Rebelión y Resistencia en el Mundo Hispánico del Siglo XVII
Ciências Humanas e Sociais

Rebelión y Resistencia en el Mundo Hispánico del Siglo XVII



Zilda Márcia Gricoli Iokoi
Departamento de História/USP


THOMAS, Werner - Rebelión y Resistencia en el Mundo Hispánico del Siglo XVII. actas del coloquio Internacional - Lavaina 20/23 de novembre de 1991 - Leuven University Press - 1992.

O texto organizado por Werner Thomas é resultado do encontro promovido em Bruxelas para debater as revoluções européias do século XVII, com objetivo de retomar as comparações entre as rebeliões no mundo hispânico, que ocorreram a partir de 1640 na Europa (Portugal e Cataluña; Nápoles; França e Inglaterra; Holanda) e as insurreições no mundo colonial. Analisando a crise econômica mundial do período, os vários historiadores discutiram as repercussões políticas daquele século de crise. Trataram de debater o limite do conceito de crise geral e de sua incorreção para a análise daquela experiência histórica. Existe consenso entretanto quanto a expressiva contribuição da literatura e das artes no mesmo período e a riqueza da produção cultural permite repensar o conceito - crise geral - dado o valor crítico da produção realizada.

Os participantes do Colóquio destacaram com ênfase que os valores da comunidade local influiam fortemente na vida das populações e em suas manifestações de rebeldia. Estas raramente constituíram-se em insurreições regionais ou mesmo nacionais. Problemas como o da má colheita, a elevação de impostos, os abusos cometidos pelas tropas reais etc, provocavam protestos ou queixas.

Também percebeu-se que esses protestos procuravam reconsquistar uma situação já vivida e não as mudanças radicais na estrutura da sociedade, como ocorreu posteriormente na Revolução Françesa. Portanto foram movimentos conservadores e não progressistas os fenômenos europeus de insurreições, contrariamente àqueles ocorridos no mundo americano.

Luiz Ribot Garcia analisa a revolta política na monarquia dos Austria, no século XVII; Paul Janssens estuda a fonda aristocrática belga, em 1632; Karin Van Honacker destaca o papel de Antuerpia e Louvan no período; Robert Verdonk apresenta as consequências linguísticas das guerras entre Espanha e Reino Unido, procurando demonstrar como os conflitos políticos estão relacionados com a crise mundial da economia daquele século, e os novos elementos lingüísticos criados deste embate.

Johan Verberckmaes destaca a relação entre o Império Habsburgo e os camponeses frente a problemática da lei de terras, problema fundamental na relação entre o poder do império e os localismos, a hegemonia da Europa na constituição do mercado mundial e na busca de mecanismos eficazes de controle colonial.

Outro aspecto importante no debate que se processou no encontro de Bruxelas, foi o papel da luta pela restauração do poder que em Portugal se empreendeu naquele período. Antonio de Oliveira analisa o sentido do poder e da oposição no tempo da União Ibérica; Rafael Valladares Ramirez estuda a guerra empreendida pelos Portugueses contra a monarquia católica; Alberto Vieira apresenta a situação das Ilhas Madeira e Canárias frente a Restauração de 1640.

Além disso é possível encontrar ainda, neste volume, os artigos de Miguel Avilés sobre a sublevação em Madrid de 1676; o texto de Ricardo Garcia Carcel sobre a revolução na Catalunha e inumeros textos sobre as insurreições populares na Espanha e Itália.

A última parte refere-se às insubordinações na América. Vera Lúcia Ferlini estuda a invasão Holandesa em Pernambuco, demonstrando-a como um esforço dos colonos portugueses em resistir ao jugo Espanhol; Anthony McFarlane destaca as insurreições populares no México e Perú, como elementos mais amplos de um processo de questionamento político da própria estrutura colonial.

Gonçal López Nadal em sua análise, articula a atividade dos corsários Mallorquinos, às revoltas na Espanha, apontando as interelações existentes entre os interesses dos grupos mercantis, as atividades econômicas coloniais e a oposição paulatina que se constituiu contra a monarquia católica.

Finalmente, Luc Derloo destaca o papel de Juan Caramuel da ordem de Cistercia, de Valladolid, na defesa da monarquia Espanhola.

Rebelión y Resistencia é portanto uma obra que destaca o amplo movimento do século XVII na preparação das condições históricas fundamentais para a crise do antigo regime e que coloca, lado a lado, o trabalho de historiadores de diferentes concepções históricas permitindo um belo debate intelectual.

Revista de História - USP



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