O dogma da infalibilidade do Papa e as manipulações que foram feitas para ser aprovado
Ciências Humanas e Sociais

O dogma da infalibilidade do Papa e as manipulações que foram feitas para ser aprovado




O concílio da infalibilidade do Papa foi manipulado para consagrar o absolutismo papal.

O Concílio Ecuménico Vaticano I, o concílio que consagrou a infalibilidade do Papa, não foi verdadeiramente livre. Pior: foi manipulado. Esta é a conclusão que chega o historiador e investigador suíço, padre Augustin B. Hasler num seu livro que já correu mundo.

Anunciado põe Pio IX, em Junho de 1867, e convocado solenemente pela bula «Aeternis Patris», de 29 de Junho de 1868, o Concílio abriu solenemente em 8 de Dezembro do ano seguinte. De acordo com a bula convocatória, o Concílio destinava-se a analisar «os males da sociedade contemporânea», mas não havia qualquer referência ao problema da infalibilidade.
De qualquer modo, a questão andava na mente de todos nos anos que precederam a realização do Concílio e se os mais conservadores esperavam a confirmação do «Syllabus» ( 4 de Dezembro de 1864) e a proclamação da infalibilidade papal em sentido teocrático, os liberais defendiam a inoportunidade desta definição e tinham esperança na aceitação das ideias modernas, concretizada numa reforma do Direito Canónico e numa ampla descentralização eclesiástica.
Seja como for, a constituição «Pastor Aeternus», com todos os seus complexos problemas relativos ao primado romano e à infalibilidade do seu magistério, só veio a ser aprovada e proclamada na quarta sessão solene do Concílio, exactamente na véspera do conflito entre a França e a Prússia. O Concílio, por sua vez, havia de ser suspenso pela bula «Posquam Dei Munere», de 20 de Outubro de 1870, no dia em que Vítor Manuel tomou a cidade de Roma.

Um Papa castigador

Não é segredo para ninguém que alguns padres conciliares ( a maioria, evidentemente, liderada por Mons. Dupanloup, bispo de Orleães) se manifestaram, desde sempre, numa linha anto-infalibilista. A pergunta que hoje se põe é no sentido de saber se todos os que votaram a favor do dogma da infalibilidade o fizeram de acordo com a sua consciência e em liberdade.
As investigações feitas pelo padre Hasler levam a concluir que o Concílio foi manipulado.
O que se passou com o patriarca grego melquita de Antioquia, Gregório II, anti-infalibilista, por exemplo, é sintomático. Durante uma audiência papal, quando se inclinava para beijar o sapato de Pio IX, o Papa, inesperadamente, colocou-lhe um pé na cabeça e disse, com uma certa energia: «Gregório, cabeça dura; Gregório, cabeça dura!».
Também o cardeal Gustav A. Hohenlohe-Schillingsfuerst se viu em situação semelhante. Durante uma audiência, Pio IX não hesitou e, quando se aproximou dele, puxou-lhe a orelha e interrogou-o: «Porque não amas o Papa que é tão teu amigo?»
O historiador e investigador, padre Augustin B. Hasler, estudou na Suiça, na Alemanha e em Roma, sendo chamado depois para dirigir uma secção no Secretariado para a União dos Cristãos. Foi esta experiência no Vaticano que permitiu consultar muitos arquivos e documentos, levar a cabo a pesquisa sobre o processo que levou à definição e consagração do dogma da infalibilidade papal, em Maio-Julho de 1870. A provas que fornece levam a conclusão que os membros conciliares não agiram livremente.
Mas quem era Pio IX? Tratava-se de um homem culturalmente simples e não muito preparado do ponto de vista teológico. Para além disso, estava velho ( tinha 78 anos), o que levava uns a dizer que «era um velho transformado em menino», enquanto outros o viam como um velho convencido de que era um «iluminado», obcecado pela ideia de que Deus o iluminava e o guiava.
Segundo certos testemunhos Pio IX voltara a ter sintomas de epilepsia que o atormentara entre os 17 e 29 anos.
Intransigente na sua posição, Pio IX defendia em absoluto o dogma da infalibilidade e, não hesitou nos meios para impor a sua vontade. A constituição sobre a dogma do primado e da infalibilidade papal foi votada em 13 de Julho de 1870 na congregação e, em 18 do mesmo mês, na sessão solene. Na primeira tinham-se registado 451 votos a favor, 88 contra e 62 «com reserva», mas já na sessão solene dos 535 votantes, os votos a favor foram 535 !
A infalibilidade do papa estava decidida e a Igreja Católica transformava-se numa monarquia absolutista e… infalível.
De acordo com o dogma eclesial o Papa é infalível, mas nem por isso as suas decisões são contestadas e discutíveis mesmo no seio do catolicismo…

(texto escrito com base num artigo publicado no «O Jornal» de 3de Fevereiro de 1978)



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