Mas não é disso que vou falar neste Natal.
Imaginei um Natal humanitário, sui-generis: sem poluição, sem violência, sem racismo, nem guerras, sem exploradores, sem explorados! Um Natal em que os homens e mulheres independentemente do sexo, da cor, do país de nascimento, da religião que professam, do tamanho, da força física, da inteligência, de credos políticos e ideológicos se dêem a mão como amigos, como irmãos, como iguais.
Um Natal em que os homens resolvam eliminar as armas químicas, bacteriológicas, atómicas, de hidrogénio; abandonar as pesquisas bélicas, desmilitarizar generais e soldados, derreter os tanques, as espingardas, as pistolas e metralhadoras, enfim, todas as armas e com essa matéria-prima fabricar ferramentas, máquinas agrícolas e industriais.
Um Natal com mágicos poderes para apagar todas as leis dos alfarrábios e dos cérebros, transformar os quartéis, seminários, igrejas e prisões em museus e escolas novas destinadas a educar, instruir e despertar a Humanidade só para praticar o bem. Abolir as cercas convencionais, conhecidas por fronteiras, acabar com as nacionalidades, os idiomas que separam, dividem e tornam os homens adversários, inimigos, gerando guerras.
Um Natal que eleja o Esperanto (língua universal) como elo de ligação e entendimento entre os seres humanos. Um Universo sem policias, juízes, advogados, funcionários burocráticos, comerciantes, banqueiros; livre de hierarquias, de homens e mulheres ligados só pelo Amor, associados em comunidades de afinidade, autogestionárias, de grandes famílias capazes de produzir (cada um fazendo o que sabe ou pode e recebendo o que precisa), até alcançar a igualdade de acesso a alimentos, vestuário, transporte, moradia e demais bens materiais, educação, ensino e lazer de forma a proporcionar a felicidade de todos.
Nesse Natal por mim imaginado um homem só valia um homem e como tal todos teriam iguais direitos e deveres. Não haveria lugar para o ódio, rancor, inveja, a ambição, a ganância, ninguém se escravizaria para acumular fortuna, porque o dinheiro e a propriedade privada não existiriam mais, haviam sido abolidos. Seria um Natal sem negociatas, sem ninguém para comprar e vender produtos, indulgências, armas para matar gente e comprar consciências, a boa vontade de funcionários, da assistência médica, dos servidores públicos, enfim, não haveria corruptores, corruptos, nem ladrões...
No meu Natal não existiria gente dormindo nas calçadas, debaixo dos viadutos, nos bancos dos jardins, pocilgas sem luz, sem ar, nem gente estragando alimentos que faltam a milhões de crianças e adultos, num mundo que teimam em proclamar de civilizado e cristão. Cheio de gente enganando-se, envenenando e matando mutuamente, robotizadas e alienadas, vivendo em permanente conflito com o Ser e o Parecer, cada um disputando o seu espaço vital, sempre aperfeiçoando estratégias, cada vez mais sofisticadas, para suplantar os menos audaciosos e os mais dependentes.
Seria um Natal sem leis, expressão da vontade dos conquistadores, enunciando como querem governar os seus súbditos e que os outros lhes obedeçam.
Um Natal onde a felicidade de um fosse a felicidade de todos!
Em suma, imaginei um Natal impossível enquanto os seres humanos teimarem em viver às custas dos seus semelhantes, implantando, para isso, sistemas políticos e religiosos capazes de convencer (por meios "divinos", jurídicos ou pancada) os menos inteligentes e os acomodados que desde que o mundo é mundo sempre existiram pobres e ricos...
Eu discordo!
A natureza tudo deu de graça aos homens, por isso ninguém pode negar a esse mesmo homem o direito à sua parcela neste mundo que também é seu, que é de todos nós!
Será um Natal utópico, dirão! Mas é o que pode imaginar hoje um ateu: Um Natal de Todos. Humanista, por isso belo
Edgar Rodrigues
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