Ciências Humanas e Sociais
Qual o tamanho da crise financeira e econômica?
Os últimos dias foram de pânico para os mercados financeiros. A quebradeira de tradicionais bancos de investimentos dos Estados Unidos provocou quedas históricas nas bolsas em todo o planeta. O governo norte-americano teve que intervir para salvar banqueiros e investidores.Em setembro, se revelou a situação de penúria de bancos centenários dos EUA e o governo anunciou uma ajuda bilionária às companhias Fannie Mae e Freddie Mac, que estavam à beira da falência.Em seguida, outro grande banco, o Lehman Brothers, entrou em agonia. Desta vez, o governo norte-americano apenas pressionou para que outros bancos e instituições financeiras ajudassem, porem não deu certo. A falência provocou queda nas bolsas e o governo Bush radicalizou a política de estatização do mercado financeiro.O Fed, banco central norte-americano, anunciou a compra da maior parte da AIG, a maior seguradora do mundo, que passava dificuldades, mas isso não foi suficiente para acalmar os investidores.A Casa Branca divulgou, no dia 19, um megaplano de ajuda para o mercado. O projeto, que deve passar pelo Congresso, prevê um gasto de US$700 bilhões para salvar as instituições financeiras.O pacote daria poder ao secretário do Tesouro para comprar ações de instituições à beira da falência. É a maior intervenção econômica do Estado na história do capitalismo.Estima-se que o dinheiro colocado pelo governo Bush para acalmar o mercado, supere o gasto na Guerra do Iraque. Analistas classificam a crise como a mais profunda desde a grande crise de 1929. A opinião corrente também dá conta de que estamos apenas no começo.
O pacote de ajuda do governo Bush, levou alívio aos mercados, mas segura apenas temporariamente a crise. Ao contrário do que é noticiado pela mídia, a crise não tem origem no mercado financeiro. É apenas expressão de uma crise econômica clássica de superprodução. É o prenúncio de uma recessão que já atinge os EUA e que deve se alastrar pelo resto do mundo no próximo período, podendo ter uma gravidade bem superior à da crise de 2000-2001.O Brasil será afetado pela crise?Para Lula, os reflexos da crise sobre o Brasil serão "quase que imperceptíveis", e faz parecer que se resume à economia dos EUA.Essa propaganda tem o objetivo, de capitalizar eleitoralmente o atual crescimento econômico. Entretanto, a propaganda se apóia numa realidade sensível para os trabalhadores: o ciclo de crescimento que possibilitou a implantação de fábricas em várias regiões do país.Isso significou um crescimento no emprego que, ao lado de migalhas, como o Bolsa Família, sustentam a popularidade do governo. Mas o país estará mesmo protegido da crise?
Mais frágilLula e seus ministros dizem que as reservas internacionais do país,colocam o Brasil numa situação confortável. No entanto, as reservas podem se reduzir a pó.Os capitais especulativos - aqueles que podem sair a qualquer momento do país - representavam 46% dos investimentos estrangeiros em 2005. Em 2007, já eram 54%.Segundo a Folha de S. Paulo, ?os estoques de investimentos estrangeiros especulativos no Brasil equivalem hoje a cerca de três vezes o tamanho das reservas em dólares no BC, segundo os últimos dados (...) existem quase US$3 em capitais especulativos que podem sair a qualquer momento para cada US$1 em reservas. No momento em que esses investidores decidem tirar grandes volumes de dinheiro do país, como na semana passada, há forte pressão sobre o real, que tende a perder valor?O mercado financeiro aqui, assim como no resto do mundo, está totalmente integrado e dependente dos EUA.
