Activistas do GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) lutam em COPenhaga pela justiça climática
Ciências Humanas e Sociais

Activistas do GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental) lutam em COPenhaga pela justiça climática



Fonte do texto: http://www.gaia.org.pt/node/15208

Um grupo de jovens ambientalistas do GAIA viajou até Copenhaga, onde decorre a 15ª Conferência das Partes (COP15) sobre o clima. As activistas criticam a falta de legitimidade deste espaço de decisão, que não só tem sido totalmente ineficaz na redução de emissões de carbono, como tem acentuado as injustiças sociais através de mecanismos de mercado e outros esquemas tipicamente colonialistas. Vão tomar parte nos protestos para bloquear a cimeira e iniciar novos processos de base, que possam abrir caminho para uma verdadeira justiça climática.

Quem somos?

Consideramo-nos representantes de uma nova classe emergente; educadas ao nível de mestrado, sensibilizadas com uma tal consciência dos problemas sociais, ambientais e espirituais globais que não nos dispomos a sucumbir ao individualismo.
Tudo o que sabemos faz-nos olhar para o sistema capitalista, com que crescemos, como a raiz dos problemas na nossa sociedade. Um simples exemplo é a correlação entre a última crise económica, durante a qual houve uma diminuição de produção e a diminuição de três por cento de emissões de CO2 a nível global. A este exemplo se juntam mais, que nos obrigam a desconstruir o mito do progresso e do crescimento económico constante, sem tomar em conta os limites do nosso próprio planeta.

Porquê?

Acreditamos que podemos ter uma boa influência no que se vai passar nas ruas de Copenhaga. Como indivíduos isolados não temos grande voz, mas se juntarmos todas as vozes reclamando decisões comprometedoras, podemos gritar até nos escutarem no Bella Center, o centro onde os políticos mais poderosos decidem do futuro do nosso clima. Somos elementos integrantes dos Ritmos de Resistência (internacional Lisboa) e do Exército Clandestino Insurgente de Palhaços Rebeldes, duas redes internacionais que usam a frivolidade táctica, inspirada no carnaval, para confrontar e criticar sistemas de dominação e apoiar todos os que lutam contra a exploração e a opressão.
Não queremos passar o Natal numa cela, pois não é nesse ambiente que nos sentimos em casa; estas manifestações poderão ser perigosas, pois as autoridades tudo farão para proteger a elite governante e o status quo, mas as alterações climáticas JÁ SÃO PERIGOSAS. Por isso, estar aqui é plenamente justificado.

Como chegámos aqui?

Os transportes estão na raiz do debate sobre as alterações climáticas, em particular na Cimeira de Copenhaga, porque o contributo para as emissões de indústrias altamente emissoras como a aviação ou transporte marítimo não estão incluídas nos tratados. Escolhemos deslocar-nos deliberadamente de uma forma sem emissões adicionais de CO2, pedindo boleia a camionistas e particulares que íam em direcção de Copenhaga.

Qual é a nossa posição?

Queremos delegitimizar as negociações a partir do topo, dado que, como mostram os últimos 14 anos (a Cimeira da Terra, de onde saiu a Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, teve lugar em 1992), não conseguiram reduzir as emissões de carbono, bem pelo contrário.
Pelo menos 300 000 pessoas morreram já por causas relacionadas com as alterações climáticas. No que ameaca ser o acto de extinção em massa mais relevante do período corrente, são mais uma vez as pessoas que tiveram má sorte de nascer em países do Sul global que serão mais afectadas. Para além disto, as decisões já tomadas nas últimas 14 COPs, não têm contribuído em nada para uma verdadeira justiça climática – pelo contrário, vêm pejados de um colonialismo asqueroso, da ideia de que temos que ajudar os países pobres a reduzir as nossas emissões com as nossas magníficas tecnologias (as mesmas que nos ajudam a ser tão eficientes que temos emissões per capita várias vezes superiores a esses países!).
Os culpáveis da presente crise climática compram direitos de emissões de carbono (chama-se “offset”) aos países que, devido a um menor desenvolvimento industrial, não têm tantas emissões. Um esquema não muito distinto das indulgências medievais adquiridas pelos fiéis para os livrar dos seus pecados. Noutros casos, limpam a sua consciência plantando eucaliptos clonados ou geneticamente manipulados, nefastos para os ecosistemas locais e para os indígenas em países como o Brasil (para mais informações sobre este programa de “reflorestacão” conhecido como REDD, ver
http://www.natbrasil.org.br/).
Não queremos apenas criticar, mas também sensibilizar cada cidadão deste planeta. Apesar das gotas insignificantes que cada um de nós constitui, somos capazes de ajudar a preservar o que resta do equilíbrio dos nossos sistemas ecológicos e sociais, introduzindo pequenas mudanças na sua vida diária.



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