A Commentary on Livy. Books VI-X
Ciências Humanas e Sociais

A Commentary on Livy. Books VI-X



Lucia Cutro
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade de São Paulo - USP

Oakley, Stephen P. A Commentary on Livy. Books VI-X. New York: Oxford University Press, 1998. vol. II. XIII + 866p.

No segundo volume sobre o estudo dos livros VIX da História de Roma de Tito Lívio, o professor Stephen P. Oakley, associado do Emmanuel College, Cambridge, analisa sob a forma de comentário os Livros VII e VIII da obra liviana, os quais relatam, respectivamente, os eventos ocorridos entre os anos de 366 a 342 a.C. e 341 a 322 a.C.

No tocante à Introdução, a desproporção entre os dois volumes é significativa (380p. no Volume I e 27p. no Volume II), mas compreensível, uma vez que no primeiro volume1 são tratadas questões referentes ao conjunto dos Livros VI-X: um estudo sobre a tradição analística romana; a natureza da escrita histórica antiga; as fontes usadas por Tito Lívio; a veracidade das informações; a deturpação dos fatos, seja por Lívio como por suas fontes analísticas; a data da composição da obra; sua estruturação analística e em décadas ou grupos de cinco livros; as diversas versões/ tradições dos manuscritos que chegaram aos nossos dias e uma Introdução Histórica ao Livro VI.

No Volume II, apesar de serem comentados os Livros VII e VIII, sempre a partir do texto latino, consta apenas a Introdução Histórica ao Livro VII, na qual Oakley atém-se à política interna e externa de Roma, remetendo-nos, sempre que necessário, ao primeiro volume.

Com relação à política externa, o autor procede a uma divisão temporal e a analisa em dois blocos: entre 366 e 350 a.C. - no qual destaca os conflitos entre romanos e seus vizinhos hérnicos, latinos, volscos e etruscos - e entre 350 e 344 a.C., no qual ressalta que Lívio fornece poucos detalhes referentes a este período, condizente com o fim da guerra contra a Etrúria e o início da Primeira Guerra Samnítica. Para explicar este fato e, em última instância justificar sua escolha de segmentar a análise, Oakley argumenta que "Lívio já o fizera nos livros anteriores e neste planejava dedicar mais espaço à anexação da Campânia e à Primeira Guerra Samnítica" (p.12) e que, malgrado as poucas informações fornecidas por Lívio "estas permitem concluir que estes anos foram marcados pela contínua expansão romana e a pela renovada tensão com seus aliados latinos" (p.12).

As poucas questões relativas à política interna entre 366 e 342 a.C. dizem respeito à espoliação e às dívidas a que os plebeus pobres estavam submetidos e à tentativa dos plebeus mais abastados terem acesso aos cargos públicos monopolizados pelos patrícios. Neste último aspecto, Oakley julga que a "lex Licinia apenas concedeu aos plebeus o direito de acesso ao consulado, mas não a garantia" (p.19), sendo que "somente após a admissão dos plebeus nos sacerdócios esta barreira foi substancialmente transposta" (p.21).

Este volume apresenta uma inovação quando comparado ao anterior - provavelmente uma forma de compensar a breve Introdução Histórica ao Livro VII e a inexistente ao Livro VIII: temas e episódios significativos da História Romana são analisados em meio ao comentário, cuja relevância pode ser constatada não somente no seu respectivo conteúdo, mas também no espaço que o autor dedica-lhes na obra. Em meio ao comentário do Livro VII, por exemplo, consta um estudo sobre a origem dos ludi scaenici em Roma (p.40-58); outro sobre o ditador claui figendi causa - ditadores nomeados exclusivamente para realizar a cerimônia do 'prego', ainda um tanto obscura - (p.73-80); a deuotio de Marco Curtio (p.96-99); a luta corpo-a-corpo entre Tito Mânlio e um gaulês (p.113-125); um excursus sobre os samnitas e as guerras samníticas (p.274-284), discorrendo sobre o que se sabe deste povo a partir dos relatos antigos e da arqueologia, entre outros estudos mais breves.

Em meio ao comentário do Livro VIII é dada atenção especial à Guerra Latina (p.407-411); ao combate do jovem Mânlio contra um gaulês e conseqüente morte a mando do próprio pai Mânlio Torquato por ter desobedecido sua ordem de não atacar em sua ausência (p.436-439); a digressão liviana sobre a legião romana, comparando-a com informações de Políbio sobre a organização do exército (p.451-466); a Batalha de Veseris e a deuotio de Públio Décio Mure (p.477-486). Neste último aspecto, há um estudo do ritual da deuotio acompanhado de indicação bibliográfica para aprofundamento no assunto. No que diz respeito às conseqüências da guerra latina, Oakley discute os mecanismos usados por Roma para assegurar a posse e/ou controle das regiões conquistadas, tal como a concessão da ciuitas sine suffragio e a ciuitas optimo iure (p.538-559) e, com relação à Segunda Guerra Samnítica, discute sua origem e a data de início: 327 ou 326 a.C. (p.638-651).

Para mostrar a veia artística de Tito Lívio, Oakley chama a atenção para a narrativa da guerra entre romanos e vestinos não pela guerra propriamente dita, pois esta é apresentada em um relato breve e sem adornos, mas porque Lívio insere nesta a querela entre o ditador Lúcio Papírio Cursor e o comandante da cavalaria Quinto Fábio Ruliano, um episódio no qual "a imaginação de Lívio é fulgurante" (p.698).

No comentário do Livro VII e do Livro VIII continuam sendo aplicadas a metodologia e todas as hipóteses suscitadas na Introdução do primeiro volume: Oakley realiza uma análise minuciosa, exaustiva e pontual do texto latino dando igual atenção aos aspectos históricos, literários, lingüísticos e textuais. Além disso, o autor serviu-se de outros autores antigos que trataram das mesmas colocações que Lívio e da vasta bibliografia especializada que elenca no final da obra.

Para melhor compreender a progressiva expansão romana no período tratado pelos Livros VII e VIII (366 a 322 a.C.), Oakley anexa ao presente estudo o mapa referente à topografia da região centro-sul da Península Itálica, no qual são indicadas fortificações, colonia, municipium, uicus urbanos, santuários extra-urbanos e assentamentos romanos presentes na parcela da narrativa liviana analisada neste segundo volume.

Revista de História - USP



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