Mais de 120 mil trabalhadores nas ruas de Lisboa em protesto contra o Governo Sócrates
Ciências Humanas e Sociais

Mais de 120 mil trabalhadores nas ruas de Lisboa em protesto contra o Governo Sócrates


Face ao silenciamento quase absoluto a que a grande manifestação da CGTP realizada no passado dia 2 de Março foi votada pelos media torna-se imperioso dar notícia desse acontecimento que revela o descontentamento e o grau de contestação que se vai espalhando pelo país fora face à política liberal do governo Sócrates e que atinge os mais pobres e carenciados.
Na verdade não é só a política de saúde e a política educativa que geram revolta e insatisfação junto da população mas toda a orientação governativa que, sob o pretexto da contracção orçamental, vai tomando as mais variadas medidas lesivas do bem estar dos trabalhadores portugueses.



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Manifestação da CGTP foi provavelmente "a maior de todos os tempos"


A concentração nacional convocada pela CGTP, sob o lema “Juntos pela mudança de políticas”, entupiu as principais artérias de Lisboa. Aderiram ao protesto mais de 120 mil pessoas de todo o país, no que foi o maior número de manifestantes em dois anos do Governo liderado por José Sócrates. As críticas mais fortes visaram as políticas seguidas pelo Executivo socialista nas áreas da saúde e da educação.


A manifestação concentrou, durante quatro horas, trabalhadores dos sectores público e privado, que encheram as ruas e pararam o trânsito, do Saldanha aos Restauradores, e da Av. da Liberdade até junto à Assembleia da República, por onde passaram 120 mil pessoas, segundo afirmou ao PÚBLICO a PSP no local.Contudo, a organização do protesto referiu a presença de entre 130 mil a 150 mil manifestantes, o que supera a concentração realizada também pela Intersindical no passado dia 12 de Outubro – juntou na capital entre 80 mil e cem mil pessoas.


A dar voz a todos os protestos esteve o secretário-geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, que, em frente à Assembleia da República, quando ainda muitos manifestantes estavam na Avenida da Liberdade, proferiu o discurso de encerramento da concentração nacional, que terminou já depois das 18h30, com a aprovação de novas manifestações a concretizar durante a presidência portuguesa da União Europeia.


Descontentamento pelas condições de vida e de trabalho


Carvalho da Silva considerou, no final, que a manifestação foi provavelmente "a maior de todos os tempos" e um grande protesto contra as políticas seguidas pelo Governo, acrescentando que, mais uma vez, os trabalhadores portugueses se mobilizaram para mostrar o descontentamento pelas actuais condições de vida e de trabalho.O desemprego, a precariedade laboral, o aumento do custo de vida e a formação profissional foram as principais questões abordadas pelo sindicalista no seu longo discurso.


.Às 14h30, a hora marcada para o início da concentração, já se encontravam milhares de trabalhadores do sector privado no Saldanha – os da Administração Pública reuniram-se à mesma hora nos Restauradores, juntando-se depois a meio da Avenida da Liberdade –, mas a longa marcha de alguns quilómetros começou apenas uma hora depois.


“Com razão protestamos e lutamos por políticas socialmente justas”, podia ler-se num cartaz transportado por manifestantes de Leiria, enquanto, ali ao lado, Domingos Rodrigues, de Setúbal, “dirigente sindical a tempo inteiro”, tentava começar a coordenar-se com os outros homens da organização do protesto.


“Tenho estado sempre ao lado da luta dos trabalhadores. Há ainda centenas de autocarros a entrar em Lisboa”, disse Domingos Rodrigues, quando eram 14h40, mostrando-se satisfeito com a multidão à sua volta e com o número de pessoas esperado.


“O custo de vida aumenta, o povo não aguenta”


Entre a música de José Afonso que ecoava das inúmeras colunas de som, os incessantes bombos e as palavras de ordem entoadas sempre contra o Governo – “O custo de vida aumenta, o povo não aguenta” ou “Direitos conquistados não podem ser roubados” –, o reformado José Guerreiro, 71 anos, quis que o seu protesto também fosse ouvido: “Este Sócrates não aguenta muito tempo, é só a determinação que o aguenta”.


“A saúde faz imensa falta à população. Estão a atacá-la de uma maneira estúpida”, vincou José Guerreiro, que fez questão de sublinhar – “escreva aí” – que foi preso político antes do 25 de Abril de 1974 durante oito anos, em Peniche e Lisboa.


Já para António Vinhas, um professor de Coimbra, de 54 anos, as questões relativas à educação são as mais preocupantes, nomeadamente o “encerramento arbitrário de escolas”. O docente considerou ainda que “o Ministério da Educação está cheio de burocratas que não sabem nada de ensino”.



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