Seminário no CES (3 e 4 de Dezembro em Coimbra): Circuitos de Dominação do Capital e o desafio da (Re)Invenção da emancipação no séc. XXI
Ciências Humanas e Sociais

Seminário no CES (3 e 4 de Dezembro em Coimbra): Circuitos de Dominação do Capital e o desafio da (Re)Invenção da emancipação no séc. XXI


O Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC) promove o Seminário "Circuitos de dominação do Capital e o desafio da (re)invenção da emancipação no século XXI", organizado por investigadores de pós-doutoramento. O objectivo é compartilhar análises e estudos produzidos nos percursos de investigação, trabalhando dois eixos:
1) a expansão do capital e suas configurações no âmbito do consumo e
2) as experiências emancipatórias, privilegiando alternativas de luta em diferentes domínios da vida social. Nesta partilha reflexiva, o colóquio pretende articular olhares de investigadores e de integrantes dos movimentos sociais, com o propósito de ampliar as vias de investigação.

GÉNESE E CONCEPÇÃO

Nos percursos do pós-doutoramento no Centro de Estudos Sociais – CES, neste ano de 2008, com a orientação científica do Professor Boaventura de Sousa Santos, temos trabalhado, de forma intensa e sistemática, o seu pensamento de diferentes ângulos, orientadas por questões-chave em nossos processos específicos de investigação. Mobiliza-nos o esforço de gestar uma "reflexão inovadora", em resposta às provocações do mundo que vivemos, perseguindo vias e pistas que este "pensamento em processo" está a abrir para pesquisadores/pesquisadoras que, neste momento da civilização do capital, ousam exercer o pensar e a crítica na busca de caminhos da (re)invenção da emancipação.

Estamos convictas de que é "dever de ofício" colocar em circulação as reflexões gestadas neste entrecruzamento dos nossos objetos de pesquisa com o pensamento emancipatório de Boaventura de Sousa Santos. Assim, estamos construindo este "Seminário Interno de Reflexão e Debates" como um espaço de compartilhamento do que estamos a produzir em nossos estudos e pesquisas, viabilizando oportunidades de socializar e ampliar reflexões, questões, inquietações e vias investigativas.

Para dar concretude a esta nossa pretensão de discutir, partilhar, movimentar produtos e processos na tessitura do conhecimento, procuramos articular olhares de outros/as pesquisadores/as que, no CES, estão a vivenciar o pós-doutoramento e o doutoramento. Desse modo, queremos contribuir para uma articulação teórico-analítica e troca de experiências entre nós, tendo, como fio condutor, a "reflexão inovadora" que, na sua inquietude, faz gestar caminhos e alternativas.

Neste sentido, o seminário proposto também tem a intenção de funcionar como uma ponte acadêmica entre as experiências de pesquisa dos pós-doutorandos e os estudantes dos programas de doutoramento promovidos pelo Ces – em particular o de Pós-colonialismos. Deste modo, pensamos corroborar as premissas colaborativas que norteiam a proposta inovadora do Centro de Estudos Sociais. Também buscamos, com este evento, promover maior integração entre os pós-doutorandos, oferecendo uma oportunidade para que apresentem seus objetos de pesquisa na perspectiva da emancipação social.

O evento, em termos gerais, tem uma estrutura diversificada, de modo a enriquecer as perspectivas de análise que provoca:
1. palestras sobre formas de dominação do capital e perspectivas de emancipação social (Alba Carvalho e Luciane Lucas dos Santos),
2. reflexões temáticas problematizadoras, que são relatos de experiência feitos por doutorandos (que tenham objetos de pesquisa em interação com os temas dos seminários), seguidos de perguntas à mesa
3. interpelação provocativa dos movimentos sociais (convite da cooperativa de consumo Mó da Vida) e
4. mesa com pós-doutorandos.
O seminário também conta com uma conferência de abertura. Acreditamos que, em função do momento e da temática proposta, seria oportuno iniciar o seminário com uma análise do contexto atual a partir de uma leitura marxista.

De fato, é este um Seminário Interno, momento preparatório de outros eventos de maior amplitude e publicização, no âmbito de nossos objetos específicos de investigação, ao longo deste ano de pós-doutoramento. É uma expressão do trabalho de sistematização analítica, a adentrar em questões e desafios no campo do "conhecimento-emancipação", em coerência com a perspectiva do CES, espaço por excelência, de produção do pensamento crítico.

