O efeito de distanciação no teatro de Brecht
Ciências Humanas e Sociais

O efeito de distanciação no teatro de Brecht



O teatro, cujas origens antigas são de ordem religiosa, desenvolveu-se com vista a reforçar a comunhão com o público e à identificação do espectador com o herói, ao longo da peça ou da acção representada. Numa tal situação os espectadores tendem a ser passivos, e a abandonarem-se às impressões e aos sentimentos, cedem àquilo que se poderia chamar de um efeito hipnótico. Para se obter esse resultado, a acção deve ser-lhes apresentada como continuamente presente e real. Para isso os cenários, a iluminação e o desempenho dos actores criam um ilusão tão completa quanto possível. Os actores deverão até perder a sua identidade para encarnarem a personagem.

Ora Bertold Brecht opõe a esse teatro aristotélico um «teatro épico». Epopeia e drama opõem-se como narração e acção. O teatro épico de Brecht recusa a ilusão e a atitude passiva que ela provoca no espectador. Para isso, a partir do período entre as duas guerras, no Scliffbauerdamm-Theater de Berlim, utilizou o Verfremdungseffekt ( efeito V), expressão que se pode traduzir por «efeito de distanciação». Com efeito, a sua finalidade é afastar a familiaridade, onde possa haver qualquer identificação do espectador com as personagens, e qualquer atitude passiva, para suscitar uma atitude desperta e crítica, capaz de fazer apreender a lição social que a peça comporta.

A acção tem sempre algo de insólito. Nunca nos surge como realmente presente. Distancia-se à maneira de uma narração. Será sempre «historiada». Não decorre num tempo homogéneo com o real, e será interrompida por cantos e comentários, ruptura que será sublinhada pela representação dos actores. Será representada de tal forma que seja evidente que os actores conhecem as diferentes fases e o desenlace. Cartazes e projecções no início de cada cena reunirão o seu conteúdo para evitar o efeito surpresa.

É evidente que é do desempenho do actor que depende essencialmente o efeito de distanciação. Pois ele tem de mostrar a sua personagem, e não de a viver, procedendo a uma demonstração.

Este efeito de distanciação não é completamente novo. Diderot já vira a necessidade do bom actor se ver a si mesmo enquanto representava. E o coro da tragédia antiga quebrava a ilusão da acção para incitar os espectadores a uma reflexão crítica. Outros expedientes para criar a distanciação será a versificação, o convencional, e a passagem do trágico ao cómico. Mas é Brecht que enfatiza esse efeito de distanciação emprestando-lhe uma eficácia pedagógica.



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