Vamos estudar os movimentos sociais indígenas, as principais zonas ou focos de tensão na América Latina e questões fundamentais, como o narcotráfico na Colômbia, o movimento indígena na Bolívia e Chiapas e os conflitos políticos no Peru, diante da relevância deste conteúdo na atualidade. A diversidade da população indígena na América Latina é grande. Ela está mais concentrada no México, Peru e Bolívia.
Vamos abordar alguns pontos principais a respeito dos conflitos regionais e a questão das identidades socioculturais (étnicas, tribais e religiosas) e as principais áreas de ocorrência dos conflitos. Não vamos aprofundar muito sobre cada conflito, pois não há tempo suficiente, mas você poderá obter maiores informações no site citado no final da matéria (são temas certeiros no vestibular).
Chiapas
No estado de Chiapas, localizado no sul do México, na fronteira com a Guatemala, os camponeses indígenas maias formaram o movimento Zapatista, revelando a insolubilidade da questão agrária na sociedade capitalista e a intensificação do problema em conseqüência das políticas econômicas neoliberais. Iniciado em 1º. de janeiro de 1994, o movimento zapatista começou no mesmo dia em que entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e, ao longo do processo político que envolveu diversas organizações ? como os movimentos estudantis e operários ?, organizou-se a Frente Zapatista de Libertação Nacional (FZLN).
Chiapas é o estado mais pobre do México. Apesar dos duros combates iniciais contra as tropas do governo, o FZLN aposta em ações pacíficas e de impacto - como a ocupação de povoados e a organização de congressos políticos internacionais no meio da selva de Chiapas. Sua plataforma prevê a democratização do país e a ampliação da autonomia e das oportunidades para os grupos indígenas. As negociações de paz não evoluem. Os rebeldes denunciam a fraude e a intimidação de eleitores.
Haiti
Inicialmente, entre 1950 e 2005, os indicadores sociais e econômicos haitianos permaneceram muito negativos, e o país tornou-se o mais pobre da América Latina. A crise política, econômica e social vivida pelo país há anos, foi intensificada após a ditadura de François ?Papa-Doc? Duvalier e a de seu filho Jean-Claude Duvalier (chamado Baby Doc), encerrada em 1986, deixando o país tumultuado e instável. Entre 1990 e 2000, o país sofreu intervenções da ONU e dos Estados Unidos, quando estava sob administração de Bill Clinton e de George Bush (filho). O Brasil participou enviando forças de paz a pedido do governo norte-americano e da ONU. Nesse período, alguns militares tentaram manter-se no poder impondo a ditadura, mas ONU e EUA estavam sempre interferindo, idealizando liberdade e democracia para o país (mas os EUA tinham motivos econômicos e estratégicos para tal). O Brasil comanda a força militar na missão de paz da ONU no Haiti desde junho de 2004. Os 1,2 mil soldados do país, que estão no Haiti, formam o maior contingente brasileiro enviado ao exterior desde a 2ª Guerra Mundial. Essa força militar na missão de paz procura garantir a estabilidade no país e auxiliar na manutenção da segurança para realizar novas eleições, após a queda do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. Era necessário consolidar um efetivo que substituísse a Força Multilateral Interina (MIF, pela sigla em inglês), formada por Estados Unidos, Canadá, França e Chile e que se mantinha no país desde a queda de Aristide. A missão no Haiti enfrentou um quadro incompleto de militares previstos pela ONU. Segundo o Exército, isso dificultava a atuação nas áreas mais críticas do país, onde gangues, rebeldes e grupos armados mantinham conflitos permanentes com civis e com a Polícia Nacional haitiana. Os conflitos entre os grupos armados e a Polícia Nacional eram constantes. Organizações não-governamentais chegaram a criticar a atuação da ONU, ao alegar que a atuação da missão permitia a violação de direitos humanos. A acusação foi negada pelo comando militar e pelas autoridades do governo brasileiro. O governo brasileiro fez atuações junto ao Conselho de Segurança da ONU para aumentar o efetivo militar no Haiti. Também fez pedidos de ajuda internacional para projetos de infraestrutura, cooperação internacional e visitas do próprio ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, para avaliar a situação política pré-eleitoral no país.
O terremoto em 12 de janeiro de 2010 colaborou para agravar a situação crítica do país.
