Universidade: conceito e evolução
Geraldina Porto Witter
Universidade Camilo Castelo Branco, São Paulo-SP, Brasil
Castilho, F. (2008). O conceito de universidade no projeto da UNICAMP (A. G. T. Soares, Entr.). Campinas, SP: EdUNICAMP.
Fausto de Castilho é um nome de destaque na filosofia do Brasil, Professor Emérito da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), lecionou também na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP). Participante ativo da criação da UNICAMP, foi fundador e primeiro diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) desta universidade. O presente livro é a exposição de uma entrevista que Castilho concedeu a Alexandre Guimarães Tadeu de Soares, doutor em Filosofia, Pós-doutor na Universidade de Paris e Nanterre e na École Pratique des Hautes Études (Sourbone). Soares conduziu a entrevista e organizou a obra.
Como apresentação do livro, o organizador explicita as razões subjacentes ao longo questionário respondido por Castilho, cujas respostas recuperam informações históricas e são verdadeiras aulas conceituais de Filosofia, de História e de Educação, tornando-se leitura de grande interesse para quantos se dedicam à vida universitária.
A obra foi organizada em duas partes. A primeira parte tem por título Reflexões sobre os antecedentes da instituição e compreende quatro capítulos. O Capítulo 1 discute a questão da idéia de criação da UNICAMP, da qual o entrevistado participou desde os primeiros momentos e já pregava a proposta de uma configuração radial. Durante esta parte da entrevista são enfocados temas como o tardio desenvolvimento da universidade brasileira, as dificuldades, a cultura dos autodidatas, bem como as dificuldades para superá-la. São retomados acontecimentos relevantes da história que estabeleceram o quadro que dificultou o florescer do ensino superior no Brasil. Relembram-se o Conselho de Trento, a atuação de Pombal, a atuação da Igreja, as reformas de ensino, a criação das academias de ciências. Ao final do capítulo, apresenta-se uma síntese da concepção brasileira de ensino superior marcada pelos aspectos do ensinismo, do profissionalismo, do privatismo, do autodidatismo e do substituísmo, que são marcas comprobatórias da imaturidade do aparelho educacional brasileiro.
O Capítulo 2 trata do conceito de universidade moderna roposto por Humboldt e sua influência na criação e reformulação de várias universidades. Apresenta-se uma revisão do Memorando de Humboldt de grande valia para ser considerado na reatualização destas instituições, das quais o Brasil é muito carente. No Capítulo 3, os temas da entrevista foram os antecedentes mais recentes do ensino superior brasileiro, as reformas do ensino, a proposta de criação de Universidade no Rio de Janeiro, a situação do Estado de São Paulo e os pressupostos para a criação da USP. No Capítulo 4, a entrevista foca a história mais recente, tendo por atores a USP, a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de São Paulo no ABC. Quanto à USP, retomam-se suas origens, as premissas básicas, o papel integrador previsto para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, e o espírito universitário gerindo a implantação da universidade. No contexto latino-americano foi elaborada a proposta da UnB em uma perspectiva de integração, inovação e completude. Em seguida, a atenção do leitor é dirigida para o projeto da Universidade Federal de São Paulo no ABC, que não vingou em decorrência da ação do governo federal.
A segunda parte do livro é dedicada à UNICAMP, o que justifica plenamente sua inclusão entre as obras comemorativas dos 40 anos desta universidade. No início da entrevista, no Capítulo 5, retoma-se a discussão sobre o planejamento da UNICAMP com a criação da Comissão de Planejamento (COPLAN), incluindo os esforços anteriores, o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), a centralização no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, a vivência do entrevistado em Besançon que viabilizou aplicações diversas na proposta, sua atuação na Comissão dos Diretores, as dificuldades, suas superações e adaptações, bem como a concretização da proposta de um campus radial. A praça central, onde funcionaria a administração central, seguida de um círculo dos Institutos, seguido por outro das Faculdades (Área 1), e finalmente o relativo aos órgãos complementares (Área Geral). Tais aspectos são considerados concretizadores das várias áreas.
No Capítulo 6, último desta parte, o eixo da entrevista é o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Inicia-se com a proposta de criação do Departamento de Planejamento Econômico e Social (DEPES), que seria a semente do Instituto do Planejamento. Passa a ser enfocada mais especificamente a criação do Instituto e o recrutamento de docentes para as várias áreas. Em anexo, o leitor encontra impresso, um texto sobre a organização dos estabelecimentos científicos em Berlim, escrito por Humboldt e traduzido pelo autor. Também estão em CD-ROM vários documentos referidos ao longo da entrevista: Proposta de Criação da DEPES, Ata de Aprovação da Proposta de Criação do DEPES, Proposta de Criação do Grupo de Lingüística, Proposta de Criação do IFCH e Proposta de Criação do Colégio de Altos Estudos Internacionais.
Após as referências bibliográficas, é disponibilizado um índice onomástico organizado a partir do pré-nome dos autores referidos no texto, que também inclui algumas fotos em que o entrevistado aparece. A obra constata a evolução da formação do conceito de universidade e do esforço, por vezes carente de inovação e modernização, e oferece modelos e sugestões úteis aos que atuam no ensino superior.
Endereço para correspondência:
Profª. Drª. Geraldina Porto Witter
Av. Pedroso de Moraes, 144/302
CEP 05.420-000. São Paulo-SP, Brasil
E-mail:
[email protected]Geraldina Porto Witter é Coordenadora Geral da Pós-graduação Stricto Sensu da Universidade Camilo Castelo Branco, campus Itaquera
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