Sob o controle das multinacionaisNão é apenas o mercado financeiro que está mais exposto. Grande parte da produção é voltada aos produtos primários para a exportação (commodities). O setor representava 45% da indústria em 2006. As exportações eram a parte mais importante no balanço comercial do país.Um dos reflexos da crise é a redução do preço das commodities. Seja pelo estouro da bolha, que inflacionou os preços nos últimos anos, seja pela inevitável redução da demanda com o agravamento da crise. Um dos maiores compradores do aço e minérios produzidos no Brasil é a China, que produz e exporta para os EUA. Com a recessão que se abate sobre o império, a produção diminuirá drasticamente.O superávit comercial brasileiro está caindo rapidamente. No primeiro semestre de 2008, caiu 45%. Já se fala na possibilidade de um déficit comercial em 2009.Isso contribui para o aumento do chamado déficit nas contas correntes, ou seja, a soma de todos os valores que entram e saem do país (veja o gráfico). Estima-se que, em 2008, o Brasil feche as contas com um saldo negativo de US$30 bilhões. Tal prejuízo ocorre pelo aumento das remessas de lucros das multinacionais aqui instaladas, diminuição do superávit comercial e fuga de capitais.
Conseqüências graves para os trabalhadoresA economia do país ainda cresce e provoca a sensação de que a crise não vai passar por aqui. Mas a dependência da nossa economia fará com que a crise afete diretamente a vida da grande maioria da população.Em algum momento, a indústria automobilística brasileira vai entrar em crise. Isso depois de tantas fábricas montadas no país. A produção e a venda de agosto sinalizam isso. Ainda que os propagandistas do governo possam dizer que foi o melhor agosto da história da indústria, em comparação com o ano de 2007,em julho, houve queda na produção de 1% e queda nas vendas de 15,1%. Será apenas uma acomodação do mercado como dizem as montadoras? Ou o início de uma desaceleração?A burguesia e os políticos sabem que a crise virá. Em todas as negociações salariais deste ano, empresários dizem que não podem conceder um reajuste maior devido à crise que se avizinha. Já os políticos, na campanha eleitoral, fazem promessas que não cumprirão.Mas quais as conseqüências da crise para o Brasil? Para tentar atrair investimentos estrangeiros, o governo vai impor juros exorbitantes, aumentar a dívida pública e um arrocho ainda maior no orçamento.Este é o plano do governo para a crise. Afeta diretamente serviços públicos essenciais, como saúde e educação. O crédito para as empresas vai ficar mais caro, significando menos empregos. Já o crédito ao consumidor vai ficar mais escasso e os juros vão subir.Hoje, grande parte das famílias já está endividada. Com a inflação no último período, atingindo principalmente os mais pobres, a inadimplência subiu mais de 6%. Com a alta dos juros, isso tende a aumentar ainda mais.Para os trabalhadores, a recessão vai significar inflação, desemprego, achatamento dos salários e deterioração dos serviços públicos. O governo Lula, como os outros que o antecederam, vai jogar a crise nas costas dos trabalhadores.
Um programa dos trabalhadores para combater a crise
O governo Lula semeia ilusões quando afirma que a crise não vai atingir o Brasil. Tanto o governo quanto os principais candidatos dessas eleições mentem quando prometem mundos e fundos sem mexer na política econômica. É um verdadeiro estelionato eleitoral.A verdade é que, mantendo a atual política, a crise vai pegar em cheio os trabalhadores. Precisamos, desde já, impor um programa para impedir que, mais uma vez, a grande maioria da população arque com os efeitos de uma crise econômica.É necessário estatizar o sistema financeiro e colocá-lo a serviço da população. Ou seja, impedir a fuga de capitais especulativos e as remessas de lucros ao exterior, que é um verdadeiro roubo das riquezas produzidas pelos trabalhadores no país.É preciso uma reforma agrária radical que entregue as terras aos camponeses e exproprie as grandes empresas do agronegócio. Da mesma forma, é preciso parar já de pagar a dívida pública, investindo em saúde, educação etc. O não-pagamento dessa dívida pode financiar um plano de obras públicas que enfrente o déficit habitacional, com a construção de casas populares, e acabe com o desemprego.Para combater a inflação, é necessário aumentar os salários, congelar os preços e impor um gatilho salarial, ou seja, o aumento automático dos salários de acordo com a inflação.
Leia Mais Sobre a crise:
*Como funcionam os ciclos e as crises capitalistas?
*Como evolui a taxa de lucros?
*Como funciona o capital financeiro?
*Como surgiu a crise atual?
*Capitalismo versus socialismo: o debate ideológico revisitado
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