Dias de Acção e Ocupação ( 11 a 13 de Abril) em defesa dos espaços livres ( Days of Action For Squats and Autonomous Spaces)
Ciências Humanas e Sociais

Dias de Acção e Ocupação ( 11 a 13 de Abril) em defesa dos espaços livres ( Days of Action For Squats and Autonomous Spaces)







Para a Sexta-feira, dia 11, e Sábado, 12 de Abril de 2008, convocamos dois dias de manifestações, acção directa, informação pública, festas de rua, ocupações… em defesa de espaços livres e por uma cultura popular anti-capitalista.
Durante esse dois dias, nós queremos dar mais visibilidade aos espaços autónomos e ocupações, como um movimento político euro/global. Queremos desenvolver interconexões e solidariedade entre as ocupações e espaços autónomos. Queremos continuar ligando os nossos espaços com novas pessoas e novas lutas, e apoiar a criação de espaços autónomos em lugares que não tenham um histórico desse tipo de acção. Queremos construir, passo a passo, as nossas habilidades para ultrapassar essa onda de repressão que cai sobre nós.

Convocamos acções descentralizadas e autónomas de todos os tipos, dependendo do que as pessoas julgarem mais apropriadas para o contexto local. Vocês encontrarão o conteúdo político que desejamos atingir nesses dois dias.

Nós estamos em todos os lugares…

Durante séculos as pessoas usaram ocupações e espaços autónomos, tanto rurais como urbanos, para tomar o controle das suas vidas. Eles são uma arma, uma táctica, e um jeito de fazer com que as pessoas vivam as suas lutas. Durante décadas, os movimentos de ocupações ao redor, e além, da Europa, lutaram contra o desenvolvimento do capitalismo, contribuindo com lutas locais contra a destruição do espaço ao serviço das comunidades, e oferecendo alternativas à civilização de lucro e à cultura de consumo; mantendo ainda centros sociais e actividades participativas fora da grande economia. Mostraram com isso as possibilidades de uma auto-organização sem hierarquia; criando redes internacionais de troca e solidariedade. Essas redes mudaram muitas vidas, quebrando o controle social e oferecendo espaços livres onde as pessoas podiam viver fora da norma.

Entre outras coisas, esses lugares oferecem bases para encontros e projectos, para a criação e distribuição de cultura subversiva, para uma não-monetária troca de produtos, recursos e conhecimentos, para experimentação de outras formas de viver, para debates colectivos, para reciclagem e construção, para actividades agrícolas, para a produção de media independente.

Quando falamos de ocupações urbanas ou de compra de terra, de negociação ou re-apropriação de terra rural, de fábricas recuperadas ou prédios construídos, queremos dizer que esses espaços são refúgios para rebeldes e foras da lei, pobres e sem-tectos, activistas radicais, imigrantes ilegais. Os centros sociais são cruciais para nós como parte de um movimento por mudanças sociais.

Por toda Europa, os governos estão a adoptar agendas repressivas

Eles estão atacando espaços autónomos “velhos de guerra” como o Ungdomshuset em Copenhagen, Koepi e Rigaer Strabe em Berlim, EKH em Viena e Les Tenneries em Dijon, centros sociais ocupados em Londres e Amsterdam, Ifanet em Thessaloniki, etc. Na França, as ocupações tornaram-se um alvo prioritário para a policia depois do movimento anti-CPE e da onda de acções e revoltas que aconteceram durante o período de eleição presidencial. Na Alemanha, muitos espaços autónomos foram procurados e atacados antes da reunião do G8. Em Génova e Barcelona, duas antigas e grandes ocupações “fortalezas”, as autoridades decidiram tentar colocar um termo no movimento. Enquanto ainda é possível ocupar prédios vazios em alguns países, em outros isso já se tornou crime. Na zona rural, o acesso à terra está-se a tornar mais difícil e as comunas estão enfrentando problemas de legislação em relação a higiene, seguranca e gentrificação pelos burgueses e turistas. Por toda Europa, culturas independentes estão sendo ameaçadas.

