Eleonora Fonseca Pimentel, a portuguesa de Nápoles, uma aristocrata revolucionária que fundou a República de Nápoles, vai ser evocada amanhã no Porto
Ciências Humanas e Sociais

Eleonora Fonseca Pimentel, a portuguesa de Nápoles, uma aristocrata revolucionária que fundou a República de Nápoles, vai ser evocada amanhã no Porto



Integrado na Giornata della Cultura Italiana na cidade do Porto que decorre nesta cidade desde o dia 24 de Junho vai realizar-se amanhã, dia 3 de Junho às 21h30 na Fundação Eng. António de Almeida, Rua Tenente Valadim, 325), uma conferência sobre a figura de Eleonora Fonseca Pimentel, a portuguesa de Nápoles, uma aristocrata revolucionária, que inspirada pelas ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade da Revolução Francesa, participou activamente na implantação da efémera República de Nápoles contra o domínio espanhol dos Bourbons. Acusada de crime contra o Estado é enforcada na Praça do Mercado de Nápoles em 1799 .Despede-se no cadafalso citando Virgílio: "Forsan et haec olim menimisse juvabit" ( talvez um dia seja bom recordarmos tudo isto).


A conferência intitulada “Eleonora Pimentel Fonseca A portuguesinha de Nápoles tra realtà storica e memoria artistica” estará a cargo de Maria Luisa Cusati, docente de Língua e Literatura Portuguesa nas Universidades L’Orientale e Suor Orsola Benincasa de Nápoles


Seguir-se-á a projecção do filme “Il Resto di Niente” de Antonietta de Lillo (2004), com Maria de Medeiros. Duração 103 min. Versão original em língua italiana com legendas em italiano
O filme é uma análise da Revolução Napolitana de 1799 que vai além dos eventos históricos, mostrando as emoções que galvanizaram a busca de uma nova realidade. Um mundo com distribuição de riqueza justa, o sonho de um país baseado na responsabilidade partilhada,
isso é o que sonhava a República Napolitana. A história é contada por Eleonora Pimentel Fonseca, nobre de origens portuguesas, mulher frágil que foi uma das principais protagonistas daquele momento.
Por meio das suas esperanças, sofrimentos e paixões, descobrimos alguém que não queria ser heroína, não desejava aventuras, não escolheu a revolução, mas quando se viu dentro dela encarou a causa como um compromisso.
No fim da projecção, encontro-debate com a realizadora Antonietta de Lillo


Quem foi Leonor da Fonseca Pimentel

Leonor da Fonseca Pimentel (Roma, 13 de Janeiro de 1752 - Nápoles, 20 de Agosto de 1799), conhecida como Eleonora de Fonseca Pimentel, "A Portuguesa de Nápoles". Ficou na história por ter defendido ideais liberais que conduziram à Revolução e à instauração da malograda República Napolitana (1799).



Ela foi poetisa, escritora, pedagoga, bióloga e uma das primeiras jornalistas europeias. Amiga íntima de intelectuais e revolucionários, desempenhou um papel de relevo na revolução jacobina de Nápoles de 1797, inspirada pelo ideário social e político da Revolução Francesa.

Leonor fundou o jornal oficial da república então instalada - O Monitore Napolitano - considerado o primeiro jornal político napolitano - que teve profunda influência na moderação das decisões do governo revolucionário

Leonor da Fonseca Pimentel, que se considerava "filha de Portugal", cultivou a língua pátria e manteve correspondência com intelectuais portugueses.

Em 1777, chegou a escrever uma peça de teatro de homenagem ao Marquês de Pombal: Il Trionfo della Virtù. Em Nápoles, o seu nome foi dado a uma Escola do Magistério Primário em homenagem à forma denodada como defendeu o primado da educação.

A portuguesa de Nápoles, como ficou conhecida, figura no Pantéon di Martiri dela Libertà, tornando-se, portanto, uma referência do pensamento político italiano. Embora multifacetada, distribuindo os seus esforços pelo jornalismo, a luta política, a biologia, a poesia e a pedagogia, Leonor ficou na História por ter defendido os ideais liberais que conduziram à Revolução jacobina de Nápoles e à instauração da malograda República Napolitana (1797-1799).

Em 1799, Leonor foi acusada de crime contra o Estado e enforcada na Praça do Mercado de Nápoles.

Desde 1997 que a cidade de Nápoles homenageia a vida cultural multifacetada de Eleonora, daí resultando estudos, teses, colóquios e exposições dedicados à sua vida e obra.

Bibliografia
• Benedetto Croce, Eleonora de Fonseca Pimentel, Roma, Tipografia Nazionale, 1887
• Bice Gurgo, Eleonora Fonseca Pimentel, Nápoles, Cooperativa Libreria, 1935
• Maria Antonietta Macciocchi, Cara Eleonora, Milan, Rizzoli, 1993
• Elena Urgnani, La Vicenda Letteraria e Politica di Eleonora de Fonseca Pimentel, Nápoles, La Città del Sole, 1998
• Enzo Striano, Il resto di niente. Storia di Eleonora de Fonseca Pimentel e della rivoluzione napoletana del 1799, Nápoles, Avagliano 1999; Milan, Rizzoli 2001, 2004
• Teresa Santos - Sara Marques Pereira (ed.), Leonor da Fonseca Pimentel. A Portuguesa de Nápoles (1752-1799), "Actas do colóquio realizado no bicentenário da morte de Leonor da Fonseca Pimentel", Lisboa, Horizonte, 2001
• Nico Perrone, La Loggia della Philantropia, Palermo, Sellerio, 2006



Recentemente foi editado entre nós um livro sobre esta figura histórica:

Leonor da Fonseca Pimentel - A Portuguesa de Nápoles (1752-1799), de Teresa Santos e Sara Marques Pereira ( coord.). Editora: Livros Horizonte

Na sua contracapa pode-se ler:
“Morta há duzentos anos, Leonor da Fonseca Pimentel continua na memória contemporânia como exemplo de autonomia e solidariadade, tanto mais notável por a sua vida ter sido extraordinariamente acentuada pelo trágico.Quase desconhecida entre nós, a «Portuguesa de Nápoles», como tambem é chamada, figura no tristíssimo Panteón di Martini della Libertà, em Nápoles, ao lado dos companheiros revolucionários de 1797. Mas Leonor da Fonseca Pimentel não encarna, apenas, a figura da heroína nacional cujo fervor revolucionário se nutria da lata consciência de adesão à causa eleita e cuja actividade se pautava pela coerência para com os princípios da liberdade, igualdade e fraternidade. Também espantam o vigor do trabalho intelectual, a sensibilidade literária, o entusiasmo jornalístico e a lucidez com que, numa época de tão desvairadas paixões políticas – a da Europa pós-revolução Françesa-, soube sempre manter-se equidistante quer do despotismo absolutista quer do radicalismo jacobino.”




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