Abordaremos nesse tema, os conceitos fundamentais para o entendimento da distribuição da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil segundo os setores de produção (primário, secundário e terciário), ressaltando suas transformações ao longo do processo de urbanização do país.
Quais os papéis desempenhados pelas mulheres na sociedade brasileira? Vocês consideram que, as mulheres donas de casa, não trabalham? É cada vez maior o número de brasileiras que também trabalha fora de casa, aumentando o orçamento familiar ou sendo elas mesmas chefes de suas famílias. Muitas mulheres enfrentam duas jornadas de trabalho, uma fora de casa, e outra quando retornam ao lar e se dedicam aos afazeres domésticos. De acordo com o IBGE, ao longo da última década observa-se a manutenção da tendência de aumento na proporção de famílias chefiadas por mulheres, que passou de 24,9% (1997) a 33,0% (2007), o que representa, de acordo com os dados da Pesquisa nacional por amostra de domicílios - Pnad 2007, 19,5 milhões de famílias que identificam uma mulher como sua principal responsável.
Os gráficos ?Brasil: contribuição do rendimento das mulheres na renda das famílias? e ?Brasil: número de famílias formadas por casas com filhos chefiadas por mulheres? revelam o aumento de domicílios chefiados por mulheres, o que as torna protagonistas nos últimos anos de uma grande mudança em curso no mercado de trabalho brasileiro. Veja alguns dados adicionais do IBGE, extraídos da Pnad 2007:
- a proporção de arranjos do tipo casal com e sem filhos chefiados por mulher passou de 4,2 % em 1992 para 23,5% em 2007;
- aumentou muito a contribuição das mulheres na renda das famílias brasileiras: de 1992 para 2007 passou de 30,1% para 39,8%;
- ocorreu um aumento expressivo da proporção de mulheres cônjuges que contribuem para a renda das suas famílias: de 32,5% para 65,7% no mesmo período;
- e, para finalizar, se em 1993 a mulher era a principal provedora em 22,3% dos domicílios brasileiros, em 2007 a proporção comparável foi de 33%.
População Economicamente Ativa (PEA) é o estudo setorial da economia, uma categoria fundamental para a análise econômica ou para investigação das estruturas econômicas de um país. Denomina o conjunto da população em idade produtiva (10 a 65 anos) e que trabalha em atividades remuneradas, tanto as pessoas ocupadas (com trabalho) como as desocupadas (sem trabalho, mas que tomam alguma providência efetiva no sentido de procurar trabalho).
População não economicamente ativa designa o conjunto das pessoas que não trabalham fora do lar, como crianças, estudantes, donas de casa, aposentados, pessoas impossibilitadas de trabalhar por motivo de doença etc., incluindo as que não estão empenhadas na busca de emprego.
Os setores econômicos ou setores de produção são divididos em três setores:
- setor primário: inclui a agricultura, a pecuária, a caça, a pesca e as explorações florestais;
- setor secundário: abrange a atividade industrial, incluindo as indústrias de transformação de bens de consumo e de produção e a de construção civil, e a extração mineral;
- setor terciário: agrupa as atividades relacionadas à prestação de serviços (bancos, transporte, saúde, educação, profissões liberais, funcionalismo público etc.) e ao comércio.
A importância de estudar a distribuição da PEA de um país, segundo suas atividades econômicas ou setores de produção, entre outras razões, possibilita fornecer elementos ou um quadro de referência para a avaliação da economia do país e de suas tendências, além de proporcionar uma visão sobre suas transformações no decorrer do tempo, o que é relevante para efeito de planejamento econômico e social.
