O Queijo e Os Vermes- Carlo Ginzburg
Ciências Humanas e Sociais

O Queijo e Os Vermes- Carlo Ginzburg


A leitura que fiz da obra do historiador italiano, Carlo Ginzburg, foi interessante e me mostrou uma outra visão de História já que Ginzburg in O Queijo e os Vermes narra a vida, o cotidiano e o julgamento inquisitorial de Domenico Scandellla, um moleiro de Montereale zona italiana do Fruili, conhecido como Menocchio, o autor faz uma micro-história.
Ginzburg pesquisou o Arquivo da Áuria Episiopal aonde encontrou documentação de processos inquisitoriais e chamou-lhe a atenção. Os julgamento de um camponês comum, autodidata, alfabetizado(o que não era muito comum entre os pobres da época), respeitado pela comunidade e acusado pelo Santo Ofício de herege.
O autor faz uma investigação minuciosa das ideais de Menocchio, comparando-as com a sua leitura e com a época, pois era século XVI, num período marcado pela Reforma Protestante, a contra-reforma católica e a difusão da imprensa, na Europa pré-industrial.
O livro discorre sobre possibilidades de como um camponês comum, construiu suas ideais sobre os dogmas religiosos e criação do mundo, os quais disseminava para seus amigos e vizinhos até ser denunciado O Santo Ofício.
Durante o inquérito preliminar, Menocchio surpreendeu até seus inquisidores com sua cosmologia de que o mundo foi criado do caos
“[...] terra, ar, água e fogo juntos e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem vermes e esses foram os anjos. [...] e entre todos aqueles anjos estava Deus[...] e foi feito senhor com quatro capitães: Lúcifer, Miguel, Gabriel e Rafael”. (p.36,37)
Menocchio também fazia duras críticas acerca da riqueza da Igreja e o uso do latim. “Na minha opinião, falar latim é uma traição aos pobres. [...] E me parece que na nossa lei o papa, os cardeais, os padres são tão grandes e ricos que tudo pertence a Igreja e aos padres”. (p.41)
O moleiro, apesar de entregar uma longa carta aos juízes, na qual pedia perdão pelos erros do passado, foi condenado e deveria passar o resto dos seus dias na prisão, sob as custas de seus filhos. Após quase dois anos, sua pena foi atenuada, quando seu filho em nome dos irmãos e da mãe apresentou ao bispo Matteo Sanudo e ao inquisidor de Concórdia, uma súplica escrita pelo próprio Menocchio, na qual reconheceram sinais de uma autentica conversão. O magistrado de Potoguaro comungaram a sentença e determinaram que Minocchio não poderia sair da Aldeia de Montereale, nem também falar ou mencionar suas ideais perigosas, deveria confessar-se com regularidade e usar sobre a roupa o hábito com a cruz como sinal de sua infância.
Apesar de algumas limitações, Menocchio voltou a sua vida normal, e continuar prestigio na comunidade. Contudo, continuou a manifestar suas “verdades” e foi novamente denunciado ao Santo Ofício, o que acabou impulsionando um segundo julgamento. Domenico é preso e mesmo implorando “Clemência, é torturado e morto na fogueira.
Com a história de um camponês, Carlo Ginzburg quebra os paradigmas de que a história só pode ser contada pela elite e nos mostra a importância da massa Camponesa para a propagação da cultura popular, pois a partir de um simples homem chegamos ao cerne de uma época e sociedade.
Ao decorrer do livro o autor ao contar a história de Menoccio verifica as possibilidades das influencias externas que levaram o Moleiro a ter tais ideias. Examina a probabilidade de algum grupo religioso ter o sugestionado, analisando sinais do pensamento luterano, anabatista e outros grupos.
Analisa também os livros lido pelo Moleiro comparando-os com suas falas transcritas nos depoimentos e conclui como o Menoccio lia seus livros: “destacava, chegando a deformar palavras e frases; justapunha passagens diversas, fazendo explodir analogias fuminantes. Toda vez que confrontamos os textos com suas reações a eles, fomos levados a postular que Menoccio possuía uma chave de leitura oculta que as possíveis relações com um ou outro grupo de heréticos não são suficientes para explicar. [...] não o livro em si, mas o encontro da página escrita com a cultura oral é que formava, na cabeça de Menoccio, uma mistura explosiva.” (p.95)
Não considerei uma leitura difícil, mesmo porque o autor consegue situar seu leitor em seu livro, prova disso é que já nas primeiras linhas do primeiro capítulo de O Queijo e os Vermes, o escritor nos mostra o contexto histórico da época e situa Menocchio neste.
Outra característica que achei interessante no livro é o fato do autor trazer diálogos em seu livro, o que para mim isso acaba tornando a obra mais real, eu acabava imaginando aquele dialógo, e torna a obra também mais dinâmica, como no capítulo “Diálogo” Ginzburg mostra o Inquisidor e Menocchio em um intenso diálogo que tinha como uma das finalidade sanar as dúvidas do Inquisidor e Menocchio respondia as perguntas com muita tranqüilidade e segurança.



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