Eventos catastróficos para os seres humanos resultam do movimento das esferas terrestres. Aqueles associados à litosfera, como terremotos e explosões vulcânicas, podem ter grande magnitude e muitas vezes nos fazem pensar nas nossas limitações para poder intervir diretamente sobre eles e nos precavermos diante desses eventos naturais. Quais os efeitos dessas catástrofes sobre as diversas sociedades, em especial os efeitos no espaço geográfico? Esses efeitos são maiores ou menores em função da desigualdade social existente no planeta? Quais as ações humanas diante das catástrofes? Como preveni-las, quando há condições de fazê-lo?
Vulcões que explodem e devastam os lugares e terremotos que abalam cidades levando destruição são eventos distantes de nossa realidade. Esses são eventos relacionados em sua grande maioria às zonas de encontro das placas tectônicas e, por estarmos no centro da Placa Sul-americana, dificilmente nos atingem.
Em nosso contexto (urbano), por exemplo, uma área de risco ligada às questões de ordem geológica são os deslizamentos, que são parte do processo erosivo e costumam levar grande perigo às populações desses locais: muitas moradias precárias se encontram em morros, terrenos de elevada inclinação e sem cobertura vegetal.
Como se proteger dos eventos geológicos
Os eventos geológicos podem ter duas origens distintas: associados aos movimentos internos da crosta (tectonismo) ou externos, vinculados aos processos erosivos, de desgaste da crosta. Sem dúvida, os mais perigosos para o ser humano, os que produziram maiores tragédias, são os de grande escala provocados pelo movimento das placas tectônicas: terremotos e explosões vulcânicas. Para chegar mais próximo da complexidade da questão das mortes em terremotos, é preciso ter em conta mais um dado da realidade: entre 1975-2000, estima-se que tenham morrido 471 mil pessoas em decorrência de terremotos. Dessas, 52% foram na China e 16% no Irã. O maior número de vítimas num único tremor foi em 1999, na Turquia (18 mil pessoas), mas esse número foi atribuído, em parte, à pobreza e à fragilidade das habitações, e nem tanto à força do tremor. Encontrou-se aí uma variável fundamental para entender os desastres ligados a terremotos e explosões vulcânicas: há populações mais protegidas e preparadas para os impactos dos desastres naturais que outras, e isso vão interferir no número de vítimas. Já o vulcão Nevado Del Ruiz e do vulcão Vesúvio, no primeiro caso, em Armero morreram ¾ da população da cidade, ou seja, quase todo mundo. O intervalo entre a explosão do vulcão e a enxurrada de lama foi de 8 horas. Uma maneira fundamental de prevenir desastres provocados por erupções vulcânicas deve ser a combinação de informações científicas: monitoramento da atividade do vulcão somada a estratégias coordenadas para rápida evacuação da população dos locais de risco. Caso isso existisse em relação ao vulcão e à comunidade de Armero, a tragédia não teria sido tão grave. A baixa eficiência desse controle foi responsável pela envergadura da tragédia. Já o segundo caso, é um bom exemplo de controle passivo eficiente pelos seguintes motivos: existe um observatório com equipamentos e cientistas estudando cotidianamente o vulcão, que está ativo, e nenhuma erupção pegará de surpresa a população, como no caso do Nevado Del Ruiz. Os estudos não ficam apenas na atividade atual do vulcão, volta-se no tempo para saber qual é a sua verdadeira potência, visando aperfeiçoar os planos de proteção e evacuação. Para ter ideia do risco ao qual as populações estão submetidas e como é desigual o controle passivo, segundo as condições dos países, veja: existem alguns milhares de vulcões no mundo, mas somente cerca de 500 são ativos e bem estudados, outros 150 são monitorados e pouco se sabe sobre o restante.
As catástrofes como elementos de construção do espaço
Uma das catástrofes mais impressionantes dos últimos tempos foi o tsunami no Oceano Índico. Estamos diante de um evento natural que combina movimentos de duas esperas naturais: movimentos da litosfera mais os movimentos da hidrosfera.
Tsunami ou maremoto é uma série de ondas de água causada pelo deslocamento de um grande volume de um corpo de água, como um oceano ou um grande lago. A placa tectônica indiana subiu sobre a microplaca birmanesa, que seria um fragmento (não se tem certeza se é uma placa independente) da placa eurasiática. Esse movimento brusco produziu grande perturbação nas águas oceânicas, o que gerou o maremoto, o tsunami. Ele foi um evento que ocorreu em dezembro de 2004. Todos sabiam de sua ocorrência. Nesses cinco anos, vocês ouviram falar de terremotos no Peru e no Paquistão? E sobre o terremoto do dia 6 de abril de 2009, no centro da Itália (região de Abruzzo), no qual morreram mais de 300 pessoas? O tsunami atingiu áreas turísticas, vitimando um grande número de pessoas de diversas nacionalidades. Isso fez aumentar a repercussão para além da escala regional. A repercussão do tsunami em escala mundial significou uma forma de aproximação dos povos, visto que a solidariedade que se organizou veio de lugares dos quais, no passado, não viria. Essa ocorrência ajuda a construir uma nova Geografia das relações entre os povos. Várias possibilidades de reflexões interessantes existem sobre os significados de um evento dessa dramaticidade para a humanidade, e muitas vão nos ajudar a pensar melhor no que chamamos relações homem-natureza. O que está acontecendo agora nos países vitimados pelo tsunami? Como foi retomar a vida depois da devastação? Como construir novos espaços? Pensar de outra maneira na localização geográfica da ocupação do espaço nas regiões litorâneas, reavaliar a qualidade das edificações, rever o sistema de proteção, como o monitoramento das condições oceânicas, os meios para o alerta geral e para a evacuação. Será que os países atingidos têm condições econômicas e sociais para incorporar essa experiência e os novos saberes para construir espaços humanos mais bem protegidos e mais dignos?
O evento do tsunami está agora humanizado (ele não é mais um evento da natureza apenas), a ação geográfica do ser humano na região estará fortemente influenciada pelo que aconteceu e pelo que pode acontecer. Nesse sentido, pode-se dizer que o tsunami, que antes destruiu, agora é um dos construtores do espaço.