Relato da sessão pública de solidariedade com o povo da Palestina realizada em Lisboa no passado dia 2
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Relato da sessão pública de solidariedade com o povo da Palestina realizada em Lisboa no passado dia 2



Imagem retirada do excelente blogue: http://wehavekaosinthegarden.blogspot.com/

Relato de sessão pública de solidariedade com o povo da Palestina realizada em Lisboa no passado dia 2 de Janeiro:

Reunidos na Cooperativa «Crew Hassan» na R. das Portas de Sto. Antão, em Lisboa, por iniciativa de «Tertúlia Liberdade», ouvimos os relatos de George, militante da CNT-F e activista em defesa dos direitos do povo palestiniano e duas estudantes de doutoramento (em França), uma palestiniana e outra israelita. Os participantes eram cerca de vinte, na maioria membros de grupos afinitários libertários e outros.

George começou por referir que o melhor para se compreender toda a problemática do que se passa em Israel/Palestina, era ir em visita aos territórios sob administração palestiniana. Essas viagens podem ser organizadas por grupos, em diversos países, havendo organizações não partidárias, como ISM (Internacional Solidarity Movement) que têm mantido activistas internacionais em apoio dos palestinianos.


Importa sublinhar, referiu, que o problema actual, não é algo inédito: houve situações análogas em diversos momentos quer contra a população de Gaza, quer contra outras populações palestinianas. O problema não é o Hamas. O problema é a ocupação do território palestiniano, a expulsão dos seus habitantes quer para o exterior, quer para Gaza ou a Margem Ocidental, que se tornaram imensas prisões a céu aberto.

A estudante palestiniana, exprimindo-se em inglês (com tradução simultânea para português), reforçou as afirmações do primeiro interveniente, relatando casos da sua experiência pessoal como o facto de haver uma ausência de identidade palestiniana oficialmente reconhecida, desde os mapas da região onde a população palestiniana nem sequer é contabilizada, o facto de, nos correios, um endereço onde mencione «Palestina» apenas, causa problemas, ao facto de haver vários estatutos de palestinianos, desde o 1milhão e 200 mil com cidadania israelita, que ficaram em 48 ou seus descendentes (houve 4,5 milhões que foram expulsos do território de Israel), os palestinianos de Jerusalém, e finalmente os palestinianos dos territórios (Cisjordânia e Gaza). Os primeiros têm um bilhete de identidade azul e são considerados israelitas, mas são social e politicamente discriminados pelo estado de Israel, os segundos têm um BI cinzento e têm um estatuto intermédio e os dos Territórios têm um BI verde, que embora tenha a bandeira palestiniana é emitido pelo exército de ocupação israelita.

Nos Territórios, 70% das estradas são de uso exclusivo dos colonos israelitas, que ocupam vastas áreas. Por exemplo, Nablus (na Cisjordânia), de onde é natural a estudante palestiniana, está rodeada de colonatos. Ela referiu que, regressando de uma conferência, a sua cidade estava interdita a estrangeiros. Tendo ela encontrado dois amigos espanhóis que tinham participado na conferência, os militares recusaram a sua entrada, mesmo tendo invocado ela o facto destes serem seus convidados, de lhes dar acolhimento em sua casa.

Em torno de várias cidades e vilas palestinianas existe um muro que cerca a cidade, como em Kalkília, no norte. Os palestinianos das diversas zonas não podem casar-se entre si.
Gaza é a zona do mundo com maior densidade demográfica. Com 1,3 milhões de habitantes, inteiramente dependentes do exterior em relação a comida e géneros de primeira necessidade, está rodeada de um muro como uma enorme prisão a céu aberto. Os israelitas têm reforçado esse isolamento, impondo bloqueios de importação de géneros e de circulação de pessoas. A situação de bloqueio de Gaza tem sido permanente, apenas aliviada para deixar passar comboios humanitários, pela fronteira sul (vindos do Egipto), mas apenas quando os israelitas autorizam.
O facto é que o Hamas ganhou as eleições de 2006, por maioria absoluta, em eleições que foram monitorizadas por mais de 900 observadores internacionais, não apenas em Gaza como no conjunto dos Territórios.

A razão dessa vitória, não foi tanto as sua obediência islamita, mas sim o facto de ter expresso claramente como seu principal objectivo o fim da ocupação da Palestina por Israel. Portanto, os palestinianos exprimiram assim, claramente, o seu repúdio da ocupação.

O que se passa actualmente em Gaza é uma agressão pura e simples a objectivos civis por parte da força aérea israelita, que toma como alvos elementos da população, numa retaliação ou punição colectiva, com o pretexto de terem sido disparados foguetes artesanais em direcção a cidades israelitas vizinhas: Cerca de meio milhar de mortos, milhares de feridos (sem possibilidade de tratamento hospitalar adequado por falta de medicamentos e equipas de emergência devido ao cerco imposto por Israel) uma população inteira sem água, sem aquecimento, sem víveres, medicamentos e outros bens essenciais.

Na realidade, o Hamas nunca poderá ser desalojado desta maneira. O único meio seria matar ou expulsar a população toda, esta seria a «solução final», preconizada pelos israelitas falcões.
Infelizmente, as pessoas não estão ao corrente do que é o estado sionista de Israel. A estudante israelita mencionou alguns exemplos simples do que é o estado de Israel. O facto de que até há pouco tempo, no bilhete de identidade, havia uma menção da «nacionalidade»: assim, uma amiga dela, filha de mãe romena não-judia, embora considerada cidadã israelita, tinha a menção «romena» no seu BI. Os casamentos mistos (entre pessoas judias e árabes) são interditos. Muitos jovens, inclusive sendo de ascendência judia ambos, vão casar-se civilmente a Chipre, que é o ponto no estrangeiro mais próximo, para não terem de se submeter a casamento religioso. Não existe na lei de Israel casamento civil. O próprio divórcio, seja mesmo de pessoas que casaram civilmente no estrangeiro passa por uma comissão judaica, religiosa, obrigatoriamente. A ideologia sionista foi imposta pelo estado de Israel, é uma deformação do judaísmo, uma deriva ideológica e racista da religião judaica, com vista a criação e manutenção de um estado colonial.

A estudante palestiniana, a propósito de ghettos palestinianos (os ghettos eram bairros murados onde eram encerrados os judeus, nas cidades europeias), referiu o facto de Jaffa, a mais importante cidade da Palestina e centro cultural de grande relevo, ter sofrido uma limpeza étnica na Nasbah de 1948. Foi bombardeada e foram lançados panfletos instando as pessoas a fugir, se queriam ter a vida salva. Quanto à minoria de palestinianos demasiado pobre para fugir, foi encerrada num ghetto, nos arredores da cidade de Jaffa.

Os presentes, respondendo ao apelo da militante palestiniana, comprometeram-se a denunciar, por todos os meios, a manifestar de forma clara, o repúdio pelos actos de barbárie e a negação dos direitos mais elementares do povo palestiniano, tendo consciência de que a atitude colonial de Israel só é possível pela cobertura que é dada pelos EUA e pela UE. Foi posto em relevo que, para a população israelita sentir urgência de uma mudança da situação que resolva os dramas do povo palestiniano, são necessárias acções concretas de boicote. Só sentindo na pele as consequências de uma política discriminatória e sem qualquer respeito pelos direitos humanos de um povo, poderão muitos dos israelitas mudar sua posição.

Um boicote comercial e das relações culturais (académicas, desportivas, etc.) como ao regime de apartheid da África do Sul, poderá ser eficaz na mudança de atitude do governo e do povo de Israel.
Autor do relato: Manuel Baptista

http://www.luta-social.org/





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