O que diferencia Einstein, Mozart e Michael Jordan de tantos que, na mesma época, desenvolviam teorias científicas, compunham ou jogavam basquete? Novo livro de David Shenk foge do determinismo genético para debater a questão. (fotos: Wikimedia Commons)
?Tudo o que você ouviu falar sobre genética, talento e QI está errado.? É assim, logo na capa de seu novo livro, que o jornalista David Shenk começa a provocar o leitor. O gênio em todos nós é, aliás, provocativo do começo ao fim. Seu objetivo maior é mostrar ao mundo que nem tudo está escrito nos genes e que nosso DNA não é capaz de determinar nosso futuro profissional ou intelectual.
O autor argumenta que Einstein, Mozart, Michael Jordan e outras personalidades não se destacaram na ciência, na música e no esporte por um acaso genético. Em vez disso, a forma como foram treinados, a dedicação com que trabalharam e o contexto em que viveram fez toda a diferença.
Explicar como isso acontece, porém, não é tarefa fácil, como admite o próprio autor. ?Ajudar o público a entender a interação gene-ambiente é uma tarefa especialmente árdua, pois é de uma complexidade monstruosa?, escreve.
Motivado por esse desafio, Shenk compila uma série de pesquisas e informações históricas que ajudam a sustentar sua hipótese. Cada capítulo do livro é recheado de exemplos reais, nomes de cientistas e seus trabalhos.
Na primeira parte, o foco é desmistificar a inteligência e outras capacidades especiais, como o dom. Começando por explicar o funcionamento dos genes, o autor procura mostrar como o ambiente interfere no desenvolvimento da personalidade, do comportamento e da saúde, além de introduzir o conceito de ?desenvolvimento dinâmico? para substituir o binômio inato + adquirido. Ele argumenta que a inteligência deve ser vista como processo e que, portanto, pode ser aprimorada ao longo da vida.
Shenk conclui que os talentos não são dons inatos, mas resultados do desenvolvimento pessoal desde o momento da concepção. Embora admita que nem todos nasçam com o mesmo potencial para certas atividades, o autor afirma que ?ninguém é geneticamente destinado à grandeza? e que ?poucos são biologicamente incapazes de alcançá-la?.
A combinação entre DNA e ambiente é que faz um verdadeiro talentoPara concluir a argumentação, procura explicar como as diferenças entre gêmeos idênticos, os exemplos de crianças prodígio, os talentos tardios e as aglomerações de talentos em determinados grupos étnicos podem corroborar a ideia de que, mais do que simplesmente o código genético, a combinação entre DNA e ambiente é que faz um verdadeiro talento.
Sangue e suor
Shenk defende que a genialidade é fruto do contexto sociocultural e de trabalho árduo. (foto: Ove Tøpfer/ Scx.hu)
Já a segunda parte do livro tem um propósito, digamos, mais prático: sabendo que não somos fadados geneticamente ao fracasso ou ao sucesso, como explorar ao máximo nosso potencial e alcançar a grandeza dos gênios?
Apesar dos títulos que lembram livros de auto-ajuda (por exemplo, 'Como ser um gênio' ou 'Como arruinar (ou inspirar) uma criança'), o autor garante: ?este, na verdade, não é um livro sobre a genialidade no sentido convencional do termo. Ele não é um manual que lhe diz como você também pode ser igualzinho a William Shakespeare?.
A genialidade chega apenas para aqueles que a perseguemOs capítulos seguem, então, oferecendo exemplos históricos que provam que a genialidade chega apenas para aqueles que a perseguem. A diferença entre cada um de nós e grandes gênios como Da Vinci, Dante e Beethoven não reside no fato de que eles seriam grandes e nós, comuns por natureza, mas na forma como foram moldados para se tornarem gênios.
Um alívio para alguns, certamente ? e a perspectiva de muito trabalho pela frente para outros.
O gênio em todos nós
David Shenk
Rio de Janeiro, 2011, Editora Zahar
358 páginas
Revista Ciência Hoje