Todos eles foram acompanhados por comitivas próprias, sendo que com João XXIII viajavam nada mais nada menos que 600 pessoas. Além destes, foram a Constança advogados, secretários, magistrados, padres e – segundo a lenda – três mil prostitutas.
Todos permaneceram na cidade durante os quatro anos de duração do concílio: um número exorbitante de pessoas, considerando-se a população de Constança, que contava com apenas oito mil habitantes. O custo de vida subiu vertiginosamente na cidade, como cantava o trovador alemão Oswald von Wolkenstein: "Quando penso no lago de Constança, logo me dói o bolso."
Os participantes do concílio vinham de toda a Europa: Itália, Polônia, Inglaterra, França, Espanha, Tchecoslováquia, Hungria, Escócia, Irlanda, Armênia e muitos outros países. Embora os clérigos se comunicassem principalmente em latim, foram instalados doze confessionários na cidade, sobre os quais podia-se ler as línguas faladas pelo respectivo confessor.
O concílio, reunido no mosteiro da cidade e o único realizado no actual território alemão, pretendia consolidar uma reforma da Igreja, encerrar o chamado cisma do Ocidente e encontrar uma solução para diversas questões religiosas.
Por isso, foi também convidado Jan Hus, crítico reformista, professor e reitor da Universidade de Praga, que deveria participar no concílio, munido de um salvo-conduto assinado pelo rei Sigismundo.
Confiante na promessa de proteção, Hus viajou a Constança, onde foi preso apenas três semanas e meia após sua chegada, sob acusação de ter celebrado missas e feito pregações, ignorando a proibição da Igreja. Hus foi encarcerado e, no dia 6 de julho de 1415, condenado à morte por heresia. Sob os olhos do rei Sigismundo, os bispos presentes amaldiçoaram-no e arrancaram das vestes sacerdotais as insígnias da sua ordem.
Hus foi levado por mil homens armados a um bairro nas cercanias de Constança, onde foi queimado vivo numa fogueira. O mesmo destino amargou, um ano depois, Jerónimo de Praga, que havia ido para Constança em 1415 para dar o seu apoio à doutrina de Hus.
As questões religiosas eram solucionadas, a princípio, de maneira rigorosa, mas a Igreja continuava a ter a "questão do Papa" para resolver. Em 1414, por ocasião do início do concílio, existiam três papas rivais: em Roma, Gregório XII; em Pisa, o antipapa João XXIII e, em Avignon, o antipapa Bento XIII.
João XXIII que, juntamente com o rei Sigismundo, havia convocado o concílio, fugiu em Março de 1415 para Schaffhausen, "fantasiado, montando um pequeno potro".
O concílio esteve à beira do fracasso. O rei Sigismundo salvou a situação, no entanto, ao cavalgar pela cidade ao lado do duque Ludovico, como descreveu o cronista Ulrich von Richental: "Sigismundo foi aos cambistas, merceeiros e comerciantes, a todos os cardeais e senhores feudais, divulgando a notícia e pedindo para que ninguém abandonasse a cidade".
O antipapa João XXIII foi detido dois meses depois e destituído. Em Julho de 1415, Gregório XII renunciou e, em Julho de 1417, Bento XIII foi destituído. Quatro meses mais tarde, foi eleito um novo papa na grande praça de mercado do porto de Constança.
A eleição devolveu ao cristianismo ocidental um pontífice legítimo: Otto de Colonna, que adotou o nome Martinho V. A escolha foi aplaudida pela multidão: segundo a descrição de Richental, havia 80 mil pessoas na sua nomeação.
Além dos conventos, que puderam trocar informações durante o concílio, a economia de Constança também lucrou com a presença de tantos visitantes na cidade. Talvez por isso não tenha sido dada maior importância ao fato de o rei Sigismundo ter saído sem pagar grande parte das suas contas, depois de passar quatro anos alojado na cidade, comendo e bebendo, em companhia da rainha Bárbara e de toda a sua comitiva…