"Escritos de Educação" por Pierre Bourdieu
"Writings of Education" by Pierre Bourdieu
Eduardo Tramontina Valente CerqueiraBolsista da Pró-Reitoria de Graduação em Iniciação Cientifica pelo projeto "Ensinar com Pesquisa". Participante do Grupo de Pesquisa: Estudos sobre Populações (I)migrantes no Brasil e no Mundo: o papel da instituição escolar. Certificado pela USP, credenciado no CNPq e que conta com apoio do CNPq e FAPESP. Instituição: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP)
[email protected]RESUMONeste livro, Bourdieu faz uma análise sobre as desigualdades escolares estruturadas nas desigualdades sociais, desvendando o mito dos "talentos" ou "dons" naturais. O objetivo do autor é analisar os mecanismos implícitos na constituição e manutenção da sociedade estudantil e do capital captado e re-captado por esta mesma sociedade para a "perpetuação" do sistema analisado em questão.
Palavras-chave: desigualdades escolares, desigualdades sociais, mito escolar.
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ABSTRACTIn this book, Bourdieu makes an analysis on the structuralized scholar inequalities in the social inequalities, unmasking the myth of the "natural aptitudes" or "dowry". The objective of the author is to analyze the implicit mechanisms in the constitution and maintenance of the student society and the capital caught and reverse speed-caught for this same society for the "perpetuation" of the analyzed system in question.
Index terms: scholar inequalities, social inequalities, scholar myth.
Escritos de Educação por Pierre Bourdieu
Sobre os textos no livro:
Em Sobre as artimanhas da razão imperialista, Bourdieu analisa que a tendência do imperialismo cultural é colocar dentro do âmbito escolar uma visão única e verdadeira, em que dogmas como saber é poder "reinam" à vontade. A moeda de troca é o acúmulo de capital intelectual, deixando de lado as identidades sociais, históricas, culturais e políticas particulares dos envolvidos no processo educacional em questão.
No texto Método científico e hierarquia social dos objetos são analisados os campos de produção simbólica regidos pela hierarquia dos objetos legítimos, possíveis de legitimação ou irrelevantes, dependentes do momento histórico, social, pela classe intelectual e pelas disciplinas científicas em questão.
Bourdieu deixa claro que um dos mecanismos para a "separação" dos objetos (por exemplo, em temas ou assuntos) relevantes e não relevantes a um determinado sistema educacional ou campo cientifico, é a conivência da opinião de um determinado grupo (social ou intelectual) sobre um tema, ou um objeto socialmente reconhecido ou não pelos envolvidos no "julgamento", conforme o contexto histórico em questão. Observa que os objetos "irrelevantes" (temas ou assuntos), conforme a "comissão julgadora" são passíveis de censura, de modo a serem tomados como "impróprios" ou temas "sem importância" em dado contexto histórico.
Em A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura, Bourdieu analisa o capital cultural caracterizado por uma "perpetuação" de um sistema de valores sociais, determinados pela união de conhecimentos, informações, sinais lingüísticos, posturas e atitudes com suas particularidades que traçam a diferença de rendimentos acadêmicos frente à escola.
Verifica que para a trajetória escolar, traçada como uma "linha", sem obstáculos no campo de produção/reprodução simbólico, exige-se, consciente ou inconscientemente, dos participantes do processo escolar, o relacionamento natural e familiar com o conhecimento e com a linguagem, o que diferencia a relação com o saber, mais do que o saber em si. Assim, os relacionamentos "positivos" com o conhecimento, considerando a qualidade lingüística e o capital cultural são, segundo o autor, adquiridos no seio familiar. Esse mecanismo acontece através de uma aprendizagem difundida explicitamente por pensamentos e ações característica das classes sociais cultas e, implicitamente, existindo o "reforço" familiar no sentido de compactuar a cultura, conhecimento, pensamento e ações característicos da classe dominante.
O autor prossegue em suas considerações com Os três estados do capital cultural e O capital social ? notas provisórias, em que reflete sobre o relacionamento entre capital cultural, a origem social e a trajetória escolar, desvendando os mitos do "dom" e "talento" naturais.
