Ciências Humanas e Sociais
É possível combater o aquecimento global: novos estilos de vida podem melhorar clima
Alterações nos comportamentos do dia-a-dia podem contribuir para combater o aquecimento global: comer menos carne (por exemplo, segundo os cálculos efectuados, um quilo de bife corresponde a 3,7 quilos de CO2
Pequenas alterações nas rotinas diárias de cada pessoa, como o uso de transportes públicos, podem corresponder a uma diminuição significativa do fenómeno climático do aquecimento global. Pelo menos, é isso o que afirmam o grupo intergovernamental de especialistas da evolução do clima (GIEC) que esteve reunido esta semana em Banguecoque.
Das medidas aconselhadas no relatório fazem parte o recurso aos transportes públicos, em detrimento de carro próprio, a regulação adequada da temperatura nos ecritórios ou nas casas climatizadas e até a redução do consumo de carne. «Se as pessoas comessem menos carne, não só estavam a contribuior para uma alimentação mais saudável, como para a redução de emissões geradas pela criação bovina», refere o presidente da GIEC, Rajendra Pachauri.
Os presentes concluíram, de resto, pela necessidade de se introduzirem mudanças significativas no actual padrão de vida da população dos países ditos desenvolvidos de forma a que o estilo de vida não seja prejudicial para o meio ambiente
Controlar emissões de dióxido de carbono custaria 0,12 por cento do crescimento económico anual
Combater as alterações climáticas é urgente, possível e relativamente barato. É esta a principal conclusão de mais um relatório da ONU sobre o problema do aquecimento global, divulgado ontem em Banguecoque.
É o último volume de uma trilogia de relatórios concluída este ano pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), criado em 1988 e que a cada cinco ou seis anos passa a pente fino tudo o que se sabe sobre o tema.O novo relatório conclui que as emissões de gases que estão a aquecer o planeta - como o dióxido de carbono - subiram 70 por cento entre 1970 e 2004. E poderão aumentar mais 25 a 90 por cento até 2030, se nada for feito.
Não faltam opções para inverter este quadro. O relatório diz que "existe um significativo potencial para mitigar as emissões de gases com efeito de estufa nas próximas décadas, compensando o crescimento projectado das emissões globais ou reduzindo-as abaixo dos níveis actuais".
A acção tem de ser imediata, diz o IPCC. Para limitar a 2,0 graus Celsius o aumento da temperatura global até 2100 - valor usualmente defendido como tolerável -, as emissões só podem continuar a subir até 2015. Depois, têm de começar a descer. Em 2050, terão de ser 50 a 85 por cento menores do que em 2000.
São números gordos, mas, na avaliação do IPCC, a factura não é muito elevada. Seria preciso abdicar de 0,12 por cento do crescimento anual da economia global. O PIB mundial cresceria três por cento a menos até 2030 e 5,5 por cento a menos até 2050."É um prémio baixo a pagar para reduzir o risco de grandes prejuízos pelo clima", disse Bill Hare, assessor da organização ambientalista Greenpeace, citado pela Reuters. "Podemos limitar e reduzir as nossas emissões de dióxido de carbono sem destruir a economia mundial", comentou Yvo de Boer, secretário-geral da Convenção Quadro para as Alterações Climáticas, da ONU.
O relatório do IPCC faz um balanço das opções para a redução de emissões. Mas um caminho claro está dependente de negociações que definam qual o esforço que deve ser feito e por quem. Os Estados Unidos, o maior poluidor do planeta, recusam-se a aceitar limites para as suas emissões e estão a apostar forte no desenvolvimento de tecnologias limpas.
"É ingénuo acreditar que o mero desenvolvimento de tecnologias em laboratórios será a solução. A não ser que haja um pacote de políticas, que haja forças de mercado, neste caso representadas pelo preço do carbono", disse porém o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, numa conferência de imprensa em Banguecoque.
Do rol de alternativas apontadas pelo IPCC consta a energia nuclear. "Mas a segurança, a proliferação de armas e os resíduos permanecem como obstáculos", diz o relatório.
Desafios e oportunidades identificados no relatório
Transportes
Sózinhos, os instrumentos de mercado, incluindo o preço dos combustíveis, não terão grande influência na redução de emissões. Também o efeito positivo dos veículos mais eficientes esbarra nas preferências dos consumidores por carros maiores e mais potentes. Utilização de transportes de massa é a aposta mais certa. Na calha está a segunda geração de biocombustíveis, aviões mais eficientes e melhores carros eléctricos e híbridos.
Edifícios
Cerca de 30 por cento das emissões associadas aos edifícios podem ser evitadas até 2030, sem custos, pelo contrário, com poupanças para o cidadão. Há tecnologias disponíveis no mundo todo: lâmpadas de baixo consumo, electrodomésticos mais eficientes, painéis solares, melhores materiais de construção. Espera-se também uma disseminação maior de edifícios inteligentes e da geração doméstica de electricidade.
Indústria
Existem muitas opções disponíveis para reduzir as emissões das indústrias que consomem muita energia. Mas elas não estão a ser utilizadas tanto quanto poderiam. Reduções significativas podem ser obtidas pela reconversão das unidades mais antigas. Para as próximas décadas, aposta-se no armazenamento subterrâneo do dióxido de carbono das fábricas, além de mais avanços na eficiência energética.
Florestas
É possível reduzir emissões nas florestas e aumentar a sua capacidade de absorver CO2. Cerca de 65 por cento do potencial está nos trópicos, metade do qual reduzindo a desflorestação. Até 2030, conta-se com o desenvolvimento de espécies mais produtivas de árvores e também com melhores sistemas de monitorização das alterações de uso do solo e do carbono retido nos sistemas florestais.
Energia
Difusão ampla de tecnologias mais limpas pode levar décadas. Reduzir a procura, através de mais eficiência energética, é mais barato e eficaz. Renováveis podem chegar a 30-35 por cento da electricidade consumida. Nuclear pode ajudar, mas há restrições quanto à segurança, proliferação de armas e resíduos. Tecnologias em estudo incluem armazenamento subterrâneo do dióxido de carbono produzido em centrais térmicas.
Fonte: JN e Público
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