O modelo dos baixos salários acentua-se em Portugal
Ciências Humanas e Sociais

O modelo dos baixos salários acentua-se em Portugal



Em todas as regiões de Portugal, exceptuando Lisboa e Vale do Tejo, é no escalão entre os 310 e 600 euros que se encontra a maioria dos trabalhadores por conta de outrem. No Norte, são mais de metade (53%), o dobro da percentagem em Lisboa (25). No Centro, Alentejo e Algarve, este escalão remuneratório abrange 44,5%, 46,2% e 38,5%.

Segundo os dados do INE, 4,9% das pessoas que trabalham para terceiros no Norte do país ganham menos de 310 euros. Esta percentagem desce para 4,1% no centro, 3,1% em Lisboa, 3% no Alentejo e 2,4% no Algarve.

É por haver tanta gente nos escalões remuneratórios inferiores que o vencimento líquido mediano se afasta tanto do médio. O valor médio é de 712 euros, mas o mediano, que leva em conta a distribuição das pessoas pelos vários escalões, é de apenas 560 euros.
Ou seja, metade dos portugueses ganha até 560 euros.

O que sobressai destes dados estatísticos do INE?

Apesar do salário mínimo ser próximo dos 400€, os salários líquidos de uma percentagem importante de trabalhadores estão abaixo deste valor. Isto significa que muitas pessoas têm trabalho a tempo parcial, o que aliás é confirmado por um estudo recente da CGTP ( ver:
http://www.pt.indymedia.org/ler.php?numero=130375&cidade=1 )

Existem sensíveis assimetrias regionais. Embora devidas às actividades (indústria, serviços, administração pública, etc.) estarem em proporção diferente no emprego das diferentes zonas do país, o certo é que - em termos de poder de compra dos trabalhadores e suas famílias - há assinaláveis discrepâncias.A estrutura salarial está distorcida para baixo, ou seja, existe uma proporção anómala de salários em torno do salário mínimo. Isto sobressai melhor se tivermos em conta as percentagens de trabalhadores que recebem um salário mínimo noutros países da UE, principalmente da zona euro. Em França, por exemplo, são apenas 16%.


A estrutura global de salários de miséria mantém-se ao longo das décadas. Apesar do custo de vida em Portugal não ser inferior ao da Espanha, no país vizinho o salário mínimo é IGUAL AO SALÁRIO MEDIANO PORTUGUÊS. Pelo menos metade da população trabalhadora portuguesa aufere menos que o salário mínimo de Espanha (560 €). Não admira pois que haja um enorme fluxo de emigração para Espanha e outros países da UE.

Mantém-se uma percepção distorcida pela propaganda (do governo e da generalidade dos media) sobre a realidade portuguesa. O facto é que as diferenças de mais de oito vezes entre a fatia dos 10% de rendimentos mais altos em relação aos 10% mais baixos explicam-se muito claramente pela enorme exploração dos trabalhadores.

Sendo constante, desde há pelo menos 27 anos, uma perda do poder de compra dos salários portugueses e um ataque paralelo às garantias de estabilidade dos empregos, devemos concluir que, na divisão internacional do trabalho decidida ao nível do grande capital europeu e apoiada pelo poder político da Comissão Europeia e pelos governos sucessivos, a Portugal tem sido reservado o papel de reserva de mão-de-obra barata, país de turismo e de emigração, de fraco desenvolvimento industrial e agrícola .

O país importa cerca de dois terços dos géneros alimentares consumidos, apesar das suas excelentes condições naturais (agrícolas e piscícolas).


Fonte: aqui



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