TAYLOR, CHARLES. As Fontes do Self. Edições Loyola. 1997.
Ciências Humanas e Sociais

TAYLOR, CHARLES. As Fontes do Self. Edições Loyola. 1997.


Topografia Moral

 

 

O autodomínio de Platão:

 

 

In interiore homine

 

 

§  Agostinho utiliza a imagem do sol, fundamental na discussão de Platão a respeito da Idéia do Bem na República, que tanto nutre as coisas em sua existência como fornece a luz para que sejam vistas; mas, agora, o princípio supremo do ser e do conhecimento é Deus. Deus é a fonte da luz e este é mais um ponto de contato, que faz a ligação com a luz do primeiro capítulo do Evangelho de João (p. 170).

 

§  Para Agostinho, como para Platão, a visão da ordem cósmica é a visão da razão e, para ambos, o bem para os seres humanos envolve ver e amar essa ordem. Da mesma forma, para ambos o obstáculo é a absorção humana do sensível, nas meras manifestações externas da realidade superior. A alma precisa ser girada; tem de mudar a direção de sua atenção/desejo (p.171).

 

§  O exterior é o corporal, o que o homem tem em comum com os animais, incluindo até nossos sentidos e o armazenamento de imagens das coisas externas em nossa memória. O interior é a alma (p. 171).

 

§  Uma frase sintetiza muitas outras: ?Noli foras ire, in teipsum redi; in interiori homine habitat veritas? (?não vá para fora, volte para dentro de si mesmo. No homem interior mora a verdade?). Agostinho está sempre nos chamando para dentro (p. 172).

 

§  Observei acima o paralelo entre Deus e a Idéia do Bem, no sentido de que ambos fornecem o princípio supremo de ser e saber; e ambos são descritos com a mesma imagem central do sol. Parte da força da imagem em ambas as filosofias é que a realidade mais elevada é muito difícil de contemplar diretamente ? na verdade, de certa forma, impossível (p. 172).

 

§  Deus não é apenas o que ansiamos por ver, mas o que capacita o olho que vê. Assim, a luz de Deus não está apenas ?lá fora?, iluminando a ordem do ser, como está para Platão;  é também uma luz ?interior? (p. 172).

 

§  Agostinho muda o foco do campo dos objetos conhecidos para a própria atividade de conhecer; Deus pode ser encontrado aí. Isso explica em parte seu uso da linguagem da interioridade (p. 173).

 

§  Existe uma forma menos radical de voltar-se para si mesmo que foi um tópico relativamente comum entre os antigos moralistas. Foucault mencionou a importância do tema do ?cuidado consigo mesmo? (p. 173).

 

§  Mas podemos inverter a situação e fazer disso o objeto de nossa atenção; tomar consciência de nossa consciência, procurar experimentar nossa experiência, concentrar-nos na forma como o mundo é para nós. É isso que chamo de assumir uma atitude de reflexão radical ou de adotar o ponto de vista da primeira pessoa (p. 173-174).

 

§  [...] há uma diferença crucial entre a forma de eu experienciar minha atividade, pensamento e sentimento, e a forma pela qual você ou qualquer outro o faz. É isso que me torna um ser que pode falar de si na primeira pessoa (p. 174).

 

§  O apelo para cuidar de si mesmo feito por um sábio antigo, ou dirigido a um executivo moderno, não é um apelo à reflexão radical. É um apelo para nos ocuparmos com a saúde de uma coisa muito importante (nossa alma, para os antigos, o corpo para o homem moderno) em contraposição a estarmos completamente absorvidos pelo destino de algo muito menos importante (nossas propriedades ou nosso poder) (p. 174).

 

§  A virada de Agostinho para o self foi uma virada para a reflexão radical,e foi isso que tornou a linguagem da interioridade irresistível. [...] ela ilumina aquele espaço onde estou presente em mim (p. 174).

 

§  E é isso o que estou tentando fazer ao colocá-lo entre Platão e Descartes. Agostinho dá o passo para a interioridade, como eu disse, porque é um passo  para Deus (p. 175).

 

§  Agostinho, entretanto, faz seu raciocínio reflexivamente. Apela para nossa experiência de primeira pessoa no plano do pensamento (p. 176).

 

§  Mas, para provar que sabemos alguma coisa, Agostinho dá o passo protocartesiano decisivo: mostra ao interlocutor que ele não pode duvidar de sua própria existência, pois, ?se você não existisse, seria impossível ser enganado? (nota de rodapé) (p. 176).

 

§  É a certeza da própria presença. Agostinho foi o inventor do raciocínio que conhecemos como cogito, porque foi o primeiro a tornar o ponto de vista da primeira pessoa fundamental para nossa busca da verdade (p. 176).

 

§  Por isso, vemos que existe algo superior à mente humana. QED: Deus = verdade existe (p. 177).

 

§  A prova que Agostinho dá de Deus é uma prova da experiência de conhecer e raciocinar em primeira pessoa (p. 177).

 

§  A alma está presente para si mesma e, apesar disso, pode estar totalmente longe de conhecer-se; pode estar inteiramente enganada a respeito de sua própria natureza, como Agostinho achava que havia estado quando era maniqueísta (p. 178).

 

§  No fundo de nós existe uma compreensão implícita, que precisa ser muito bem pensada para se transformar em uma formulação explícita e consciente. Esta é nossa ?memória?. E é aqui que reside nossa apreensão tácita do que somos, a qual nos guia na passagem de nossa ignorância original sobre nós mesmos e da descrição dolorosamente errada de nossa pessoa para o verdadeiro autoconhecimento (p. 179).

 

§  Na própria raiz da memória, a alma encontra Deus (p. 179). [...] Mergulhar na memória leva-me para além (p. 180).

 

§  Para Platão, em Ménon, a doutrina da reminiscência, além de responder à difícil questão de como se pode chegar a saber o que se está buscando, sublinha a tese de que o conhecimento das Idéias não é inculcado em nós pela educação. A capacidade está lá. Agostinho parte desse ponto. A bem dizer, os importantes princípios da razão não nos são ensinados; o mestre só os desperta em nós (p. 180).

 

§  Mas entender meu verdadeiro self é amá-lo; assim, com a inteligência vem a vontade, e com o autoconhecimento o amor por si mesmo (p. 181).

 

§  Poderíamos dizer que, se para Platão o olho já tem a capacidade de ver, para Agostinho ele perdeu essa capacidade (p. 184).

 

§  [...] só podemos compreender a nós mesmos se nos vemos em contato com uma perfeição que está além de nós (p. 185).

 

§  Eu não teria noção de mim mesmo como ser finito a menos que já existisse implantada em mim essa idéia de infinito e perfeição (p. 186).

 

§  A prova agostiniana move-se pelo sujeito e pelos fundamentos inegáveis de sua presença para si mesmo. Descartes não foi o único a tomar o caminho agostiniano no começo da era moderna. Em certo sentido, aqueles dois séculos, XVI e XVII, podem ser vistos como um imenso florescimento da espiritualidade agostiniana ao longo de todas as diferentes crenças, que continuou em seu próprio caminho pelo Iluminismo, como o caso Leibiniz ilustra tão bem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 




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