ADRIANO KOEHLERA história da saga dos italianos que vieram ao Brasil ganha mais um capítulo ilustre com o lançamento de Sperandio, livro do jornalista Claudio Lachini. Nele, Lachini conta a história de Sperandio Zibaldone, imigrante italiano que chega ao Brasil em 1878 para viver no Espírito Santo, fazendo parte das primeiras levas de imigrantes que chegaram ao Brasil. Narrado em primeira pessoa, Sperandio narra a história de sua família, dos outros italianos que aqui aportaram e de seus descendentes.
Lachini, até por ser descendente de italianos, faz um apanhado histórico minucioso de muitas das dificuldades que os primeiros chegados às matas da Serra do Mar capixaba enfrentaram: o clima, o solo, as plantas, os animais silvestres, as doenças tropicais, a língua estranha, os costumes diversos, a escravidão que estava por acabar, o preconceito contra os estrangeiros. Enfim, um rol de problemas sem fim. Sperandio, nosso narrador, vai mostrando através de seu relato como uns e outros enfrentavam estes problemas, uns vencendo o ambiente, outros desistindo e de alguma maneira retornando à Itália, outros ainda se matando por angústia de não pertencerem a nenhum outro lugar.
Nesta saga, a família de Sperandio vai crescendo e buscando novos rumos. Sem ser um nostálgico, ele anota os avanços da civilização com uma certa admiração, ao mesmo tempo em que contempla com algum pesar o movimento de aculturação pelo qual passaram os imigrantes italianos. Em especial, Sperandio conta com tristeza o período do Estado Novo em que Getúlio Vargas proibiu diversas práticas e costumes dos italianos no Brasil, em especial a proibição do ensino do italiano. Para Sperandio, era o início do fim da preservação da cultura italiana na nova terra.
Com o passar dos anos, ainda que Sperandio morra, seu espírito permanece para nos contar a história de seus descendentes até os tempos modernos. Assim, temos o caso de seu bisneto Toni, que retorna à Itália durante os Anos de Chumbo, refugiado político, para perceber que sua pátria já não era mais a de seus bisavós.
No entanto, se Lachini é bastante detalhista ao contar o passado, acaba correndo com as palavras para narrar os tempos modernos. Esta mudança de ritmo acaba prejudicando o que o livro tem de melhor, que é mostrar ao leitor quais foram os sentimentos do povo italiano que veio para o Brasil e ficou por aqui para influenciar e muito a cultura brasileira até os dias de hoje. Falta um gancho entre o passado e o presente.
Outro ponto do livro que joga contra o autor é o linguajar rebuscado com que narra as histórias de Sperandio e seus descendentes. Se o autor tivesse optado por uma linguagem mais moderna, sem tantos rococós, o livro seguiria seu ritmo de uma forma mais harmônica. Perdemos algum tempo tentando entender os floreios usados para contar a história, tempo precioso em que poderíamos mergulhar na vida dos personagens fascinantes criados pelo autor. Este fato é tão marcante que quando chegamos finalmente a uma expressão mais natural no livro (?A pimenta do reino, que faltava, foi substituída pela malagueta nativa, picante e saudável, porque todos teriam seus escapamentos preservados, particularmente eu, sofredor de hemorróidas e da próstata. Era o calor infernal destes trópicos. Uma dia a medicina daria conta disso, obrando a refrigeração da bunda da gente, a minha incluída.?), damos um sorriso de ?ufa, finalmente ele percebeu que é um homem como os outros?.
Por fim, uma nota negativa para a editora do livro. Ao escolher um corpo de texto bem pequeno, com uma entrelinha menor ainda, a editora conseguiu deixar a leitura um pouco mais prejudicada. Uma pena, pois a história destes pilares da cultura brasileira merecia um tratamento gráfico e editorial mais cuidadoso.
ADRIANO KOEHLER
É jornalista. Vive em Curitiba (PR).
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