Observe o gráfico ?Brasil: distribuição da PEA por setores de produção?:
- o declínio da PEA no setor primário: de 70,2% em 1940 (quando o Brasil era um país predominantemente rural) para 20,6% em 2005. Entre outros fatores explicativos desse declínio e do aumento da população economicamente ativa nos setores secundário e terciário estão a industrialização, a urbanização, a permanência de uma estrutura fundiária concentrada, o difícil acesso à terra, a mecanização e a modernização da agricultura, entre outros. A diminuição relativa da força de trabalho empregada na agropecuária processou-se vigorosamente, acelerando-se nas décadas de 1960 e 1970. Tal processo liberou trabalhadores para a economia urbana, fornecendo mão de obra barata em grande escala, porém pouco qualificada, para construção civil, indústria, comércio e serviços. Em uma visão mais ampla desse processo, o modelo econômico do país estava apoiado no rebaixamento dos salários e na maximização dos lucros, respaldado pela massa de migrantes rurais gerada no setor primário;
- a partir de 1980 verificou-se uma queda do percentual de pessoas empregadas no setor secundário de produção, por racionalização do trabalho (incluída a automação industrial), levando à dispensa de mão de obra. Se no período de maior crescimento industrial do final da década de 1970 até 1980, as atividades manufatureiras e da construção civil absorviam de forma mais significativa a mão de obra liberada pelas atividades rurais (como apontado anteriormente), em toda a década de 1980 o aumento de trabalhadores no setor de serviços esteve consideravelmente acima do verificado no setor manufatureiro. Em outras palavras, a partir do período indicado, a produção de riquezas pela economia industrial cresceu em ritmo mais acelerado do que a geração de empregos, o que determinou um crescimento restringido da mão de obra ligada às indústrias. Esse cenário não foi revertido na década de 1990 e nos anos 2000, período no qual a modernização do parque industrial, associada ao impacto da globalização sobre a economia nacional, condicionou uma significativa redução da população empregada no setor secundário. A globalização e a abertura do mercado nacional às exportações estrangeiras provocaram o aumento da concorrência interna, com a presença de produtos mais baratos e/ou de melhor qualidade. Alguns setores industriais foram obrigados a se modernizar enquanto outros sucumbiram à concorrência, provocando a diminuição dos postos de trabalho e a migração de trabalhadores para o setor terciário;
- em relação ao setor terciário, percebam que, em 1990, ele já absorvia mais da metade da mão de obra brasileira: de um lado, o aumento de pessoal em ocupações mais modernas, como as derivadas da introdução de novas tecnologias, responsáveis pelo surgimento de novas profissões e de novas formas de gerenciamento e administração como setores de franchising, turismo, call centers etc.; por outro lado, houve também um crescimento em serviços menos especializados em relação à exigência de conhecimentos tecnológicos e com menor relação capital/trabalho. Para alguns economistas, as mudanças ocorridas após a introdução de meios informacionais na produção e de novas formas de administração causaram uma subdivisão no interior do próprio terciário, fazendo surgir um terciário superior e outro, inferior. Os serviços e o comércio do terciário superior representam a absorção da mão de obra em setores ligados às novas tecnologias e formas modernas de administração do comércio e dos serviços, como setor de franchising; telefonia celular; serviços de suporte à informática; call centers; serviços de entrega em domicílio, serviços especializados, turismo etc.
A reestruturação industrial causou demissões significativas em setores industriais tradicionais, o que fez crescer a economia informal de baixa renda em atividades representadas pelo comércio ambulante; vigilância; serviços de jardinagem; "flanelinhas"; valetes (estacionamentos em eventos) etc. Em função dessas alterações no perfil do setor terciário, ele absorveu trabalhadores a taxas anuais superiores às observadas nos demais setores, o que significa que os postos de trabalho gerados se revestiram de baixa remuneração e qualidade.
A transferência da PEA da indústria para o setor terciário consiste em um fenômeno mais evidente nas metrópoles, onde se concentravam as aglomerações industriais tradicionais. De modo geral, vem ocorrendo um intenso processo de terciarização das atividades no mundo "subdesenvolvido", inclusive nas metrópoles e cidades médias brasileiras. Esse fato deve ser entendido não como resultado da industrialização, e sim de problemas existentes em suas economias. Não havendo empregos suficientes, ocorre uma hipertrofia do setor terciário, ou seja, o setor cresce desmedidamente, gerando uma economia informal no terciário inferior, representado por atividades de baixa remuneração, tais como vendedor ambulante, camelô, guardador de carro, vendedor nos semáforos etc. Esses são exemplos típicos da situação de desemprego e subemprego.