Há alguns meses atrás vimos batalhas nas ruas de Copenhagen e acções por toda Europa numa explosão de fúria pela expulsão do centro social Ungdomshuset. Desde então, com mais algumas histórias de resistência que aconteceram nos últimos meses, nós decidimos renovar o significado de solidariedade internacional.

Nós somos motivados pela mesma paixão, nós sentimos a mesma determinação, encaramos um inimigo comum na repressão, e estamos unidos através das fronteiras pelo nosso desejo de construir um mundo de igualdade e determinação própria. Como ilhas sem controle de liberdade, sem governantes ou aliados, nós desejamos continuar agindo em solidariedade, e fortalecer os nossos laços internacionais, não importando quantos quilómetros existem entre nós.
As questões a levantar

Nós também gostaríamos que esses dias de acções servissem para iniciar e inspirar discussões, para demonstrar várias possibilidades & estratégias, para ser uma ocasião de compartilhar habilidades. Esses são alguns dos tópicos que queremos abordar:

• O que entendemos sobre espaços autónomos e o que esperamos deles? Qual é o papel deles na mudança social radical? Onde eles se encontram na escala de “alternativo” à “confrontação”?


• Compartilhar informação sobre a diversidade das actividades que acontecem nos espaços sociais e sobre as ideias, de como fazê-las funcionar; questionar a produção de bens e serviços; e encorajar a troca de conhecimento principalmente entre o campo e a cidade.

• Compartilhar experiências, inspirar uns aos outros, descobrir como os outros vivem colectivamente e suas actividades, sistemas alternativos de economia de trocas…

• Compartilhar várias formas de ocupar espaços pela Europa: ocupações ilegais, construções do tipo faça você mesmo, “wagenburgs”, compras colectivas, contactos livres…

• Compartilhar recursos práticos e um sentimento de solidariedade entre:
o usuários diferentes dos espaços autónomos (actuais e potenciais): cooperadores, pessoas sem documentos, activistas, viajantes, imigrantes, citadinos, negociantes rurais, pequenos fazendeiros; as diferentes formas de utilizar os espaços; actividades para a comunidade, espaço de encontros para grupos, espaços de convivência;

• Possibilitar a formação de estratégias comuns quando enfrentada a repressão estatal ou despejo.



Quem somos nós, como podemos colaborar com este projecto, e fazê-lo acontecer?

DE momento, nós somos um grupo de pessoas envolvidas com vários espaços autónomos pela Europa, que decidimos começar a discutir este Apelo. Nós encontramo-nos em vários colectivos durante os próximos meses para ver como as pessoas se sentem a respeito desta proposta de dias de acção européia, e como eles pretendem senvolver-se. O sucesso das acções depende muito da nossa capacidade de criar um grande grupo internacional de trabalho. Isso significaria que todos têm de tomar parte e precisam de discutir a ideia em diversos espaços, criando e distribuindo materiais de divulgação e redes de informação sobre o que acontecerá em cada espaço durante esses dias.


Retirado de:
http://april2008.squat.net:8080/

http://squat.net/

www.wombles.org.uk/article2008031695.php

www.housing-matters.org.uk/


CONVITE

11 a 13 Abril 2008, na CasaViva ( no Porto)

Dias de Acção e Ocupação ( 11 a 13 de Abril)

A ideia de espaço público constitui – já desde a antiguidade clássica – a base da democracia enquanto prática quotidiana. Se, na antiga Grécia, esta nunca foi alargada à grande parte da população (mulheres, estrangeiros e escravos nomeadamente), actualmente a sua inexistência é inerente à própria condição cidadã. A democracia, de dinâmica passou a regime, e o espaço público – onde as grandes questões eram alvo de decisão por parte das pesssoas – foi destruído e “dividido” em fábricas e outros locais de trabalho, centros comerciais, clínicas psiquiátricas ou centros de dia. A vida passou a ser uma realidade espácio-temporal baseada na incessante satisfação de necessidades e não na reflexão, no debate, no livre pensamento, na possibilidade e responsabilidade de decidir sobre o que nos diz respeito.

