um território sem algum treino, sem alguma preparação. Ao olhar o relevo sem preparação, seremos como míopes; na verdade, precisamos de critérios e de organização, que vão funcionar como óculos especiais para vermos o relevo brasileiro.
Um primeiro passo será ter sob controle as grandes formas de relevo, ou as macroformas do relevo: planalto, planície, cadeias montanhosas e depressões.
Em nosso território, não temos cadeias montanhosas recentes e nem altas, pois foram quase integralmente erodidas (aqui existem apenas testemunhos de dobramentos antigos na estrutura geológica). Apenas as outras três macroformas estão presentes no território brasileiro: planícies, planaltos e depressões.
O mapa ?Brasil: formas de relevo?, nas páginas 22 e 23 do caderno do aluno, traz uma proposição de classificação do relevo na escala do território nacional.
Trata-se de uma representação qualitativa, que procura diferenciar os elementos representados fazendo uso do recurso de cores distintas. Talvez o mapa não tenha resolvido bem como diferenciar os compartimentos, que na verdade são apenas três, com subdivisões. A questão é que as subdivisões ficaram com o mesmo peso visual que as três compartimentações fundamentais (planícies, planaltos e depressões). Outro problema: os tons de marrom imprimem em nossos olhos uma ordenação de um mesmo fenômeno, que não é o caso aqui. Pode ser que isso fosse mais bem resolvido se a diferenciação dos compartimentos fosse feita com três cores, e as subdivisões estivessem assinaladas com números, tal como acabou sendo utilizado. O mapa tem de mostrar os três compartimentos, a nitidez e a posição que eles têm de ter na hierarquia visual, e não podem confundir visualmente sob o peso das subdivisões.
Há uma evidente associação das formas de relevo à estrutura geológica subjacente (embaixo de outro). Os critérios que esse autor utiliza levam em conta os processos constituintes (erosão, deposição e tipo de estrutura), e ele procurou deixar isso ressaltado no mapa.
O importante é ver a distribuição das formas de relevo do Brasil e compreender a lógica que explica a existência das macroformas associadas a vários fatores naturais que atuam no interior e na superfície terrestre.
O território brasileiro não possui grandes altitudes e não tem eventos tectônicos recentes; é muito trabalhado pela erosão e tem quase 99% de sua extensão formada por terrenos com menos de 1 200 m de altitude: 41% têm de 0 a 200 m e 58,5% chegam a até 1 200 m.
Outras classificações de relevo são possíveis, e só dependem dos critérios empregados, e dos elementos considerados e reunidos. Além disso, as formas de relevo podem ser trabalhadas em combinação com outros elementos da paisagem, tais como as formações vegetais e as condições climáticas. Esse é o caso de uma classificação muito conhecida proposta pelo geógrafo Aziz Ab?Saber denominada Domínios Morfoclimáticos, que podemos observar no mapa ?Brasil: domínios morfoclimáticos?, na página 25 do caderno do aluno. Esse mapa trata-se também de uma representação qualitativa que diferencia compartimentos.