Quadras populares do S.João (do Porto)
Ciências Humanas e Sociais

Quadras populares do S.João (do Porto)



Nesta época dos santos populares existem várias tradições da cultura popular.
Uma delas são as quadras feitas por gente anónima do povo.
Transcrevemos algumas delas que fomos retirar do Jornal de Notícias do ano passado



Eu sou a fonte vadia
Dum S. João vagabundo
Que mata a sede à folia
Da maior noite do mundo


Meu balão não é d'espanto!
Não tem vinda, só tem ida,
Leva risos, leva pranto…
Tudo faz parte da vida.



Com tua mão presa à minha
Fui à fonte e não bebi,
estranha sede que tinha
Era só sede de ti!



Ninguém conhece ninguém.
Rusgas, ervas, festas a rodos.
Quando a madrugada vem
Já todos conhecem todos!



Oh! a raiva com que fico
Desse teu jeito de acaso.
Olhar preso ao manjerico,
Mãos em festinhas ao vaso.


Tirou na roda a chinela
P'ra bailar de pé no chão,
Que o fogo que ardia nela
Já lhe queimava o tacão!



Não mandes beijos, amor,
Beijar é face com face.
A água tem mais sabor
Junto da fonte onde nasce.



Por eu ser pobre e tu rico,
Não julgues que o mundo é teu:
Se tu tens o manjerico,
Quem tem o vaso sou eu.


Ninguém se sente sozinho
Na noite de S. João:
O de mais longe é vizinho,
O de mais perto é irmão.


Eu saltei sempre a fogueira
Sem temer ficar queimada
Que a vida passa ligeira
E sem chama é mal passada



És uma fonte de vida
Onde eu sempre quis beber;
Andava a água perdida
E eu de sede a morrer



Fazes promessas na rua,
Em casa dizes que é tarde…
Não sei que fogueira é a tua

Que não se apaga nem arde!...



Ninguém me culpe por ter
Mais que uma fonte na vida,
Pois da sede de qualquer
Só Deus conhece a medida…


Deixaste-me só na rua,
Hoje amor, por brincadeira,
E lenha que não foi tua,
Fez-me arder a noite inteira.



As cascatas que fizemos
Em cada nesga de rua
Vão do chão onde vivemos
Até ao balão da Lua.



Não dês aval à riqueza
Se não sabes de onde veio
Há muita lareira acesa
Com a lenha do alheio.


Já nem sei o que sentir
Na noite de S. João
Ao ver o balão subir
E o povo sempre no chão


A fogueira, de atiçada,
Vejo trémula, e desmaia,
Por certo que fascinada
Do jeito que dás à saia.



Quanta gente vive à solta
Nas rodas que a vida tem
Esperando a melhor volta
Para bailar com alguém.


Fonte de trás da parede,
Não me cantes à noitinha,
Que eu não vou matar a sede
Em fonte que não é minha.


É tua boca vermelha
Um bonito cravo aberto.
Cuidado com uma abelha
Que anda a zumbir muito perto.



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