A cidade é o palco por excelência deste processo de privatização social da vida – não de individualização –, em que a relação com o outro depende essencialmente de uma lógica instrumental. O contacto com o próximo é cada vez mais determinado pelo que queremos pedir, pelo que precisamos, pelo que temos que dar, pelo que está escrito no contrato de trabalho, pelo que é definido pelas regras de boa educação, pelo o que poderei vir a escrever no livro de reclamações. Não pela dupla vontade de exprimirmos a nossa individualidade e de recebermos a individualidade dos outros, um privilégio que, sendo sujeito a um processo de institucionalização temporal – depois das 6 da tarde, antes das 8 da manhã – deixou obviamente de o ser. E quando a normalidade se torna a definição oficial da mais profunda instabilidade – do emprego que não há, mas que se tem de ter, das contas que não param de aumentar, mas que se têm de pagar, de uma vida da qual não se gosta, mas tem que ser vivida – passa a ser não oficial o conflito, nas suas múltiplas formas.

A criação de linhas de fuga e de resistência passou e passa pela organização de novas esferas semi-públicas de discussão e convivência, que funcionem fora da lógica do estado e capital. Segundo Hakim Bey, surge a possibilidade de grupos de amigos isolados assumirem uma forma mais complexa: “núcleos de aliados mutuamente escolhidos, trabalhando (brincando) para ocupar cada vez mais tempo e espaço fora de todos os controlos e estruturas mediadas. Depois quererá transformar-se numa rede horizontal de semelhantes grupos autónomos – depois, numa “tendência” – depois, num “movimento” – e depois numa rede cinética de “zonas autónomas temporárias” [T.A.Z]”.

É com base na ideia de que “não há um metro quadrado da Terra sem polícias ou impostos…em teoria”, e de que é possível criar enclaves livres, “mini-sociedades que vivam resoluta e conscientemente fora do amplexo da lei”, que ocorrem, ao longo da década de noventa, ocupações de casas e tentativas de organização de centros sociais em Portugal. Apesar de ser um pouco redutor englobar todas estas experiências numa só tendência, podemos afirmar – em abstracto – que foram lugares propícios à espontaneidade e aos acasos da vida quotidiana, tendo possibilitado encontros com pessoas de fora, partilha de saberes, a oportunidade de fazer as coisas de uma outra maneira e, desde logo, equacionar modos de agir no mundo.

O aumento da repressão, aliado à crescente afirmação das cidades enquanto núcleos geradores de produtividade (e também a uma certa atitude de isolamento dogmático por parte de vários colectivos ocupas), determinou o fim de quase todos os centros sociais ocupados (a C.O.S.A vive!). Porém, este fenómeno é apenas um pequeno indício de um longo processo de transformação dos centros urbanos em centros de negócios. Casos como o do Mercado do Bolhão, no Porto, e do Grémio Lisbonense, em Lisboa, tornam mais visível a tendência dominante para o desaparecimento de tudo o que destoa do modo de funcionamento empresarial. Mais do que nunca, e perante a multiplicidade de processos de objectivação do quotidiano – muitos dos quais com um pendor fortemente repressivo –, a criação de espaços libertados (e que queiram libertar) deverá constituir uma das principais estratégias orientadoras da luta anti-autoritária.

A 11, 12 e 13 de Abril, a CasaViva abre-se a todas as pessoas e colectivos que nela queiram viver por esses dias e partilhar perspectivas e acções relacionadas com a questão da ocupação, aproveitando os dias europeus de acção de apoio a squats e espaços autónomos lançados pela rede Squat.net.

Os temas serão: centros sociais, okupas e espaços libertados, o mau uso da terra e a sua propriedade, a apropriação de espaços públicos pelo mundo dos negócios através da privatização, da especulação e da publicidade. E tudo o mais que te lembrares até lá.

O desafio é o habitual. Traz ideias de acção (e tudo o que elas precisarem para serem levadas a efeito) e disponibilidade para participar nas acções pensadas por outras pessoas. Vem preparado para seres co-gestor(a) do espaço.

Aparece na sexta, para se combinarem e coordenarem as acções de sábado, batalha com as outras pessoas nesse dia e fica para o domingo, onde esperamos ter tempo para conversar calmamente.

Durante esse tempo, haverá, decerto, café, cerveja, pequeno-almoço e jantar e, muito provavelmente, concertos, filmes e festa.




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