Seminário
Circuitos de Dominação do Capital e o Desafio da (Re)Invenção da Emancipação no Séc XXI

Sala de Seminários do CES (2º Piso) / Conferência de abertura no Auditório da Faculdade de Economia (FEUC)

PROGRAMA

3 de Dezembro
O CAPITAL E SEUS ACTUAIS CIRCUITOS DE DOMINAÇÃO: UMA EXPANSÃO SEM LIMITES

9:30 - 10:00 – Abertura

10:00 - 11.30 – Conferência de abertura (Auditório da Faculdade de Economia - FEUC) (re-agendada para a primeira quinzena de Janeiro de 2009)
DE MARX A GRAMSCI: HEGEMONIA, MEMÓRIA E O REGRESSO DA POLÍTICA
Fernando Rosas Instituto de História Contemporânea – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa
Esta conferência foi adiada

11.30 - 12:15 – Debate

14.30 - 15.20 – Conferência 1
A EXPANSÃO DO CAPITAL E SUAS FORMAS ATUAIS DE DOMÍNIO: SENTIDOS E PERSPECTIVAS DA CRISE
Alba Maria Pinho de Carvalho
Pós-Doutoranda CES
Nas últimas décadas do séc. XX e primeira do séc. XXI, vivemos um novo momento na civilização do capital: a mundialização com dominância financeira. A predatória expansão capitalista avança, parecendo não ter limites: o capital não poupa nada, nem ninguém. Torna redundante a vida de crescente contingente humano, violentando a natureza, pondo em risco a própria vida planetária.Nesta civilização mundializada do capital e sua lógica ilimitada de expansão afirmam-se novas formas de dominação social a assumir dimensões peculiares: são formas de dominação cada vez mais abstratas, impessoais, perversamente sutis, mas objetivamente generalizantes. É um padrão de dominação abstrata que envolve toda a sociedade, impondo-se àsdiferente “personas do capital”. Em verdade, é um metabolismo social que faz sentir seu peso, seu poder, seu domínio como uma força estrutural que se apresenta como alheia aos indivíduos. Tal força metabólica do capital impõe modos de vida, define formas de sociabilidade. Neste contexto mundializado, regido pela lógica da dominação abstrata do capital, difunde-se a instabilidade, a insegurança, como expressões de época.Na atual conjuntura de crise financeira americana que se espraia pelo mundo, expressa-se, com dureza, a insegurança como marca do sistema do capital no século XXI. Nos grandes centros de decisão econômica domina a incerteza, transformada em pânico. O fantasma do colapso revela o seu rosto. A crise americana é a crise no espaço da interpenetração financeira, produtiva, comercial à escala planetária, formando uma trama muito densa e abrangente.A crise aponta para mudanças, (re) colocando o “regresso do Estado” no centro da cena histórica e no foco das análises. Estamos ante uma “nova globalização pós-neoliberal”, no dizer de Boaventura de Sousa Santos (2008). Emergem novos regionalismos. Neste cenário de crises, abalos e redefinições impõe-se, com urgência, o desafio de (re) invenção da emancipação social.

15.20 - 16.10 – Conferência 2
MOVIMENTO DO CAPITAL NA MONOCULTURA DO CONSUMO: UMA PRODUÇÃO CAPITALISTA DO ESPAÇO
Luciane Lucas dos Santos
Pós-Doutoranda CES
O consumo se configura, na sociedade contemporânea, como um importante marcador social. Se neste aspecto reside sua força, aí também se encontra seu ponto maior de crítica, já que a produção simbólica implícita nos atos de consumo fortalece e legitima uma produção capitalista do espaço. Em tempos de obsolescência material e simbólica, vivemos a mais-valia estética do signo. Nada é feito para durar, configurando-se a estética do descartável como dinâmica predominante na sociedade.Uma análise mais detalhada do consumo como fenómeno social nos mostra também que ele funciona como uma espécie de meta-monocultura, produzindo ausências que se naturalizam no discurso cotidiano. Há várias instâncias em que este fenómeno se produz, naturalizando mecanismos de apropriação e violência (tanto material como simbólica): o corpo, a saúde, a produção e uso do espaço. São múltiplas as dimensões em que a lógica do capital atua.Um dos cenários em que esta lógica pode ser percebida com relativa nitidez é o que corresponde à produção e circulação dos alimentos – hoje transformados em ativo financeiro. O par produção – consumo de alimentos constitui um bom exemplo de como, hoje, se produzem, legitimam e naturalizam ausências. Ao mostrar que a fome resulta menos da disponibilidade de alimentos do que de uma divisão desigual do espaço, buscamos evidenciar como o mercado transnacional de alimentos reproduz, neste sentido, um projeto neocolonial do espaço.

