Borges ou do conto filosófico
Ciências Humanas e Sociais

Borges ou do conto filosófico



Davi Arrigucci Jr.

(continuação)
(1) A rigor, o primeiro conto de Borges foi "Hombre de la esquina rosada", publicado na revista "Crítica", em 1933, com o título de "Hombres de las orillas", que passou a fazer parte da "Historia Universal de la Infamia", em 1935. Em seguida veio "El Acercamiento a Almotásim", publicado com a primeira edição, de 1936, da "Historia de la Eternidad"; passou a integrar, em 1941, a coletânea de contos de "El Jardín de Senderos que se Bifurcan", para ser incorporado, definitivamente, em 1944, à primeira edição de "Ficciones". Só em 1939, com "Pierre Menard, autor del Quijote", começa efetivamente a série de contos que daria renome a Borges.
(2)Cf. Bioy Casares, A., "Prólogo" a Borges, J. L.; Ocampo, Silvina e Bioy Casares, A. - "Antologia de la Literatura Fantástica", Buenos Aires, Sudamericana (1940), pág. 13
(3) Resumo alguns dos argumentos principais de "La Poesia" (1935)
(4) Emprego o neologismo de Mário de Andrade, que vem a calhar
(5) Cf. Paz, O. - "Corriente Alterna", México, Siglo Veintiuno Editores (1970), pág. 40
(6) Ver, nesse sentido, King, John - "Sur. Estudio de la Revista Argentina y de su Papel en el Desarrollo de una Cultura, 1931-1970", México, Fondo de Cultura (1986), sobretudo cap. III. Para a interessante "petite histoire" da colaboração de Borges na revista, ver também os comentários de Jean Pierre Bernès, em sua "Notice" a propósito de "Ficções" em Borges, J. L. - "Oeuvres Complètes". Ed. de J. P. Bernès, Paris, Gallimard (1993), vol. I, págs. 1539 e ss. (Col. "Bibliothèque de la Pléiade")
(7) Como se sabe, os heresiarcas de Tlõn abominam tudo o que multiplique o número dos homens, como os espelhos e as cópulas
(8) É curioso observar como Borges, que sob vários aspectos se parece tanto a Machado de Assis, para ele, ao que tudo indica, completamente desconhecido, também com relação à técnica de narração mostra a mesma semelhança. Não será por mera coincidência, pois se ligam, até certo ponto, a uma tradição comum, em que contam, entre outros fatores, os reflexos do conto filosófico. Ao tratar do aparente arcaísmo da técnica machadiana, Antonio Candido lembra que na forma do narrador bisbilhoteiro, com o "tom caprichoso de Sterne", com seus saltos e brincadeiras, havia também "um eco do 'conte philosophique', à maneira de Voltaire". Ver Candido, A. - "Esquema de Machado de Assis". Em seus: "Vários Escritos", S. Paulo, Duas Cidades, 1970, sobretudo págs. 21-23
(9) Cf. Starobinski, J. - "Le Fusil à Deux Coups de Voltaire", "Revue de Métaphysique et de Morale", Paris, A. Colin, julho/set., 1966, nº 3, pág. 283
(10) Num de seus últimos textos, o prefácio da edição de suas obras completas da "Pléiade", Borges sugere que esse seu livro feito de livros seja lido não seguidamente, mas como se folheia uma enciclopédia ou a obra de Burton
(11) Ver Frye, N. - "Formas Contínuas Específicas da Ficção em Prosa". Em sua: "Anatomia da Crítica". Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos, S. Paulo, Cultrix (1973), sobretudo págs. 303-307. Na obra teórica de Mikhail Bakhtin, se encontra também amplo desenvolvimento da tradição da sátira menipéia, que ele examina com apoio da história social da cultura cômica popular, centrando-se na obra de Rabelais. Ver, desse estudioso, "L'Oeuvre de François Rabelais et la Culture Populaire au Moyen Age et sous la Renaissance", Paris, Seuil (1970)
(12) Cf. Borges, J. L. - "Vindicación de 'Bouvard et Pécuchet'. Em: "Discusión. Obras Completas", Buenos Aires, Emecé (1989), vol. I, págs. 159-262. A citação se acha à pág. 262
(13) Veja-se o importante estudo, em que me baseio, de Heuvel, Jacques Van Den - "Voltaire dans ses Contes", Paris, Armand Colin, 1967. Na sua "Introduction", vem esboçada a posição inicial de Voltaire com relação ao conto, págs. 7-11
(14) Cf. "Op. cit.", pág. 8
(15) Cf. "Op. cit.", cap. II, sobretudo págs. 29-30
(16) Cf. Borges, J. L. - "Oeuvre Complètes", pág. 8, ed. cit., ver acima nota (6)
(17) Num livro recente, "Out of Context. Historical Reference and the Representation of Reality in Borges" (Durham and London, Duke University Press, 1993), Daniel Balderston dá um passo importante no sentido de contextualizar a obra de Borges. No entanto, os vínculos que estabelece entre a obra e o contexto histórico não são vistos como componentes da estrutura estética, elementos transfundidos na própria tessitura e no modo de ser mais íntimo dos textos, mas antes como alusões veladas a um referente exterior, cuja pertinência parece discutível em vários casos
Este ensaio, que o "Jornal de Resenhas" publica com exclusividade, é o prefácio da nova edição de "Ficções", de Borges, a ser lançada este mês pela editora Globo
DAVI ARRIGUCCI JR. é crítico, ensaísta e professor de literatura

Folha de São Paulo



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