Em Os três estados do capital cultural, Bourdieu analisa o capital cultural sob três formas: estado incorporado, estado objetivado e estado institucionalizado.
No estado incorporado, Bourdieu afirma que a assimilação, "enraizamento", incorporação e durabilidade do capital cultural em um determinado sistema demandam tempo e somente podem ocorrer de forma pessoal, não podendo ser "externado", pois perderia a característica própria de capital cultural da instituição.
No estado objetivado, o capital cultural aparece na aquisição de bens culturais (escritos, livros, pinturas, etc.), através do capital econômico, sendo indispensável a "posse" do capital cultural incorporado, por possuir os mecanismos de apropriação e os "símbolos" necessários à identificação do mesmo.
Sobre o capital institucionalizado, o autor discorre que a "concretização" do mesmo ocorre na "propriedade cultural" dos diplomas e sua aquisição.
Para Bourdieu, o capital social é um mecanismo estratégico para difusão de relações em um determinado sistema social, onde a quantidade de volume de capital social e econômico possuídos determina a rede de relações sociais que se pode mobilizar.
No texto Futuro de classe e causalidade do provável, é analisado o habitus, "sistema de disposições duráveis", no qual a família tem papel fundamental no que diz respeito à "perpetuação" das estratégias de produção e reprodução de capitais (social, econômico, intelectual etc.) para manter ou melhorar a posição de um determinado grupo social em um sistema de classes. Observa a funcionalidade implícita dos mecanismos e estratégias de manutenção e acúmulo de capitais por meio de investimentos na educação e de casamentos por conveniência. Afirma que, determinado momento histórico pode demandar a transformação de um capital obsoleto para um mais rentável, conforme o "mercado" de capitais. Ou seja, as famílias podem mudar suas estratégias "revezando" seu patrimônio, entre: capital cultural, social, ou econômico.
Em O diploma e o cargo: relações entre o sistema de produção e o sistema de reprodução, Bourdieu e Boltanski analisam as relações entre o sistema de ensino e o de produção trabalhista, verificando que a "qualificação" e a "capacidade" do indivíduo (agente) são as moedas do mercado de trabalho utilizadas amplamente no sistema escolar. Constata o autor, em Classificação, desclassificação, reclassificação, a existência das estratégias de reprodução, explícita ou implicitamente, com o objetivo de investimentos no capital escolar, visando à obtenção de graduações em cursos e carreiras bastante prestigiados.
As categorias do juízo professoral: Pierre Bourdieu, juntamente com Saint-Martin, analisa o sistema de desclassificação e classificação escolar, conforme a avaliação do sistema escolar estruturado em um juízo de valor que pode valorizar, ou não, a "intimidade" do indivíduo (agente) com o saber. A forma que seus pensamentos e ações "compactuam" com a forma de "pensar" da instituição escolar, pode contribuir para as desigualdades escolares.
Os excluídos do interior: Bourdieu e Champagnhe analisam as desigualdades escolares, em que a exclusão intra-escolar daqueles de classe menos abastadas ocorre implicitamente no preenchimento de vagas em cursos menos disputados, onde a correlação entre proveito e benefícios escolares é considerada para profissões de baixa remuneração, tornando o sistema escolar das profissões de "alto gabarito" reservado a alguns poucos.
Em As contradições da herança, Bourdieu verifica o papel do capital social, econômico e escolar e de que forma são repassados no seio familiar para a construção de uma identidade (no capítulo, ressalta-se o papel do pai), que é sujeita à aceitação, ou não, nos sistemas escolares e, conforme o momento histórico, determina o desempenho escolar.
Este livro é fundamental para se entender a complexidade de atitudes e idéias predominantes dentro de um espaço intraescolar e o seu significado implícito, no que se diz respeito às dimensões do capital intelectual produzidos por uma sociedade dominante. O livro traduz muito bem o que venha a ser "hierarquia intelectual" na diversidade cultural dentro de um sistema escolar. Vale a pena conferir.
Referências bibliográficas NOGUEIRA, Maria Alice Nogueira; Catani, Afrânio. (Orgs.) (1998). Pierre Bourdieu. Escritos em Educação. Petrópolis: Vozes.
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