Manifesto e apelo aos estudantes para participarem no protesto da geração à rasca (dia 12 de Março em Lisboa e no Porto)
Ciências Humanas e Sociais

Manifesto e apelo aos estudantes para participarem no protesto da geração à rasca (dia 12 de Março em Lisboa e no Porto)



Apelo a todos os estudantes para que venham à manif da Geração à Rasca

Sábado, 12 de Março às 15:00 - 13/3 às 15:30

Local :
Lisboa -Avenida da Liberdade
Porto - Praça da Batalha

Sofres com os cortes nas escolas, os cortes nas bolsas, os cortes nos apoios sociais, a precariedade no emprego, o desemprego? Queres viver num país onde o futuro seja mais risonho? Não sejas parvo! Junta-te a nós!


PROTESTO da GERAÇÃO À RASCA (12 de Março em Lisboa , no Barreiro, e no Porto)

http://www.facebook.com/event.php?eid=180447445325625
http://geracaoenrascada.wordpress.com/


“É mais fácil lutar contra a ditadura do que contra a ditamole”

É inacreditável o ódio que escorre pelas caixas de comentários das notícias relativas à manifestação marcada para dia 12 de Março, ódio pelas pessoas que querem continuar a lutar por este país. E é inacreditável o “tom” do especial informação da SIC – que é recorrentemente mencionado nestes comentários – “Geração à rasca” – que tenta passar a ideia de que os precários são todos uns meninos que querem é carros e telemóveis de última geração: “vícios de quem quer ser moderno e nem pensa na velhice” – como se o sistema de transportes públicos que temos permitisse a todos chegar ao emprego, e como se abdicando do telemóvel se resolvesse o problema do desemprego – deveríamos todos virar mórmones para fazer face à crise? Se passarmos a dormir numa tenda à porta do emprego e usamos pombos correio para comunicar, tudo ficará bem. Os recém-licenciados desempregados entrevistados vivem todos em casa de familiares. Gostava que tivessem procurado os licenciados que saíram de casa dos pais e que estão a trabalhar precariamente e a partilhar apartamentos com mais 5 ou 6 pessoas. Nem todos podem ficar em casa dos pais, mas ninguém se lembra desses.

O jornalista pergunta ao pai de um licenciado em cinema há 7 meses, que vive em casa dos pais: “Então? Não está farto deste filme? Pagaram os estudos ao menino e agora têm o menino a viver cá em casa” – coitado do “menino”, neste país não lhe valeu estar licenciado há apenas 7 meses e já ter um prémio de realização português e um sérvio… devia era ir lavar sarjetas, para saber o que é a vida, em vez de contar com a ajuda dos pais mais 2 ou 3 anos, até um dia o ICAM se lembrar que há mais talento em Portugal para além da lista de 15 ou 20 nomes que vão todos os anos buscar para atribuir financiamentos… Segue-se uma comparação das vantagens de se ser mais velho e as desvantagens de se ser mais novo: reformas, saúde, acesso ao crédito. Esta história de tentar virar os pais contra os filhos e os filhos contra os pais mete mesmo nojo. Os vampiros não são os filhos, nem são os pais. São as empresas sem princípios, os abusos e a ganância generalizada.

Parece emergir a ideia de que estes jovens – que estão muito desiludidos porque as licenciaturas não lhes valeram um posto de trabalho – teriam feito uma aposta melhor se não tivessem procurado o ensino superior. Felizmente aparece o Reitor da Universidade de Coimbra, João Gabriel Silva, que lembra que “o desemprego é mais significativo entre os não licenciados”. – Pois é. Se os licenciados estão mal, os não licenciados estão bem na m… parece ser necessário lembrar também que a formação superior não serve só para ter um emprego, serve para a formação pessoal e para elevar o nível intelectual de um país. Como ficamos face ao resto do mundo? E falando em resto do mundo, sugere-se aos jovens recém-licenciados que vão para fora. Como se ir para fora não implique liquidez financeira, e esteja ao alcance de qualquer um.

Por fim aparece a crítica aos jovens “que não querem “sacrificar o sonho pelo possível” – querem mesmo convencer-nos que “isto” é o possível. E o “isto” não se esgota nos licenciados que não conseguem um emprego digno – nas áreas para as quais estudaram, ou noutras – “isto” chegou ao ponto a que chegou porque a maior parte do tecido empresarial português acha que a competitividade se consegue pagando o mínimo possível, escravizando pessoas com ordenados próximos ou por vezes abaixo dos ordenados mínimos. O que está mal é ser normal as empresas recorrerem a falsos recibos verdes e a estágios não remunerados para manter lucros obscenos e os ordenados e privilégios dos quadros superiores muito acima da média europeia. O que está mal é a corrupção e a exploração selvagem. Se não há trabalho na área para a qual os jovens estudaram, há-de haver noutra área qualquer, mas convém que paguem o trabalho, ou não? A competitividade consegue-se com um produto de qualidade, e isso não se consegue com empregados deprimidos que lutam para comprar comida no supermercado, nem com comboios de “estagiários” que se substituem uns aos outros sucessivamente, nunca ficando tempo suficiente para fazer o melhor pela empresa para a qual querem trabalhar. A verdade é que não os deixam trabalhar e os tratam abaixo de cão, porque há sempre outro estagiário que pode ficar com o lugar. O trabalho não será tão bom, mas serve para “tapar o buraco”. Não os deixam crescer como profissionais, e depois queixam-se da “falta de competitividade”.

Sou licenciada, estou nos quadros de uma empresa, e faço o que sempre quis fazer. Sou uma excepção. Mas não tenho a ilusão pretensiosa de que foi única e exclusivamente por lutar muito que consegui. Lutei muito, e sou boa no que faço, mas acima de tudo tive sorte. Antes disso fui muitos anos precária, e conheço profundamente a realidade. Aceitei trabalhos fora da área que me iam comprometendo para sempre o meu projecto de vida. Por isso, porque quero um futuro melhor para os meus filhos, e porque este é o meu País: vou à Manif. E tu?





Manifesto

Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.

Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.

Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.

Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.

Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.



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