Movimentos políticos no Peru
Dois movimentos guerrilheiros atuam no país: o Sendero Luminoso, fundado em 1975, ligado à guerrilha rural, cujas ações, historicamente, foram violentas e líder preso pelo governo de Fujimori e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru, inspirado nas idéias de Che Guevara (um dos mais famosos revolucionários comunistas da história, nascido em Rosario, Argentina) e que concentrou suas atividades nas cidades. Ao prender os principais líderes desses movimentos, a atuação do governo contribuiu para o aumento das atividades guerrilheiras no país no final da década de 1990. Outro ponto: a situação litigiosa (disputa) fronteiriça que o Peru enfrenta com o seu vizinho Equador, o que levou os dois países a travarem conflito armado em 1998.
Movimentos indígenas na Bolívia
Na Bolívia, prevalece uma segmentação cultural na estrutura de oportunidades e de mobilidade social, notória na estratificação étnica do mercado de trabalho: no país, um indígena recebe em geral um terço do salário de um não-indígena. Conseqüentemente, a maioria da população pobre do país é indígena. 62% dos habitantes maiores de quinze anos se auto-identificam, na Bolívia, como pertencentes a algum povo indígena, e pouco mais de 40% da população tem como língua materna um idioma indígena. Entre os 38 povos indígenas e seus descendentes que existem na Bolívia, os dois mais importantes são os quíchuas (abarcam 30% da população total do país) e os aimarás (25%). Na sua maioria, os primeiros estão instalados nas zonas dos vales, enquanto os aimarás encontram-se no planalto, tanto rural como urbano. Não se pode falar em um único movimento indígena no país, devido à diversidade histórica dos povos indígenas na Bolívia, pois existem vários envolvidos nas lutas sociais e políticas travadas, tanto em relação ao governo como também contra empresas transnacionais que atuam no país explorando seus recursos naturais. A Bolívia é rica em recursos naturais, mas extremamente pobre quando a questão é o usufruto coletivo dessas riquezas. Além de serem vários, os movimentos indígenas são muito distintos em suas reivindicações, em suas atitudes diante do Estado, em seus métodos de mobilização, em suas identidades e em suas bases sociais. Atualmente, esses movimentos formam uma força política indiscutível, sem a qual é impossível pensar a futura história estatal do país, como ficou demonstrado na eleição de Evo Morales (2006) e na intervenção da Petrobras pelo governo boliviano.
Colômbia
As origens dos conflitos armados na Colômbia são, fundamentalmente, de ordem política doméstica e se associaram a um conjunto de fatores estruturais e outros que emergiram em diferentes conjunturas ao longo das últimas cinco décadas:
- o processo de formação do estado colombiano aconteceu sob um padrão de desarticulação regional, que ensejou (propiciou) uma cultura política autoritária e estruturas de poder difusas (indescritível);
- a propensão histórica na sociedade colombiana ao recurso à violência, visando à consecução (ato ou efeito de conseguir) de objetivos políticos;
- o caráter preponderantemente excludente das estruturas políticas e socioeconômicas do país;
- o padrão conflitivo de relacionamento entre os Partidos Liberal e Conservador;
- a proliferação de grupos guerrilheiros nas décadas de 1950 e 1960, no contexto da Guerra Fria (1947-1989) e sob forte influência dos ideais revolucionários propagados pela União Soviética, e, com maior impacto, o advento da Revolução Cubana (1959);
- a proliferação de grupos paramilitares e as diferentes estratégias contra-insurgentes (contra-rebeldes) levadas a cabo pelo governo colombiano entre os anos 1960 e 1980;
- a crescente influência do narcotráfico na vida nacional a partir da década de 1980, associado a problemas políticos e sociais enraizados na Colômbia (corrupção, impunidade, pouca credibilidade das instituições e da classe política e propensão à violência para dirimir ? resolver ? conflitos).
