Considerações do Ancião Epifânio sobre psiquiatria
Ciências Humanas e Sociais

Considerações do Ancião Epifânio sobre psiquiatria



O Ancião Epifânio Theodoropoulos responde as perguntas de um fiel ortodoxo sobre psiquiatria.

* * *

Dizem que alguns psiquiatras consideram a abstinência durante a juventude como sendo uma das causas das doenças psiquiátricas. É verdade?

Não, eles estão errados, e a explicação é muito simplpes. Todas as pessoas que vão a um psiquiatra estão doentes. Ninguém que esteja são vai ao médico, assim, sem motivo. Portanto, pelo fato de alguns pacientes não terem relações, eles chegam à conclusão, baseando-se em teorias freudianas, que a causa dos distúrbios neuropsíquicos é a continência. Conheço dúzias de jovens que não têm relações e estão muito bem de saúde psíquica.

O que o senhor acha da psicanálise?

A psicanálise começou com Freud, que dizia que os distúrbios da alma são fruto da repressão dos impulsos sexuais, do instinto genético do homem. Segundo a psicanálise, se fizermos as perguntas certas em um ambiente de hipnose, ajudaríamos o paciente a extrair de seu subconsciente as antigas experiências traumáticas da alma, descobrindo, assim, a causa dessa culpa, a qual, segundo os psicanalistas, claro, está relacionada com a frustração dos impulsos sexuais.

Porém, nossa época -- uma época infeliz e totalmente licenciosa -- provou inúmeras vezes que Freud estava errado, pois, se sua teoria fosse verdadeira, as doenças psiquiátricas teriam diminuído em muito, já que diminui-se a repressão aos instintos sexuais e aumentou-se a liberdade e a satisfação sexual. Mas o que se verificou é justamente o contrário: segundo informações recentes, o número de doenças psiquiátricas só tem aumentado nos últimos anos!

Quer dizer que o senhor jamis recomendaria que alguém se tratasse com psicanalistas?

É uma perda de tempo e de dinheiro, meu filho! A medicina clássica só implementa teorias que demonstram resultados terapêuticos, sem contradições; ela não faria uso da psicanálise como método terapêutico porque até hoje a psicanálise não foi capaz de fornecer dados que comprovem seu valor terapêutico.

Os cristãos podem tomar remédios psiquiátricos? Muitas pessoas dizem que a ansiedade, a depressão, a melancolia -- os distúrbios psiquiátricos em geral -- só podem ser curados com a vida espiritual, isto é, com oração, frequentando a igreja, confissão, santa comunhão etc.

Quando necessário, os cristãos também devem tomá-los.

Mas o que esses remédios podem fazer pela alma humana?

Para começar, os chamados tranquilizantes ou remédios psiquiátricos -- todas essas substâncias materiais -- jamais darão à alma humana a verdadeira calma que ela quer e precisa. Eles jamais darão consolo e esperança à alma de uma mãe cuja filho morreu, nem de livrar a consciência de um homem da culpa dos pecados que cometeu. Este dons vêm somente "do Alto, do Pai das luzes". E somente os sacerdotes (os padres, sobretudo os pais espirituais) da Igreja são capazes de curar estas coisas.

Então por que o senhor acha que os remédios psiquiátricos possam ser necessários?

Escute, meu filho, a ansiedade e a depressão nem sempre são causadas somente pelos fatores que mencionei agora, ou por falência financeira ou por repressão de personalidade ou por perda de auto-estima etc. Há também os fatores que se originam no sistema nervoso humano (no cérebro); em outras palavras, originam-se dos distúrbios das funções superiores do cérebro, tais como as emoções, o pensamento, a vontade etc. Estes tipos de ansiedades, depressões etc. podem ser aliviados ou até mesmo curados com remédios psiquiátricos, os quais agem nas funções cerebrais para trazer-lhes de volta ao seu ritmo normal.

Muitos cristãos concentram-se na parte imaterial do homem, isto é, na alma, atribuindo somente a ela as manifestações de ansiedade, melancolia etc. Eles acabam rejeitando os remédios, pensando que o material é incapaz de afetar o imaterial. Eles se esquecem, porém, que o homem também tem um corpo. O cérebro, que é por onde o alma se expressa, é um instrumento do corpo, um instrumento também material, e que também pode ter seus distúrbios tratados materialmente.

