Quando o Rei Edgar, bisneto de Alfredo, o Grande, ascendeu ao trono inglês no ano 957, a situação do país estava melhorando. Um novo senso de unidade, organização e confiança acabara de ser forjado, resultado de 100 anos de esforços. É neste período que a figura de São Dunstan, Arcebispo de Canterbury e conselheiro do Rei Edgar, faz-se notar.
Abade do mosteiro de Glastonbury, São Dunstan foi o principal responsável pela renovação religiosa e cultural de seu tempo, elevando o nível espiritual da nação. Seu grande objeto de restauração foram os mosteiros, privilegiando neles a vida ascética e a oração interior. No entanto, essa postura engendrou a ira daqueles que usavam a Igreja como mero instrumento para angariar riqueza e poder.
Tal ira intensificou-se ainda mais quando Eduardo, o filho mais velho do Rei Edgar, ascendeu ao trono em 975, após a morte do pai, tornando-se historicamente o Rei Eduardo II. Então com apenas 15 anos de idade, o jovem monarca continuou as políticas de seu pai, confiando em São Dunstan como conselheiro e dando-lhe total apoio em seus esforços para restaurar os mosteiros ingleses e a vida religiosa do povo em geral.
Todavia, sua madrasta, Alfreda, desejosa de ver seu filho Ethelred assumir o trono inglês, forjou uma aliança com membros da nobreza contrários às reformas religiosas e monásticas de São Dunstan. Portanto, de um lado encontravam-se a ex-rainha e seus aliados e, do outro, Rei Eduardo e seus conselheiros, entre os quais não somente São Dunstan mas também Oswald, Arcebispo de York e Bryhnoth, um nobre de Essex.
No dia
18 de março de 979, os partidários do Príncipe Ethelred finalmente decidiram agir. Convidado para a residência oficial do castelo de Corfe, em Dorset, onde o Príncipe Ethelred e sua madrasta já se encontravam hospedados, o Rei Eduardo aproximou-se dos serviçais de Alfreda, que vieram recebê-lo. O que era para ser uma simples recepção de boas-vindas transformou-se num terrível complô regicida. Alguns serviçais sacaram suas armas e um deles enterrou uma adaga no peito de Eduardo. Caindo da sela de seu cavalo, mas com o pé ainda preso ao estribo, a cena que se seguiu foi horripilante: um cavalo assustado, galopando em direção à floresta do castelo, arrastando pelo chão um rei mortalmente ferido a sangrar pelo caminho. Quando os homens do Rei finalmente conseguiram parar o cavalo, Eduardo já estava morto.
Por insistência de Alfreda, o corpo do Rei Eduardo foi enterrado sem cerimônias no cemitério de uma igreja em Wareham, a alguns quilômetros de onde fora assassinado. Embora ninguém tenha sido declarado culpado pelo crime, o regicídio foi levado a público de uma maneira bem diferente. Pois naquele mesmo instante, os milagres começaram.
Já naquela noite, uma senhora cega em cuja cabana o corpo do Rei Eduardo fora temporariamente depositado até ser movido para Wareham, de repente passou a enxergar. Em seguida, uma fonte começou a jorrar no túmulo do Rei Eduardo em Wareham, e inúmeros relatos dão conta de pessoas que foram milagrosamente curadas quando ali rezaram e se banharam. Como a santidade de Eduardo estava se tornando cada vez mais evidente, seu corpo foi transladado para o convento de Shaftesbury em 981. As curas continuaram mesmo durante a procissão.
Nos 20 anos que se seguiram, o túmulo do Rei Eduardo foi objeto de intensas venerações e peregrinações. No dia 20 de junho de 1001, o Rei Ethelred, ordenou que o corpo de Eduardo fosse transferido para um santuário no Mosteiro de Shaftesbury. No ano 1008, Alphege, Arcebispo de Canterbury, canonizou oficialmente Santo Eduardo, Rei e Mártir. De toda a Inglaterra, e até mesmo de outros países da Europa, peregrinos vinham venerar as relíquias de Santo Eduardo. O Mosteiro de Shaftesbury passou a ser conhecido como Mosteiro de Santo Eduardo. A própria cidade de Shaftesbury foi chamada de "Edwardstowe" por muitos anos.
Quanto a São Dunstan, após o assassinato de Eduardo, ele se recusou a tomar parte do reinado de Ethelred, preferindo cuidar de seu rebanho espiritual. Ele morreu em 988, exatamente no ano em que, do outro lado da Europa, a Cristandade adentrava as terras de Rus, onde o Príncipe Vladimir de Kiev foi batizado. Enquanto um país cristão entrava em declínio, perdendo sua identidade face ao assassinato de seu piedoso Rei, um outro país abria-se voluntariamente para a Santa Igreja e seus Mistérios. Mas este mesmo país, que em 1918 assassinava seu piedoso Tsar, conheceu sorte semelhante à dos ingleses. A Rússia do século XX, a exemplo da Inglaterra do século X, também perdera sua identidade cristã.
Qual o significado disso tudo? Deus é que sabe. Mas o que sabemos ao certo é que tamanha brutalidade e impiedade nos assassinatos do Rei Eduardo II e do Tsar Nicolau II serviram para produzir dois santos-mártires a quem, agora, podemos pedir suas intercessões por nós junto ao Cristo. Todos os dias, mas sobretudo no dia 18 de março, rezemos com fervor para que Santo Eduardo, Rei e Mártir, nos ajude e oriente em nossas provações e tentações.
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