Mas a recente abertura de um casino em Chaves dá uma outra dimensão à expressão. Em dois anos, a fúria economicista do Governo mandou encerrar 50 escolas do 1º ciclo do ensino básico no concelho – mesmo criando um novo problema, reconhecido pela autarquia: a sobrelotação das 37 escolas existentes. A Maternidade pública fechou, mas um grupo de investidores já está a construir um hospital privado, mesmo ao lado do casino, com serviço de urgência 24 horas e maternidade, a inaugurar para o ano. Fala-se da possibilidade de encerrar o bloco operatório do Hospital Distrital durante a noite e de conceder a privados áreas como a medicina física e de reabilitação, as análises clínicas e a diálise. Os concelhos vizinhos da Régua, Alijó, Murça e Vila Pouca de Aguiar ficaram sem SAP. A agricultura é alvo da gula dos grandes interesses da Política Agrícola Comum. Os micro, pequenos e médios empresários tentam sobreviver à concorrência do lado de lá da fronteira - o IVA, 5% mais baixo em Espanha, arruina o comércio local.
Mas «Chaves abre as portas à diversão», como anuncia a publicidade do novo casino do Grupo Solverde. Que de resto também não faz cerimónia a explicar que o alvo não são propriamente as depauperadas populações de Trás-os-Montes e Alto Douro, mas antes os espanhóis, ali tão perto. A concessão de jogo ao Grupo Solverde é de 25 anos, o investimento de 40 milhões de euros e estão prometidos 220 postos de trabalho. 15% das receitas brutas do casino financiarão o turismo (que lhes trará mais jogadores), 1% irá para «entidades de relevância social» (a moderna forma da esmolinha ao pobre) e 4% para «requalificação ambiental» (que as autarquias da região já decidiram que servirá para pagar o aumento das taxas do lixo ao sistema multimunicipal).
O casino de Chaves e a realidade que o rodeia podiam servir de monumento à estratégia de desenvolvimento que o Governo do PS quer impor ao povo e ao país
Texto de Margarida Botelho retirado do jornal Avante
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Ciências Humanas e Sociais