Acção de teatro invisível sobre o desemprego na sala de espera de um centro de segurança social
Quebrando o Isolamento, Experimentando a Acção
Ensaio sobre o desemprego na sala de espera de centro de segurança social
Na sequência de uma Oficina do Teatro Oprimido realizada nos dias 26, 27 e 28 de Setembro no Sindicato da Hotelaria do Sul, em Lisboa, realizou-se uma acção de teatro Invisível na Sala de Espera de um Centro da Segurança Social no dia 30 de Setembro. O vídeo que abaixo se reproduz dá conta dessa Acção de teatro Invisível.
A acção testemunhada neste vídeo realizou-se na manhã de 30 de Setembro de 2010, um dia após a divulgação do 3º pacote de medidas relativas ao Pacto de Estabilidade e Crescimento. Estava então a acabar o prazo para a entrega da prova de “condição de recursos” pelos beneficiários de prestações sociais. O PEC3 veio, entre outras medidas, anunciar aumento de impostos, um indicador de que sobreviver se tornará mais caro e mais difícil.
A iniciativa partiu dos/as participantes no “ensaio sobre o desemprego”, uma oficina de teatro forum/teatro do oprimido dirigida essencialmente a desempregados/as, mas também a trabalhadores/as precários/as. Pretendíamos realizar uma acção que ajudasse a dar visibilidade à burocracia que enfrentam as pessoas desempregadas, o pesadelo que é enfrentar uma máquina burocrática que nos olha com desconfiança. Resolvemos unir o útil, ao igualmente útil e necessário: alguns/mas de nós tinham de enfrentar a tal máquina burocrática, precisavam de ir recolher senha, esperar, e tentar não desesperar.
O vídeo não necessita de muitos comentários. As imagens e as palavras falam por si. Mas há algumas informações que podem ajudar a contextualizar. Segundo dados recolhidos no centro de atendimento em questão, a média de utentes em espera passou de 80 para 180 pessoas, após a entrada em vigor da exigência aos beneficiários de prestações sociais não contributivas, de prova de condições de recursos. Não temos dados sobre os tempos de espera, mas sabemos que muitos foram os dias em que às 10h/11h/12h, já não era sequer possível obter uma senha que habilitasse a ser atendido/a no mesmo dia
Oficina de Teatro d@ Oprimid@/Teatro Fórum 26, 27 e 28 de Setembro, Lisboa
Esta proposta de Oficina de Teatro do Oprimido foi elaborada na sequência da experiência do “Desempregados pelo trabalho justo” e, para defender a urgência de acção colectiva, parte-se da constatação do crescimento do desemprego, e do forte ataque de direitos e de dignidade a que têm sido sujeitas as pessoas desempregadas. O ambiente social é de pressão sobre quem tem trabalho, e de ostracismo relativamente a quem não o tem. O clima geral é o da promoção do medo, do salve-se quem puder, da acomodação. Neste contexto, e reconhecendo-se que há muito pouca reflexão sobre a experiência social do desemprego, pretende-se reunir pessoas que o vivenciam para ensaiar formas de o compreender, para ensaiar perspectivas de mudança. Pretende-se quebrar o isolamento – um dos principais obstáculos à construção de acção colectiva - e construir solidariedades, partindo de quem vive a experiência do desemprego.
O que se propõe é a realização um ensaio sobre o desemprego, em duas acepções do termo: ensaio enquanto esboço crítico; ensaio enquanto tentativa ou experiência de transformação social. Para isso será usado o método do teatro do oprimido, um método teatral que reúne exercícios, jogos e técnicas elaboradas pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. O teatro é aqui encarado enquanto forma de conhecimento, enquanto instrumento de transformação da sociedade, o teatro na acepção mais arcaica da palavra: todos os seres humanos são actores, porque agem, e espectadores, porque observam. Com explica Augusto Boal, o teatro deve trazer felicidade, deve ajudar-nos a conhecermos melhor a nós mesmo e ao nosso tempo. (...) O teatro é uma forma de conhecimento e deve ser também ser um meio de transformar a sociedade. Pode nos ajudar a construir o futuro, em vez de mansamente esperarmos por ele. (Em Jogos para atores e não atores, de Augusto Boal). O objectivo imediato é o ensaio crítico, o empoderamento, a quebra de isolamento, mas objectivo mais vasto é o ensaio de acção colectiva.
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