Uns vão bem e outros mal, e Cantiga do desemprego: duas das canções inconfundíveis de Fausto
Advertência: a montagem visual dos vídeos que se reproduzem a seguir é completamente alheia a este blogue. Limitámo-nos a divulgar a música e as letras de um dos mais notáveis criadores da música popular portuguesa com o recurso ao material audiovisual disponível no you tube. O compromisso social e a qualidade da música de Fausto já há muito que mereciam uma presença neste blogue.
Uns vão bem e outros mal
Senhoras e meus senhores, façam roda por favor Senhoras e meus senhores, façam roda por favor, cada um com o seu par Aqui não há desamores, se é tudo trabalhador o baile vai começar Senhoras e meus senhores, batam certos os pézinhos, como bate este tambor Não queremos cá opressores, se estivermos bem juntinhos, vai-se embora o mandador Vai-se embora o mandador Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição De velhas casas vazias, palácios abandonados, os pobres fizeram lares Mas agora todos os dias, os polícias bem armados desocupam os andares Para que servem essas casas, a não ser para o senhorio viver da especulação Quem governa faz tábua rasa, mas lamenta com fastio a crise da habitação E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição Tanta gente sem trabalho, não tem pão nem tem sardinha e nem tem onde morar Do frio faz agasalho, que a gente está tão magrinha da fome que anda a rapar O governo dá solução, manda os pobres emigrar, e os emigrantes que regressaram Mas com tanto desemprego, os ricos podem voltar porque nunca trabalharam E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição E como pode outro alguém, tendo interesses tão diferentes, governar trabalhadores Se aquele que vive bem, vivendo dos seus serventes, tem diferentes valores Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos para lembrar Que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a trabalhar Segura bem o teu par, que o baile vai terminar Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição
Fausto, in Madrugada dos Trapeiros, 1978
Cantiga do Desemprego
Fumo um cigarro deitado no mês de Janeiro. Fecho a cortina da vida, espreguiço em Fevereiro. E procuro trabalho nesta esperança de Março. Já me farta tanto Abril e aquilo que não faço. Espreito por um funil a promessa de Maio, porque esperar o prometido, nessa já não caio. Queimo os dias de Junho no sol quente de Julho. Esfrego as mãos de contente num sorriso de entulho. Para teu grande desgosto, janto contigo em silêncio e lentamente esquecido, digo-te adeus em Agosto. Meu Setembro perdido numa esquina que eu roço. E penso em Outubro o menos que posso. Mas quando sinto a verdade daquilo que cansa, nunca houve vontade do tempo de andança. E sinto força em Novembro, juro luta em Dezembro. E sinto força em Novembro, juro luta em Dezembro
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