O que o senhor quer dizer com "a alma se expressa através do cérebro"?

Uma analogia que podemos usar para descrever a relação da alma com o cérebro é a do violino com o violinista. Assim como o melhor dos músicos não conseguirá extrair boa música de um violino quebrado ou desafinado, o comportamento humano não será perfeito (ver 2 Tim 3:17) se o cérebro apresentar algum distúrbio. A alma não conseguirá se expressar corretamente. É justamente este distúrbio do cérebro que alguns remédios ajudam a corrigir, ajudando a alma a se expressar corretamente.

Deixe-me perguntar outra coisa para o senhor. A vida sacramental intensa ou as orações fervorosas podem curar estes distúrbios do cérebro?

É claro que sim. Deus pode fazer um milagre nesses casos. Mas a pergunta que você me fez no começo foi outra. Você me perguntou se podemos usar os remédios psiquiátricos. E a resposta é, sem dúvida, que sim!

No entanto, eu lhe pergunto: por que você não fez a mesma pergunta quanto à asma, por exemplo, ou ao eczema ou dor de cabeça ou glaucoma ou úlcera intestinal etc.? Perceba que ansiedade, melancolia etc. não se originam apenas de distúrbios da alma, mas também podem se originar de distúrbios do cérebro ou de uma combinação das duas coisas. No final das contas, o apoio psicológico também é necessário -- ou seja, a ajuda desinteressada para solucionar problemas, com discernimento, de maneira que os pacientes não sintam repulsa pela manifestação de nosso amor, pelo exame de um psiquiatra culto e piedoso, para que eles também os iluminem quanto à natureza dos distúrbios, quanto à invocação de ajuda divina, quanto à frequência aos sacramentos da Igreja etc. --, além da terapia com remédios.

Muitos cristãos acham que as doenças psiquiátricas são de fundo demoníaco e por isso eles rejeitam o uso de remédios psiquiátricos. O que o senhor acha disso?

Somente uma pequena porcentagem dos "doentes psiquiátricos" está realmente possuída. A maioria dos pacientes, porém, não está possuída, nem as manifestações de suas doenças psiquiátricas são fruto de influência demoníaca.

Em quais situações podemos dizer que há possessão de fato?

A Igreja diagnostica a possessão a partir da posição que o fiel assume perante os santos sacramentos (comunhão, confissão etc.) ou perante o Evangelho, a Santa Cruz, as santas relíquias, os santos ícones -- perante as coisas santas em geral.

O Pe. X me disse que em São Gerássimo de Kefallonia eles costumavam colocar a Sagrada Escritura ou um ícone sobre as costas de uma pessoa possuída, ou seja, sem que ela pudesse ver, de maneira que se excluíssem quaisquer possibilidades de sugestão. Então, a pessoa começava a tremer, o que não acontecia quando se lhe colocavam outros objetos ou outros livros.

Há casos de psicose entre os santos?

Sem dúvida. De cabeça, lembro-me do caso de Santa Olímpia, a Diaconisa. Após o exílio de São João Crisóstomo, que era seu pai espiritual, ela passou por profunda depressão. São João a consolava com suas cartas, lembrando-lhe das recompensas divinas que aguardavam aqueles que eram perseguidos em nome do Senhor.

Os epiléticos tem um demônio neles?

Nem todos. Em muitos casos, o cérebro é que está doente, e o resultado disso são as crises epiléticas, surdez etc. São manifestações semelhantes às manifestações das pessoas possuídas, conforme vemos nos Evangelhos.

Por que o Senhor operou tantos milagres com os possuídos?

Para que a superioridade dos poderes do Senhor sobre os demônios se manifestasse e para que as pessoas acreditassem nEle. Estes milagres pareciam muitos porque é provável que Deus tenha permitido que o diabo incomodasse mais as pessoas daquela época. Mas também é possível que o número de pessoas possuídas tenha sido o mesmo em todas as épocas.

Fonte: Counsels For Life: From the Life and Teachings of Father Epiphanios Theodoropoulos, p. 200-205.



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