Recordação do militante operário e anarquista Arnaldo Simões Januário nos 70 anos depois da sua morte no Tarrafal
Ciências Humanas e Sociais

Recordação do militante operário e anarquista Arnaldo Simões Januário nos 70 anos depois da sua morte no Tarrafal



Texto e foto retirados do excelente blogue Almanaque Republicano, a quem devemos um palavra de agradecimento pela contribuição inigualável para o conhecimento da história de Portugal e que aproveitamos para também dar a conhecer aqui.



Arnaldo Simões Januário nasce em Coimbra a 6 de Junho de 1897. Barbeiro de profissão, militante operário e anarquista, morre no Campo da Morte do Tarrafal a 27 de Março de 1938 "vitimado por uma biliose anúrica sem qualquer assistência médica nem medicamentos, depois de vigorosos anos de combatividade e de sofrimento nos cárceres da ditadura e na deportação por diversas vezes" [in Perfil de Arnaldo Januário, revista Vértice, nº365-366, Junho-Julho, 1974]. A sua vida "é uma admirável lição de coragem e generosidade" [in CGT, Órgão Regional, 1947, ibid.].


Arnaldo Januário, de rara inteligência e acção, foi um propagandista e um organizador dos sindicatos e da luta operária, em Coimbra. Militante libertário da "União Anarquista Portuguesa", colaborou no jornal A Batalha, A Comuna, O Anarquismo, O Libertário e na revista Aurora [cf. Luís, Arnaldo Simões Januário]. É preso, pela primeira vez em 1927, na sequência da repressão que se abateu sobre o movimento operário depois do 28 de Maio de 1926. A partir dessa data e até 1931, diversas vezes foi privado da liberdade, passando pelas "cadeias do Governo Civil de Coimbra, Aljube, Trafaria, além de deportações em Angola, Açores e Cabo Verde, até ser internado no Campo de Concentração de Ué-Kussi ou Okussi em 22 de Outubro de 1931" [Vértice, ibid]. Em 1933 é posto em liberdade e regressa á sua cidade, Coimbra.


Não se deixando abater, física e ideologicamente, prossegue a sua campanha em prol do movimento operário e contra a ditadura. Não espanta, portanto, que apareça como um dos organizadores do movimento grevista e insurreccional de 18 de Janeiro de 1934, que na Marinha Grande e em Coimbra teve particular dureza repressiva. É referido [Id., ibid] que perante o "argumento do porrete" do PIDE Fernando Gouveia e seus esbirros, e em que a "maioria [dos grevistas] perdia os sentidos", tal a brutalidade e as torturas que lhes eram feitas, Arnaldo Januário, "num gesto nobre e altivo, declarou perante os seus carrascos que tomava inteira responsabilidade pela organização do Movimento Grevista que tinha por fim derrubar a ditadura". Tal facto determinou que apanhasse "tanta pancada que caiu sem sentidos em frente dos seus companheiros de cárcere, sendo ali, covardemente pisoteado pelos esbirros” [Id., ibid, aliás in Edgar Rodrigues, O Retrato da Ditadura Portuguesa]. É encarcerado no Aljube, depois vai para a Trafaria onde é julgado e condenado a 20 anos de prisão. Em Junho de 1934 é "enviado para o Forte de S. João Baptista, na Ilha Terceira". Aí, acusado de agitador juntamente com o também militante libertário Mário Castelhano, sofreu as piores ignomínias, em especial o ser enclausurado na célebre Paterna ("buraco aberto na rocha com 20 metros de profundidade e área de 5 metros quadrados, o tecto pingando agua dia e noite") durante 15 dias e 15 noites, sob o mando do esbirro Capitão Paz.


A 12 de Junho de 1937 é enviado para o Campo de Concentração do Tarrafal, (fundado pelo Capitão Manuel Martins dos Reis e pelo médico Esmeraldo Pais Pratas) onde "definhavam e morriam um a um homens que anos atrás representavam a elite operária do país, sob o olhar indiferente do director João Silva e de Seixas [agente da PIDE]".


Arnaldo Simões Januário, "lutador incansável que a tudo resistira, destruído física que não ideologicamente, sucumbe, enfim, a 27 de Março de 1938, rodeado dos cuidados possíveis dos seus companheiros mas sem os carinhos da família onde avultavam cinco filhos menores” [Id., Ibid].


J.M.M.





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