Há pelo menos 30 anos têm se intensificado as preocupações com a continuidade da vida no planeta. Nessa discussão, destaca-se um novo valor, reconhecido por demonstrações científicas e argumentações filosóficas: a biodiversidade. A manutenção da diversidade biológica transformou-se na principal bandeira dos que entendem a urgência da crise ambiental imposta ao planeta pelo ser humano.
Qual a lógica geográfica da existência e da distribuição da diversidade biológica na Terra? Quais são as ameaças decorrentes da contínua remoção das formações vegetais do planeta?
Algumas idéias relacionadas ao fenômeno da biodiversidade:
- Há relações fundamentais entre os domínios naturais (litosfera, hidrosfera e atmosfera) e as condições de cada meio ambiente;
- Entre os elementos dos domínios naturais, o fator climático é o que mais influencia a proliferação da vida.
Há uma lógica na distribuição das espécies e em sua multiplicação:
- em ambientes de clima mais frio e de menor umidade, a vida sofre restrições, por isso poucas espécies se adaptam;
- em ambientes de clima mais quente e maior umidade, a vida se desenvolve mais facilmente, por isso mais espécies se adaptam e há maior diversidade biológica;
- os ambientes de maior diversidade biológica encontram-se nos trópicos úmidos.
A biodiversidade e os climas do passado
As condições ideais para a vida encontram-se nas florestas tropicais, que são formações vegetais
com a maior diversidade biológica do mundo. Diversidade que abrange não somente plantas, mas também animais, em especial insetos, pássaros e mamíferos.
Vamos ler o texto ?O grau de biodiversidade no Brasil?, na página 11 do caderno do aluno.
Como se dá a distribuição das formações vegetais no mundo? Qual o impacto do aquecimento global na biodiversidade? Quais são as consequências para a distribuição das formações vegetais e para a diversidade biológica terrestre?
Hoje em dia, muito se fala sobre as mudanças climáticas e o aumento da temperatura do planeta, que constituem o fenômeno do aquecimento global. Sabemos da importância do clima na distribuição da vegetação, mas como saber quais serão essas consequências e com que intensidade ocorrerão?
Os climas da Terra já foram muito diferentes dos atuais. Se foram diferentes, a distribuição da vegetação também já foi outra. Por exemplo: ?na maior parte do continente africano, entre 12 mil e 7 mil anos atrás, o clima não era tão quente e era bem mais úmido. Ao sul do Deserto do Saara predominava o clima temperado mediterrâneo. Aliás, o deserto tinha uma extensão bem menor. Desenhos rupestres (de comunidades humanas antigas) encontrados em regiões tomadas pelo deserto atualmente mostram que nelas existiam savanas e que o deserto, tanto em sua porção norte e sul, encontrava-se a 100-250 quilômetros para o interior.?
AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991. p. 220.
A lógica que regula a distribuição vegetal é: a expansão do frio e diminuição da umidade resulta em expansão dos biomas mais adaptadosm e diminuição da tropicalidade.
Os períodos glaciais (geleira, gelo) e interglaciais afetaram especialmente as latitudes médias e altas; concomitantemente, nas baixas latitudes tropicais, ocorreram períodos pluviais e interpluviais. Leia o texto ?Consequências da glaciação Würm-Wisconsin para a vegetação?, na página 13 do caderno do aluno.
Houve uma sucessão de períodos frios e quentes. Com a glaciação de Würm-Wisconsin, o clima esfriou; no final desse período, o clima da Terra mudou, ficou mais quente: houve um aquecimento global. Aquecimento resultante das forças da natureza, assim como o esfriamento anterior também tinha sido. Não foi nem a primeira vez, nem a última. O clima da Terra sempre variou ao longo do tempo da natureza.
Depois de Würm-Wisconsin, quando o clima ficou mais quente, a biodiversidade anterior não se recompôs. Quando o planeta voltou a esquentar, muitas plantas não haviam sobrevivido ao frio intenso, nem sequer suas sementes. Além disso, o ambiente já havia sido ocupado pelas plantas que conseguiram resistir às mudanças climáticas. O avanço do frio ou da seca pode causar perda da diversidade biológica.
Relativos à lógica da dinâmica da biodiversidade no interior das formações vegetais, podemos concluir que:
- Fatores climáticos como o frio e o calor, as chuvas e as secas interferem decisivamente na biodiversidade;
- As mudanças climáticas que já ocorreram na Terra (do mais frio para o mais quente, ou do mais quente para o mais frio) interferiram na biodiversidade do presente e deixaram marcas. Por exemplo: a biodiversidade perdida com a última glaciação não foi recomposta;
- A mudança climática que está ocorrendo agora (o aquecimento global) vai interferir na distribuição da vegetação e na ordem da biodiversidade também. É preciso saber como isso pode ocorrer.
A biodiversidade e as ameaças do presente
Quais as consequências da perda de biodiversidade?
A continuidade das diversas formas de vida no planeta depende muito da biodiversidade. A extinção de determinadas formas de vida pode, inclusive, levar outras espécies (delas dependentes) ao desaparecimento. Atualmente, os especialistas sabem que basta uma pequena perda na biodiversidade de uma floresta para existir risco de grave desequilíbrio para essa formação vegetal.
