Nos EUA, na Inglaterra e na Europa em geral, graças à anterior super-exploração colonial dos trabalhadores da América Latina, África e Ásia, conseguiam-se sustentar uma série de vantagens para boa parte da sua classe trabalhadora. Isto fazia com que largas camadas dos trabalhadores desses países se adaptassem ao sistema capitalista e dessem sustentação aos partidos reformistas, trabalhistas ou social-democratas, aliados dos patrões.
Basta observar alguns factos recentes que mostram o rumo desesperado que toma conta da classe trabalhadora à escala mundial. Nos EUA, na economia mais rica do planeta, de 2008 para cá, desapareceram nada menos que 8 milhões de empregos. A chamada breve "recuperação”que foi anunciada como se a crise já houvesse passado, conseguiu criar apenas 500 mil empregos. E antes que o falso optimismo conseguisse crescer e convencer alguém, já se manifestaram as consequências europeias da crise norte-americana que parecem mais devastadoras ainda.
Se no caso norte-americano assistimos à falência apenas de uma série de bancos, na verdade, diversos Estados dos EUA possuem dívidas que já são consideradas gravíssimas, não tendo tomado maiores dimensões graças ao apoio provisório do governo Federal que não permite a decretação de falências estatais. Mas, diversos Estados e cidades norte-americanas assistiram as suas fábricas sendo fechadas sistematicamente, criando zonas semi-desérticas povoadas por desempregados.
Porém, por outro lado, o que vem ocorrendo na Europa? Estados como a Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha mostram-se em situações gravíssimas, com dívidas enormes em relação à totalidade do que esses países produzem, o seu PIB (Produto Interno Bruto). No caso da Europa, existe a União Europeia, que seria uma espécie de nação européia única composta hoje por 27 Estados membros. Trata-se de um sonho que começou a ser elaborado um pouco após a Segunda Grande Guerra, em 1951, que visava, pouco a pouco, superar os Estados Nacionais e, sobretudo, os conflitos nacionalistas económicos-políticos catastróficos que levaram à morte de pelo menos 30 milhões de pessoas, claro que, em geral, vindas da classe operária.
No entanto, como se retornássemos no tempo, longe de uma verdadeira solidariedade, vemos a União Europeia reproduzir dentro de si os conflitos pré-Segunda Guerra. Os países com forças produtivas mais desenvolvidas foram massacrando as economias mais frágeis, quebrando os seus sistemas produtivos graças à abertura dos mercados e, agora, aqueles que estão à beira da falência são socorridos parcialmente, mas, ao mesmo tempo, ameaçados de expulsão caso não obedeçam a programas de severa “austeridade”.
Evidentemente, a chamada “austeridade” exigida pelos países mais poderosos recai directamente sobre a classe trabalhadora dos países semi-falidos. Em troca das ajudas que serão concedidas, Grécia, Portugal e Espanha, assim como os outros, terão que fazer cortes nas aplicações orçamentárias destinadas a finalidades sociais. Além disso, claro, entre as medidas exigidas, as principais são sempre reduzir aposentadorias e baixar os salários, fora que com os cortes orçamentários vem sempre o aumento do desemprego.
Na última semana de Maio , destacam-se as medidas a serem tomadas pela Espanha. A situação da Espanha, como se sabe, já é gravíssima, com um desemprego que chega a 20%, um déficit fiscal de 11,2 % e uma dívida pública de 53,2 %, ambos em relação ao PIB produzido durante o ano de 2009. Ora, estando nessas condições péssimas, tinha uma previsão de crescimento de apenas 1,8% em 2010, índice totalmente insuficiente para sair da crise. Porém, com as medidas que o país foi obrigado a tomar, o PIB deve crescer ainda menos este ano, prevendo-se somente o índice de 1,3%.
Entre as medidas propostas já aprovadas na Espanha estão a redução de 5% nos salários do funcionalismo, congelamento em 2011, suspensão de reajustes nas aposentadorias, fim das aposentadorias parciais e outras medidas directamente voltadas contra os trabalhadores. Curiosamente, o governo dito “socialista” do primeiro ministro Rodriguez Zapatero, pressionado pelo sector mais à esquerda do seu partido, diz que pretende aprovar também um novo imposto para quem possui ganhos anuais acima de 1 milhão de euros, mas, esta proposta não foi ainda confirmada, sendo adiada provisoriamente.
Como já ocorreu e continua a ocorrer na Grécia, os protestos dos trabalhadores começaram a tomar conta das ruas da Espanha e tendem a se generalizar por toda a Europa. Mesmo os países credores que realizam os empréstimos, tais como a Alemanha, sofrem grandes pressões da população e dos trabalhadores, pois, afinal os empréstimos nada mais são do que mais-valia extraída também do suor da classe trabalhadora dos países exploradores.
Diante dessas situações que vivem os trabalhadores europeus e norte-americanos, mais do que nunca é possível objectivamente a construção da unidade mundial da classe trabalhadora. Ao contrário do que ocorria há algumas décadas atrás, quando sectores da classe operária mundial possuíam maiores diferenças em seus níveis de vida, hoje os problemas se aproximam e a uniformidade programática se universaliza mais concretamente.
Os ataques que os companheiros norte-americanos, portugueses, gregos, espanhóis hoje recebem nos seus salários, nos seus direitos mínimos, na sua garantia a um emprego digno, são os mesmos ataques sistemáticos que os trabalhadores brasileiros e latino-americanos já conhecem há muito tempo. Objectivamente, hoje, mais do que nunca, é possível a construção da unidade mundial dos trabalhadores de todo o mundo em defesa dos seus salários e em defesa dos seus empregos.
http://www.movimentonn.org/
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