Ciências Humanas e Sociais
Los límites del desarollo sustentable
Sérgio Lessa
Professor do departamento de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas, membro do Conselho Editorial das revistas Crítica Marxista e Práxis
Los límites del desarollo sustentable.
Guillermo Foladori.
Montevideo, Ediciones de La Banda Oriental / Revista Trabajo y Capital, 1999, 224p.
Guillermo Foladori, ainda pouco conhecido do leitor brasileiro, é um dos intelectuais mais instigantes da nova geração uruguaia. Formado no México, em Antropologia, e doutor em Economia, pela UNAM (Universidade Nacional Autonoma de México), autor de vários livros e artigos na interface entre economia, sociologia e ecologia, é atualmente professor do Doutorado em Meio Ambiente da Universidade Federal do Paraná e por vários anos tem sido membro da editoria da revista Trabajo y Capital.
Seu último livro, Los límites del desarollo sustentable, é, para dizer o mínimo, profundamente inquietante. É impossível ao leitor passar por suas páginas sem ter questionadas algumas noções acerca do universo, dos homens, e da relação dos homens com a natureza que, até agora, tínhamos como seguras e inquestionáveis.
Seu primeiro capítulo já faz um 'estrago' nas opiniões mais aceitas: a teoria do Big Bang, segundo a qual a atual forma do universo se originaria a partir da explosão de um 'Ovo Cósmico' (corpo celeste que concentraria toda a matéria/energia existente), teria, segundo Foladori, uma contrapartida necessária na afirmação da finitude da matéria.
Tal finitude, por sua vez, torna imprescindível a existência de um Deus enquanto fundamento da gênese do cosmos, pois não seria possível que a matéria finita não tivesse uma origem. Argumenta, neste sentido, que as evidências empírico-científicas a favor da finitude da matéria (e, portanto, da validade da hipótese do 'Big Bang') são tão insuficientes e inconclusivas quanto aquelas que respaldariam a tese oposta, que afirma a infinitude da matéria. A preferência pela hipótese do 'Big Bang', portanto, não seria uma escolha 'científica', mas sim uma escolha condicionada pela concepção de mundo dominante (burguesa) na qual a figura de Deus exerce um papel fundamental.
Isto posto, Foladori passa a argumentar que a evolução das espécies biológicas, homo sapiens incluso, não se dá apenas, como querem os darwinistas, pela transmissão da base genética. Mas, ao lado desta transmissão, cada geração herdaria também o meio ambiente em que vive transformado pela ação da geração precedente, de tal modo que a evolução das espécies incorporaria dois elementos determinantes: a transmissão do material genético em um ambiente crescentemente transformado pelos seres vivos.
Tal processo genético/ambiental, com os homens, alcança sua expressão máxima conhecida. E é também neste contexto que deveremos examinar a relação do homem com o seu ambiente: a sobrevivência da espécie homo sapiens é um processo muito mais que biológico, é também um processo pelo qual a transformação do meio ambiente cria novas condições (melhores ou piores, esta é a questão) para a reprodução das gerações futuras.
A partir daí, evolui Foladori questionando as teorias ecológicas dominantes, que na sua diversidade igualmente reduzem a questão ecológica a um problema 'técnico' da manipulação da natureza pelo homem. Com precisão e de forma convincente, argumenta nosso autor que nem a finitude da matéria (em suma, a finitude dos recursos materiais) nem a infinitude da mesma (a infinitude dos recursos materiais) são argumentos a partir dos quais podemos resolver este grave problema, tanto teórica quanto praticamente. Pois tais argumentos deixam de lado o aspecto decisivo do problema: a relação dos homens com a natureza é, em primeiro lugar e acima de tudo, um problema da relação dos homens entre si. É na esfera das relações sociais, e não em nenhuma outra instância, que temos a gênese do 'problema ecológico' e, por conseguinte, apenas nela podemos encontrar a sua 'solução'.
Não mencionando várias mediações e argumentos importantes, é neste conjunto categorial que Foladori se apóia, para realizar uma crítica contundente das propostas da economia neoclássica e da economia ecológica (Lipietz) para as políticas ambientais, demonstrando que, na melhor das hipóteses, possuem um pressuposto que se 'esquecem' de demonstrar: que é possível haver um capitalismo não destruidor das condições ambientais necessárias à reprodução dos homens. No máximo, o que conseguiriam realizar seria aperfeiçoar o mecanismo de classe, já em vigor, que faz das políticas ambientais uma mediação para a manutenção de uma relação dos homens com a natureza na qual apenas as condições de reprodução da classe dominante ficam asseguradas. Nesta medida e sentido, pensar em uma nova relação dos homens com a natureza implica nada mais nada menos que pensarmos em uma nova forma de relação entre os homens: para sermos breves, implica na superação do capitalismo por uma sociedade socialista.
Nada mais natural que um livro com tal fôlego, e com um horizonte tão amplo, tenha também aspectos polêmicos. Seria válido, por exemplo, discutir a finitude ou infinitude da matéria a partir da sua adequação ou não à concepção de mundo burguesa? Seria esta uma questão que poderia ser resolvida na esfera filosófico-ideológica? Outras questões da mesma ordem poderiam ser levantadas com igual pertinência. Contudo, elas exigiriam algo que o livro não se propõe, isto é, uma investigação tópica, de caráter algumas vezes quase metodológico, de algumas questões muito específicas. E, por outro lado, tais questões em nada diminuem o seu profundo impacto questionador sobre algumas de nossas concepções acerca do mundo em que vivemos. Se não por outros méritos, apenas por isso é um livro da maior relevância para o debate contemporâneo: é uma investigação que, de forma sólida, conseqüente, bem redigida, recoloca a questão ontológica de uma perspectiva socialista.
Revista Ambiente e Sociedade
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