E quais são os efeitos para as sociedades humanas? A biodiversidade constitui um patrimônio valioso, tanto mais valioso quanto se avança no conhecimento científico e tecnológico. Por exemplo: na diversidade biológica podem-se encontrar soluções para muitos dos problemas relacionados à alimentação da humanidade, à cura de doenças e à melhoria da qualidade de vida. Por isso, de riqueza desconhecida e ainda desprezada por muitos, a biodiversidade pode tornar-se objeto de uma disputa cada vez mais acirrada. No Brasil e em todo o mundo, observa-se nos últimos anos uma tomada de consciência (embora lenta) sobre como é importante cuidar da manutenção da biodiversidade.
Observe o mapa ?Desflorestamento e desertificação, 2006?, nas páginas 16 e 17 do caderno do aluno.
Vale a pena apresentar três comentários sobre a linguagem e o conteúdo deste mapa:
- Trata-se de um mapa qualitativo e ordenado. Em primeiro lugar, é qualitativo porque distingue dois fenômenos: desflorestamento e desertificação. Em segundo lugar, porque ordena os dois fenômenos: da desertificacão mais intensa (laranja) à moderada (amarelo); do desflorestamento mais intenso (verde-escuro) para o moderado (verde-claro). E isso é muito bem realizado e expressivo no mapa;
- O uso das cores como recurso de linguagem não é de aplicação fácil. Uma informação num mapa não pode suscitar dúvidas nem mais de uma interpretação. Esse é o problema das cores. Temos o costume de atribuir sentidos e significados às cores. Por exemplo: quais são os significados do vermelho? É comum associar essa cor ao perigo, à atenção, à proibição, às altas temperaturas, ao fogo, aos objetos quentes etc. E o azul, o que representaria? Frio, gelado, água, baixas temperaturas etc. Por isso, as cores num mapa podem envolver interpretações culturais diferentes da informação técnica.
- O mapa cartografa desflorestamento e desertificacão. Não há dúvida de que o desflorestamento existe e que ele é provocado pelo ser humano. O mesmo não pode ser dito da desertificacão. Trata-se de um fenômeno mais difícil de acompanhar e que ocorre acima de tudo por motivos naturais; a influência da ação humana (que existe) não pode ser avaliada tão facilmente. A desertificacão se expressa pela redução progressiva da biomassa e da água em circulação no ambiente natural. Por exemplo: é duvidoso definir o que acontece no Nordeste do Brasil como desertificacão. De todo modo, é assim que funciona o conhecimento: as interpretações são construídas para nos fazer pensar, refletir, criticar.
- Há desflorestamento tanto em áreas tropicais como em áreas temperadas. Nesse caso, há dois tipos diferentes de floresta. As florestas temperadas (com menor biodiversidade) encontram-se fundamentalmente no Hemisfério Norte, seu grau de remoção é elevado e ocorre há muito tempo. Por sua vez, as florestas tropicais, que estão sendo mais prejudicadas pelo desflorestamento, situam-se, sobretudo, no Hemisfério Sul. E o Brasil, sem dúvida, possui o maior patrimônio de biodiversidade;
- Boa parte das regiões de desflorestamento mais acelerado, como apresentado no mapa, encontra-se em áreas de grande povoamento: leste dos EUA, Europa Ocidental, leste da China, norte da índia, Indonésia, Filipinas, América Central e, em menor proporção, no Golfo da Guiné (parte ocidental). O caso do Brasil é um pouco diferente: embora tenha áreas de intenso desflorestamento, ele ocorre em áreas não tão povoadas. A Amazônia não consta no item de desflorestamento acelerado, pois, proporcionalmente à sua área, o desmatamento parece não ser significativo, o que não é verdade em termos absolutos;
- A desertificação representada no mapa pode ser natural ou acelerada pelo homem. Em torno do Deserto do Saara (África) nota-se uma vasta faixa em situação crítica que pode significar uma ampliação desse vasto deserto;
- No Brasil, a área em que há desertificação elevada (segundo o índice estabelecido no mapa) está rodeada por áreas apontadas como locais de desflorestamento relevante. Evidentemente, essa situação ajuda a acelerar a desertificação;
- Considerando o que foi representado no mapa, são poucas as áreas da superfície terrestre em que não se observa nem desflorestamento nem desertificação. Destacam-se praticamente apenas o Canadá e a Rússia. Porém, isso decorre do fato de esses países ocuparem vastas áreas muito frias e pouco povoadas. Podem ser considerados, portanto, desertos humanos e gelados.
As florestas tropicais restantes, embora mais extensas e vigorosas que as temperadas, estão em geral muito fragmentadas. O principal continuum florestal tropical está localizado na América do Sul, principalmente na Amazônia brasileira. É ali que está concentrada a possibilidade de conservação da biodiversidade in situ, ou seja, a conservação dos organismos vivos em seu ambiente original. Em outros locais restaram apenas fragmentos, o que exige intervenção humana para que possa haver revitalização.