O atual conflito armado tem suas origens na violência política que o país viveu na década de 1950, associada aos conflitos agrários e à hegemonia do sistema bipartidarista (dois partidos) como modelo principal do regime político colombiano. Neste, as classes dirigentes exerciam a orientação ideológica por intermédio de dois partidos políticos: Liberal e o Conservador. A partir de 1965, outros atores entraram nesse cenário de conflitos políticos, como os grupos de insurgência (rebeldes) armada que, com sua orientação ideológica de esquerda, surgiram como frentes de oposição ao regime político bipartidarista. A consolidação de organizações armadas de oposição aconteceu na década de 1960, quando apareceram no cenário nacional, entre outros e principalmente:
- as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs) que, arraigando-se nas localidades camponesas, são a mais antiga e até hoje ativa organização guerrilheira, cujo surgimento se deu como um movimento camponês e como organização armada inspirada no comunismo soviético. Na atualidade, conta com uns 15.000 militares repartidos em 60 frentes, agrupados em 7 blocos que operam em todo o país;
- o Exército de Libertação Nacional (ELN), organização que teve sua inspiração na Revolução Cubana e que, por adotar a figura de Camilo Torres (o sacerdote guerrilheiro) como seu principal símbolo, passou a denominar Unión Camilista Ejército de Liberación Nacional (UC-ELN), sendo a segunda organização armada de oposição que ainda continua ativa;
- o Exército Popular de Libertação (EPL), criado em 1965 como dissidência (separação) maoísta (corrente do comunismo baseada nos ensinamentos de Mao Tse Tung) do movimento colombiano e que, após seu processo de desmobilização e reinserção em 1990, passou a se denominar Movimento Esperanza, Paz y Libertad, com ativa participação na vida política nacional.
Em meados da década de 1980 e, de forma mais clara, nos últimos dez anos, as pressões fronteiriças manifestaram-se com maior vigor. Os fatores que levaram o conflito a transcender (ultrapassar) suas origens e o âmbito doméstico (suas fronteiras), até então justificados como fatores externos condicionantes, mas não determinantes, foram o tráfico de drogas, de armas e munições e demais recursos para abastecimento dos movimentos guerrilheiros. É recorrente a presença de combatentes, narcotraficantes e outros ligados a atividades clandestinas em faixas de fronteiras ou mesmo em território de países vizinhos, interferindo também nos fluxos de migração forçada que acompanharam os momentos de escalada do conflito internamente. Esses fatores indicados afetaram diretamente as fronteiras da Colômbia com Peru, Equador e Venezuela (em função das conexões mais acessíveis que suas fronteiras propiciam para as rotas de tráfico e para a movimentação de pessoas e recursos ligados à guerrilha), e nos últimos anos, das fronteiras da Colômbia com o Panamá. O Brasil, por sua vez, aumentou a presença militar nas fronteiras com a Colômbia e ativou um sistema de vigilância do espaço aéreo amazônico sob sua jurisdição, procurando, assim, dissuadir e, eventualmente, repelir a presença de guerrilheiros em território brasileiro.
Tanto a Colômbia, como também seus países vizinhos, foram afetados pela política de combate ao narcotráfico, empreendida pelos Estados Unidos a partir da década de 1980. Isso ocorreu em função do conflito ter sido redimensionado a partir de então, desencadeando processos inéditos, tais como:
- o deslocamento dos cultivos ilícitos de coca que, até meados da década de 1990, foi acompanhado pela importância adquirida pelas estruturas de controle do tráfico (grandes cartéis de Cali e Medellín), cujo desmantelamento, por sua vez, colaborou para aumentar o poder da rede mais difusa e articulada que lhes sucedeu;
- a crescente politização e influência que a política anti-narcóticos dos Estados Unidos assumiu no país e em toda a região, ocasionando uma progressiva dependência de parte dos países andinos e, em particular, da Colômbia. Esse último caso pode ser exemplificado com a cooperação norte-americana perante o enfrentamento do narcotráfico em suas distintas dimensões (produção, processamento, distribuição, consumo e lavagem de dinheiro);
- o crescimento da influência política e militar dos Estados Unidos ao longo da última década e, de forma pronunciada, no Governo de Álvaro Uribe, quando forte convergência foi estabelecida com o governo norte-americano quanto ao diagnóstico, à caracterização do conflito e às estratégias para enfrentá-lo, contribuindo de forma direta para que o conflito colombiano adquirisse projeção internacional e ampliado a partir da associação do conflito doméstico com o terrorismo após os atentados de 11/09/2001 contra os Estados Unidos;
- por último, em decorrência dos aspectos explicados, em virtude de incorporar um forte componente de militarização da região, a implementação do Plano Colômbia passou a ser motivo de grande preocupação para as sociedades e governos dos países vizinhos, inclusive o Brasil, em razão da presença intervencionista dos Estados Unidos na região. Tal fato modificou a percepção do problema pelos países vizinhos que, nos últimos anos, vêm esforçando-se para equilibrar a presença norte-americana, buscando formas de cooperação ativa com o governo colombiano.
Para maiores informações e detalhes, acesse esse site (http://pt.wikipedia.org) ou pesquise em livros didáticos e almanaques.