Realiza-se neste fim de semana em Montemor-o-Novo mais um Ao Encontro da Semente
Ciências Humanas e Sociais

Realiza-se neste fim de semana em Montemor-o-Novo mais um Ao Encontro da Semente





A associação Colher para Semear realiza durante este fim de semana de 30 e 31 de Outubro mais um "Ao Encontro da Semente", desta vez em Montemor-o-Novo.

A participação no encontro é gratuita, com excepção da participação nas oficinas, estas têm um custo total (que engloba a frequência de todas as oficinas) de 20 euros para não sócios e de 10 eurospara sócios.

Estão também convidados para o encontro todos os guardiões de sementes que tragam consigo algumas para expor (numa banca destinada a todos) e para partilhar com os demais visitantes e guardiões, por forma a valorizar ainda mais este momento de confraternização .

O encontro decorrerá na Sociedade Carlista de Montemor-o-Novo e servirá para trocar sementes, assistir a palestras, participar em oficinas e ter contacto com o património agrícola-vegetal do concelho. Lá será exibido, nos dias 30 e 31, o documentário “Guardiões de Montemor-o-Novo”, realizado por Tiago Fróis e Rui Cacilhas. Este documentário regista as visitas que a Associação Colher para Semear realizou a vários hortelões montemorenses, com o intuito de trocar sementes


Ao Encontro da Semente 2010
O levantamento efectuado no concelho de Montemor-o-Novo trouxe ao de cima, no espaço de tempo facultado, a fracção visível e possível da grandeza que contém o património cultivado nesta região. Quer isto dizer que ele é porventura mais vasto – e só não será ainda maior por causa da erosão que sofreu no último meio século, com a introdução da venda globalizada de variedades híbridas, que de início se mostram produtivas mas rapidamente degeneram.

Esse novo contexto teve efeitos imediatos, sociais e económicos. Por um lado, a troca de material genético entre agricultores passou a ser descontinuada, com consequências, ainda pouco estudadas, nas relações que um tal comportamento civil permitia estabelecer e consolidar; por outro lado, do ponto de vista económico o resultado foi mais perverso, levando os agricultores a entrar num ciclo de dependência e a abandonar por completo a capacidade de gerir os seus destinos, ao perderem autonomia reprodutiva e alimentar.

Montemor-o-Novo, como centro histórico de passagem que continua a ser, situado no eixo Évora–Lisboa, foi particularmente afectado por este fenómeno. No entanto, uma tal especificidade pode de igual modo contribuir para a manutenção da diversidade agro-alimentar da região, através da sua promoção na oferta gastronómica da restauração e do turismo rural. Os montemorenses têm uma aptidão inata para a horta, revelando esse seu apego a quantidade de quintais esmeradamente cultivados que aqui se vêem, tanto em redor da cidade como nas suas freguesias, exemplo notável de como é possível as pessoas serem detentoras de alguma autonomia (de bastante até, em certos casos), conseguindo assim, além das inerentes poupanças, obter conscientemente uma maior segurança alimentar.

A actividade agrícola do concelho sofreu algumas modificações: a cultura de cereais já conheceu melhores tempos e essas áreas foram ocupadas pela prática extensiva de criação animal, sobretudo gado vacum. As searas de trigo e aveia desapareceram quase por completo, sendo a cevada o único cereal que persiste, e mesmo este raramente se vislumbra.

Pela positiva, registe-se a continuidade de culturas tradicionais, sendo o exemplo mais marcante o da «roxa de Montemor», uma cebola excepcional que faz chorar de várias maneiras; e outras variedades continuam nas mãos dos guardiões mais idosos e persistentes, na esperança de que a geração seguinte lhes dê continuidade.

Um dos propósitos da nossa iniciativa, Ao Encontro da Semente, é alcançar essa ligação geracional, ilustrando a necessidade de dar prolongamento às presentes actividades hortícolas e agrícolas, realçando as qualidades dos alimentos nelas produzidos e promovendo a sua utilidade, com vista a mantermos o leque das opções alimentares; e sobretudo realçando estas produções como forma comprovada da inerente capacidade de adaptação de tais culturas às condições do ecossistema.

Como nos encontros anteriores, podemos tirar partido desta ocasião para trocar e partilhar ideias, conversas e sobretudo sementes. A transmissão da semente, em si mesma, tem um significado que, embora físico, roça o espiritual. Com efeito, desde a sedentarização do homem e a consequente intervenção agrícola, tem sido praticada e faz parte da nossa génese a partilha de sementes como moeda de troca de bens úteis. Quanto aos laços amistosos que semelhante acção provoca, são sobejamente conhecidos e sentidos por todos os seus praticantes, aproveitando nós a oportunidade para recomendar esta experiência, que nos aproxima uns dos outros e nos humaniza.

A presente exposição, demonstrativa da dedicação das mulheres e dos homens deste concelho que convivem com a realidade do mundo rural, pretende ser uma simbólica homenagem a todos eles. Nos tempos que se adivinham, esta conduta pode ter uma importante função de referência, sendo conveniente transmiti-la a uma sociedade que anda em busca de soluções.


Sexta-feira 29 de Outubro

Sociedade Carlista
14h - Visita à exposição pelos alunos das escolas do concelho de Montemor-o-Novo

Sábado 30 de Outubro

Sociedade Carlista

9h. - Recepção e inscrição dos participantes

9h30 - Sessão inaugural d’«Ao Encontro da Semente», abertura da exposição e troca de sementes

10h - Apresentação do levantamento do património agrícola vegetal desde há muito cultivado no
concelho de Montemor-o-Novo, por José Miguel Fonseca. Moderadora: Teresa Pinto Correia

11h - «Montemor-o-Novo, refúgio da Vitis silvestris», por George Bohm

12h - «Colher dos mais velhos, Semear entre os mais novos», por Vitor Guita e Simão Comenda
13h30 - Almoço

15h - Filme documentário Guardiões de Montemor-o -Novo, realização de Tiago Fróis,
montagem de Rui Cacilhas (recolhido junto dos guardiões de Montemor-o-Novo)

15h15 - «O Montado como sistema tradicional», por Ana Margarida Fonseca

16h - Oficina do Barro, por Bernardino Cantanhede*

20h - Jantar

22h - Baile das Colheitas

Domingo 31 de Outubro
Sociedade Carlista

9h30 - Oficina prática de recolha e conservação das sementes, por José Miguel Fonseca*
11h30 - Oficina do mel, dois exemplos: O cortiço, por Custódio Pereira e Juvenália Cantanhede*
A colmeia móvel, por António Abel*

13h - Almoço
Repetição do documentário Guardiões de Montemor-o-Novo
Mesa de Sábios Agricultores. Conversa moderada por Graça Ribeiro e José Miguel Fonseca
Conclusões e reflexões sobre o “Ao Encontro da Semente de 2010”
Encerramento musical do encontro com o Coral de São Domingos



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