Bola de sebo e outras narrativas
Ciências Humanas e Sociais

Bola de sebo e outras narrativas




Bola de sebo e outras narrativas
Guy de Maupassant, Ed. Expressão Popular

A obra reúne quatro das histórias que celebrizaram Guy de Maupassant 

(1850-1893) como um dos mestres do conto. A coletânea privilegia episódios aparentemente prosaicos da vida de personagens triviais, mas extraordinários, situando-os no contexto histórico e político do autor. Com ironia aguda e humor fino, as histórias representam a crueldade ordinária do ser humano e a hipocrisia com que nega seus valores morais.

Material de criação da letra de ?Geni e o Zepelim?, de Chico Buarque, o notável conto que abre o livro relata um curto momento da vida da gentil prostituta, Bola de Sebo. Criador de narradores irônicos que se distanciam criticamente de seus personagens, a posição política de Maupassant brota da lírica simpatia com que pinta os marginalizados e os excluídos dos bens da vida. Enquanto estes são descritos por meio de uma tensão trágica, tendo em vista alegrias curtas e miséria extrema, os membros da alta sociedade francesa, em contrapartida, tornam-se cômicos, presos à inumanidade e à estupidez onipresentes.

O conto ?Rosalie Prudent? leva às últimas consequências a máxima de Flaubert de que o feio ou o banal devem ser vazados em linguagem prosaica, mas poética. Radicalizando a norma, a representação das carências agudas da doméstica Rosalie realiza-se de modo sublime e ganha dignidade trágica.

Como os grandes realistas de seu tempo, Machado de Assis entre eles, Maupassant apega-se à narração de um acontecimento insignificante, mas do qual extrai a verdade oculta de um meio social ou de uma personalidade. Retirando de uma história mínima o máximo de significação, alcança, por exemplo, representar uma ideia fixa que se defronta inesperadamente com seu contradito. Maupassant decompõe a obsessão de seus heróis, submetendo suas convicções a um choque de realidade, quando o abismo insondável da vida e da natureza se abre a seus pés e abala o dogmatismo. 

Cilaine Alves Cunha
Professora de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo

Le Monde Diplomatique Brasil



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