Aquilo que vemos, depende basicamente do que procuramos ver
. [ John Lubbock ]
Cada historiador é filho do seu tempo, não podemos o julgar, pois vivemos em contextos históricos diferentes. Muitos equívocos ocorrem quando quem lê a história escrita por pessoas de outro tempo a vê com um olhar atual e acaba realizando julgamentos precipitados. Esses julgamentos ocorrem muito quando pensamos em Varnhagen(1816-78) que tinha como seu ‘’protetor’’ o Imperador do Brasil que ofereceu-lhe recursos para a sua obra pois precisava dos historiadores para legistimar-se no poder.
A obra História Geral do Brasil escrita por Varnhagen faz um elogio à colonização portuguesa, como José Carlos Reis in As Identidades do Brasil de Varnhagen a FHC sintetiza: ‘’Eis a história de que o Brasil recém-idependente precisava, ou seja, de que as elites brasileiras precisavam para levar adiante a nação, nos anos 1840-60. Uma história que realizasse um elogio à colonização no Brasil, dos seus heróis portugueses do passado distante e recente. [...] Uma historia que não falasse de tensões, separações, contradições, exclusões, conflitos, rebeliões, insatisfações, pois uma história assim levaria o Brasil à guerra civil e à fragmentação; isto é, abortaria o Brasil que lutava para se construir como poderosa nação. O que Von Martius tinha elaborado não era uma tal história ainda, mas somente o seu projeto, que ele próprio recusara a levar adiante.’’(p.28) Assim, Varnhagen tomará para si esta tarefa e se tornará o primeiro grande inventor do Brasil, sendo comparado com Heródoto.
Hoje, podemos observar na obra de Varnhagen que este quis produzir a ‘’verdade histórica’’ do Brasil e assim como RANKE, quis narrar os eventos tal como se passaram. Algo que hoje sabemos que é impossível, pois não há neutralidade no discurso, mas mesmo assim vemos a importância de Varnhagen, pois com sua obra podemos ter contato com o olhar do colonizador português, como CANABRAVA(1971) cita ‘’A sua obra é o monumento da história brasileira do século XIX. Sua ‘’nova história’’, abasteceu-se de valioso material inédito, que lhe deu uma consistência nunca antes alcançada.’’
Quando a Monarquia abalou-se a obra de outro historiador tomou conta do cenário historiográfico brasileiro, ele chamava-se Capistrano de Abreu(1853-1927) nascido no Ceará e sobretudo um homem autodidata, era humilde, discreto, tímido, avesso a títulos e glórias e indiferente a audácia e perícia do trabalho que realizava. Capistrano é considerado o ‘’Heródoto do Povo Brasileiro’’, pois quando Capistrano escreve ‘’Capítulos de História Colonial’’ publicada em 1907, se torna um dos iniciadores da corrente do pensamento histórico brasileiro que ‘’redescobrirá o Brasil’’, valorizando o seu povo, as suas lutas, os seus costumes, a miscigenação, o clima tropical e a natureza brasileira; atribuiu a este povo a condição de sujeito da sua própria história- características esquecidas quando a Monarquia consolidava-se.
Mesmo Capistrano e Varnhagen possuindo características extremamente diferentes principalmente como citado anteriormente devido a época em que viveram, mesmo porque Capistrano não faz um elogio da conquista e colonização portuguesa, mas da conquista e colonização do Brasil pelo brasileiro mestiço. Algo que Varnhagen não aceitaria de jeito algum, porém Capistrano aproxima-se de Varnhagen, pois faz ainda uma história factual, relatando os feitos dos portugueses em sua conquista; uma história cheia de nomes e datas, de eventos contados em um ritmo quase diário e também dá ênfase à documentação escrita tendo um estilo ainda descritivo e narrativo, porém mesmo com todas essas semelhanças com a obra de Varnhagem ‘’Capistrano, no entanto será diferente da sua geração. Ele reabrirá o futuro do Brasil, vencerá o pessimismo existente entre os intelectuais brasileiros que olhavam o Brasil com as teorias deterministas européias[...] formulou uma nova interpretação do Brasil que enfatizará o tempo histórico especificamente brasileiro’’. (ODÁLIA)
Assim, vemos que ambos historiadores sofreram influencias diretas do tempo em que viveram, e isso têm grande influencia até hoje, pois sem eles outros historiadores como Gilberto Freyre. Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Junior tiveram que estudar esses autores para conseguirem entender a época que foi escrito, como pensavam e etc.
Bibliografia:
REIS, José Carolos. AS IDENTIDADES DO BRASIL- DE VARNHAGEM A FHC.
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