Ciências Humanas e Sociais
História e Memória- Jacques Lê Goff
Na obra História e Memória de Jacques Lê Goff, o autor nos mostra o conceito de memória que segundo ele é “crucial para a história da humanidade”. Memória esta que passou por diferentes papéis no decorrer da história, como vemos nas sociedades de memória oral (ágrafa). Nelas, a memória coletiva tem nítida a origem dos clãs ou famílias e nos mitos de origem.
Há pessoas especializadas no ofício de transmitir e guardar essas tradições, são eles: “[...] genealogista, guardiões dos códices reais, historiadores da corte, tradicionalistas”. (p. 425). Estes “guardiões da memória” são essenciais também para transmitir o saber técnico (os segredos do ofício).
Com o surgimento da escrita, a memória torna-se física e desta forma permite a preservação da memória comemorativa além de usá-la como propaganda. Esta, por sua vez, influencia a memória coletiva. Como por exemplo, os chefes políticos que tornam-se donos da memória coletiva, já que usam artefatos, como as estelar, para justificar suas atitudes como um rei.
A manipulação da memória coletiva é feita de várias formas, ignorando os fatos negativos, que não são do interesse do governo, e exaltando grandes feitos, como conquistas militares. Os meios utilizados são pinturas, monumentos, nomes de ruas, de praças. Um exemplo dessa manipulação é o quadro de Pedro Américo, sobre a Independência Brasileira. Nele, há uma mitificação do fato ocorrido, distanciando da realidade e exaltando o grupo que chega ao poder.
O autor também descreve as sociedades quentes e frias. As sociedades frias são sociedades sem ruptura, atemporais e enxergam o mundo sincrônica e diacronicamente ao mesmo tempo. O rito nessas sociedades é essencial para que seus costumes sejam perpetuados.
Ao contrário das sociedades frias, nas sociedades quentes há uma ruptura que muitas vezes carrega um caráter ideológico. Prova disso, foi uma entrevista que Zizek mostrou uma concepção diferente do outro autor citado por ele, Fukuyama , esse coloca o comunismo “no lixo histórico”, propondo uma ruptura temporal com o fim da União Soviética e solidificando a vitória capitalista. Zizek vai de encontro a esse pensamento, uma vez que não coloca o comunismo no passado e sim no “presente histórico” pois, alguns valores dessa ideologia podem ser úteis para a sociedade.
Como vemos, a ideologia vencedora não traz as qualidades da ideologia derrotada e, desta forma, não existe neutralidade. Por isso, a periodização é uma questão muito debatida e não de hoje já que, desde a Antiguidade clássica os filósofos se preocupavam com a manipulação da memória escrita, como no seguinte trecho:
“(...)Platão, no Fredo (274c-275b), coloca na boca de Sócrates a lenda do deus egípcio Thot, patrono dos escribas e dos funcionários letrados, inventor dos números, do cálculo, da geometria e da astronomia, do jogo de dados e do alfabeto. E sublinha que, fazendo isso, o deus transformou a memória, mas construiu, sem dúvida, mais para enfraquece-la do que para desenvolve-la: o alfabeto "engendrará esquecimento nas almas de quem o aprender: estas cessarão de exercitar a memória porque, confiando no que está escrito, chamarão as coisas à mente não já do seu próprio interior, mas do exterior, através de sinais estranhos. Tudo aquilo que encontraste não é uma receita para a memória, mas para trazer as coisas à mente" (ibidem, 275a). (p.433)
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