"Guia Politicamente Incorreto da América Latina", uma inovação ou um atraso?
Ciências Humanas e Sociais

"Guia Politicamente Incorreto da América Latina", uma inovação ou um atraso?


A História vem se popularizando, isso porque jornalistas tem escrito cada vez mais livros de história com uma linguagem mais acessível, uma diagramação fácil de ler e temas interessantes. Isso faz com que a atenção das pessoas que querem conhecer um pouco mais sobre a história seja despertada. Prova disso é o best-seller “1808” do jornalista Laurentino Gomes, que graças a esse livro ganhou muitos prêmios como por exemplo o de melhor livro de ensaio da Academia Brasileira de Letras e o prêmio Jabuti de Literatura.

Além de Gomes, outros jornalistas como Leandro Narloch e Duda Teixeira escreveram conjuntamente o livro “Guia Politicamente Incorreto da América Latina”. Nele, os autores tentam “derrubar do pedestal o que chamam de “falsos heróis latino-americanos”, no entanto segundo a professora e historiadora brasileira, especializada em História da América Latina Maria Ligia Coelho Prado “os autores apresentam no Guia uma visão desdenhosa sobre a História da América Latina”. Para Prado, essa desqualificação só pode ser entendida pelo desconhecimento do assunto. Para comprovar essa afirmação a historiadora analisa intersubjetivamente a obra dos jornalistas.

Nesta análise Prado nos mostra a problemática das fontes bibliográficas utilizadas pelos autores. Segundo a historiadora os autores cometeram um grande erro no capítulo sobre Salvador Allende, isso porque eles retiraram informações do livro do chileno Victor Farias que constava que Allende era racista e anti-semita, no entanto, segundo a Fundação Presidente Allende, da Espanha a tese original de Allende não era essa pois o político estava apenas reproduzindo frases de Lombroso. Outro erro cometido pelos jornalistas é a questão deles utilizarem a “voz de autoridade” de um historiador consagrado, como é o caso de Friedrich Katz, apenas para dar “credibilidade aos argumentos do Guia”. Para isso utilizam apenas dados específicos mudando completamente o sentido que Katz atribuí à Pancho Villa, já que o renomado historiador analisa a trajetória pessoal e política de Villa integrada ao contexto social do México.

Essa falta de explicação por parte desses jornalistas vem “de encontro” com o que o historiador francês Jacques Le Goff escreveu in História e Memória já que, segundo ele: “A história deve esclarecer a memória e ajudá-la a reficar os seus erros”. (p. 29), assim ela não pode apenas atribuir valores como é o caso de Narloch e Teixeira , pois desta forma a história se torna subjetiva. Como Le Goff salienta não existe nenhuma obra objetiva por completo, mas com boas fontes o pesquisador pode tentar se aproximar ao máximo da objetividade histórica que se constoí pouco a pouco: “através de revisões incessantes do trabalho histórico” (p. 33).

Além dessa questão, Le Goff nos mostra que quando um historiador quer realizar uma critica ele deve: “basear-se, pelo menos em parte, em critérios “científicos”” (p. 31) e, como já citado Narloch e Teixeira passaram longe de critérios científicos. Vemos a diferença entre a crítica realizada pelos jornalistas em sua obra “Guia Politicamente Incorreto da América Latina” e a crítica que a historiadora Prado realizou à esses autores. A crítica de Prado realiza esta apoiada em critérios científicos já que ela deseja se aproximar cientificamente da “verdade”, diferentemente dos autores ela explica o porque está errado e não apenas reproduz alguma afirmação retindo-o do seu contexto inicial. Vemos que a historiadora não procura apenas a imparcialidade, mas sim a objetividade historica.

Desta forma, acredito que essa crítica de Prado não é uma “richa” contra os jornalistas que tem escrito sobre história, mas ela está apenas exercendo um dos deferes dos historiadores que é a busca insensante de fontes. Acredito que a popularização da História é algo positivo, já que rompe as barreiras deixadas por muitos historiadores que acreditam que a história deve ser lida apenas por pessoas da academia. No entanto, tenho consciência de que a história pode servir como um meio de controle, de manipulação por isso os escritores devem ter responsabilidade e severidade na hora de publicarem sua obra e não pensarem apenas em vender exemplares.



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