16.10 - 16.30 – Intervalo

16.30 - 17.00 – Reflexões temáticas problematizadoras

Da medicalização do corpo à mercantilização da vida
Alice Cruz
Doutoranda CES

O espaço da economia solidária em tempos de mundialização do capital
Vanderson Carneiro - Doutorando CES

17.00 - 17.20 - Interpelação Provocativa da Perspectiva dos Movimentos Sociais
Mamadou Ba
SOS Racismo

17.20 - 19.00 – Debate

4 de Dezembro

O DESAFIO DA (RE)INVENÇÃO DA EMANCIPAÇÃO NO SÉCULO XXI: EXPERIÊNCIAS E PERSPECTIVAS EM PROCESSO

10.00 - 10:50 – Conferência 1

EXPERIÊNCIAS EMANCIPATÓRIAS NA AMÉRICA LATINA: TESSITURAS DE UMA HEGEMONIA
Alba Maria Pinho de Carvalho
Pós-Doutoranda CES

10.50 - 11.40 – Conferência 2
PERSPECTIVAS EMANCIPATORIAS DO CONSUMO: TROCAS SIMBÓLICAS E MATERIAIS NÃO-CAPITALISTAS
Luciane Lucas dos Santos
Pós-Doutoranda CES
Alguns estudiosos têm argumentado que o consumo pode ser uma ferramenta de ação política. Neste sentido, consumidores teriam a oportunidade de exercer pressão sobre o mercado a partir de suas escolhas. Contudo, ao atrelar indivíduos e grupos a uma mais-valia estética do signo, o consumo capitalista suscita mecanismos permanentes de dominação. A questão que se coloca é: pode ser emancipatório? Com base na teoria das cinco ecologias de Boaventura de Sousa Santos, discutimos a possibilidade de uma sexta ecologia – a ecologia do consumo - como alternativa transgressora da lógica de mercado. Buscamos identificar em que medida um outro modo de constituição de sentido pode articular-se em torno de experiências de consumo não-capitalista – a exemplo das cooperativas de consumo, dos clubes de troca e do comércio justo. Tendo como foco de análise o mercado de alimentos, fundamentamos a perspectiva emancipatória do consumo, aqui, a partir de uma relação possível com a soberania alimentar.

11.40 - 11.50 – Intervalo

11.50 - 12.10 – Reflexões Temáticas Problematizadoras

As estratégias de poder das mulheres
Teresa Cunha
Doutoranda CES

12.10 - 12.30 – Debate

14.30 - 14.50 – Reflexões Temáticas Problematizadoras

O simbólico como espaço de emancipação
Karine QueirózDoutoranda CES

14.50 - 15.10 – Interpelação Provocativa da perspectiva dos Movimentos Sociais
Sandra SilvestreAcção para a Justiça e Paz - AJPaz

15.10 - 15.30 – Debate

15.30 - 15.45 – Intervalo

15.45 - 17.30 - Mesa de Debates com Pós-Doutorandos

CAMINHOS DA EMANCIPAÇÃO: PENSANDO ALTERNATIVAS

O Teatro como via de transgressão e narrativa emancipatória
José Simões de Almeida Junior

Escrita, Identidade, Deslocamento Subjectivo
Claudete Moreno Ghiraldelo

A Escrita como Possibilidade de (Re)Invenção Poética de Si
Marilda Ionta

Movimentos Culturais como via de contestação
Luciana Mendonça

A Boémia Literária e as Expressões Alternativas de Contestação da Cultura
Ulisses N. Rafael

17.30 - 18.30 – Debate



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