(a ler, multiplicar e distribuir na noite de S. João)
Defender o espaço público é dizer, alto e bom som, que uma cidade não é uma presa a esquartejar e dividir entre os caçadores que possuem mais armas, pontaria, treino ou conhecimento dos alvos. Defender o espaço público é afirmar, contra ventos e marés, que os países não são a herdade dos governantes e que as cidades não são a coutada dos autarcas. Defender o espaço público é lembrar que todos estamos de passagem à face da terra e nos lugares onde moramos, que nenhum poder, por legitimamente eleito que se gabe de ser, pode alienar às populações os locais e obras que foram esforçadamente construídos ou conquistados para o bem comum do maior número e dos vindouros.
Defender o domínio público é recordar que foram necessários séculos de lutas sociais para arrebatar a uns poucos punhados de senhores da terra a esperança de poder fruir daquilo que é obra da humanidade no seu conjunto, quer se trate de bens materiais ou imateriais, quer se trate duma praça ou de um poema, dum teatro ou de uma partitura, de uma fonte, de uma ponte ou da água que brota de uma e corre debaixo da outra. Defender o domínio público é reconhecer que as coisas crescem em beleza e utilidade quando são por muitos cuidadas, divididas, pensadas, interrogadas. Defender o domínio público é descobrir que sociedades edificam e deixam rastos porque a consciência da morte impele os humanos a desejar existências mais plenas, modos de viver mais dignos e comunidades de viventes em que a própria vida seja um valor sagrado.
Defender o serviço público é perceber que, por viverem em sociedade, todos os humanos são sucessiva, alternada e forçosamente assistentes e assistidos, porque essa é a condição sine qua non da nossa sobrevivência enquanto espécie. Defender o serviço público é acreditar na utilidade do que é belo e na beleza do que é útil, é acreditar que um «serviço» será tanto mais útil quanto permitir leituras e fruições do mundo mais belas e assim produzir outras utilidades e, logo, outras leituras e fruições, conducentes a outras maneiras de estar no mundo. DEFENDER O SERVIÇO PÚBLICO NO RIVOLI é entender que, para além do desejável aperfeiçoamento de que todas as obras humanas carecem, no nosso teatro municipal aconteceram inúmeros momentos de criação, partilha e intervenção que marcaram (ou até mudaram) milhares de pessoas positivamente, e que isso devia continuar a acontecer.
NESTA NOITE EM QUE A CIDADE PARECE SER DE TODOS, toma tu também a decisão de DEFENDER O SERVIÇO PÚBLICO e de LUTAR COM OS MEIOS QUE TENS AO TEU ALCANCE CONTRA A ENTREGA DA GESTÃO DO RIVOLI A PRIVADOS.
Texto retirado de : http://sardera.blogspot.com/