Ciências Humanas e Sociais
Hip Hop: um novo conceito
Linha Dura*
O 4º Festival Consciência Hip Hop passou. Vejo a argumentações de algumas pessoas que criticam a rede Fora do Eixo sem saber o que está criticando. Vejo outros defenderem a idéia sem saber também o que realmente estão defendendo. Por isso a necessidade de continuar o debate sobre a proposta. Mas a verdade é que o Hip Hop Fora do Eixo está seguindo a nova lógica de fazer negócios, a nova lógica de circular as idéias, as músicas, os produtores, jornalistas etc.Antigamente os artistas criavam suas canções, faziam um "corre" para se apresentar, e torciam para que algum produtor ou os contrata-se. Hoje, o artista continua fazendo seus "corres", porém existe um novo território. Não precisamos mais de intermediários, o próprio artista é que gerencia sua própria carreira, graças ao acesso à novas tecnologias, as mesmas que estão quebrando as grandes gravadoras.Hoje o artista tem seu próprio veiculo de comunicação como o Myspace, a Trama, o blog etc. E a facilidade que se tem em gravar seu próprio cd sem precisar ter grandes estúdios, as rádios? Temos a nossa, pode até não ser um veículo de massa, mas também tem como utilizar as ferramentas da internet. Enfim não tem mais desculpa - o artista que quer viver no modelo passado está fadado ao fracasso junto com as famosas majors. A pergunta que deixo para os leitores desse artigo é: pra que termos intermediários?O hip hop fora do eixo não é uma ONG, nem nada disso, é só uma rede de trabalho, onde qualquer pessoa que comunga com a idéia pode participar. Queremos e temos que adotar uma nova alternativa de fazer negócio, já que o sonho do artista em ser encontrando por alguém foi por água abaixo.Essa nova forma de negócio terá que ser nos preceitos da economia solidária. O mundo caminha para as negociações em rede, a união dos pequenos, e isso, infelizmente, por coincidência ou não, não vejo vontade em muitos artistas - os que tem mais visibilidade principalmente.Falta a vontade de entender que os cachês cobrados esta fora da realidade local, falta vontade de realmente contribuir com a construção do desenvolvimento regional. Falar que está contribuindo, indo na cidade com cachê, tudo pago, inclusive é fácil. Falta vontade de entender que estão falando de revolução social, mas estão pensando e agindo como os grandes empresários donos das grandes gravadoras, onde uma minoria ganha muito e a maioria ganha pouco.Amigos do hip hop, do Rap, vamos mudar o conceito? Pois não está bom pra ninguém. É só dar uma olhada ao redor, a si mesmo, não adianta reclamar. Primeiro porque foi eu, foi você que escolheu cantar música pra favela, pros miseráveis, pros caras que não tem condições de pagar R$ 5,00 pra entrar em um baile. Mas pro pagode, pro samba, pro funk carioca esses mesmos favelados pagam R$ 10,00 pra entrar. Por que será? E o rap ainda sustenta esses argumentos. Esse é o nosso universo, o nosso público, o nosso mercado? Ops, mercado!? Mas que, qual mercado?Nesses 15 anos que tenho de hip hop tenho visto as mesmas coisas acontecerem, os mesmos grupos circularem o Brasil, inclusive muitos destes hoje falidos, porque não entenderam a lógica do mercado. De que adianta tocar nas rádios e querer cobrar cachê fora da realidade para outros Estados. Sabem o que acontece? Os grupos não circulam, não conhecem outros lugares.Para os grupos que já tem certa visibilidade e que já cobram seus cachês de R$ 5 mil, quero dizer que esse valor para regiões como o Centro-Oeste, Norte, Nordeste, é inviável. Sei que seu sonho é viver da música, da arte, mas como moto boy você ganha R$ 800 por mês e como músico você quer ganhar R$ 5 mil por cada show. Aonde esta a lógica, gente? Ser musico é ser iluminado, é isso?Chegou a hora de voltar e começar de novo, fortalecer os comerciantes, as rádios, os produtores, educar melhor o público, ser mais humilde e entender o processo que está envolvido. Por isso tem que ser um artista trabalhador, o artista igual o motoboy, o artista que entende de mercado.Então, acorde gurizada! Quer pagar R$ 5 mil de "jabá" para uma rádio? Pode pagar. O direito e o dinheiro são seus, mas lembre que esse caminho é defasado. Com esse valor, eu compro um transmissor e monto minha rádio comunitária e toco o meu som, e som de muitos outros que também estão na batalha.Vamos continuar sustentando esse pensamento? Ou vamos mudar e construir novas alternativas. O que importa é lutar contra essa grande indústria que favorece somente alguns.
Paulo Ávila, comumente chamado por Linha Dura, é Rapper Cuiabano engajado em movimento social e militante do Movimento Hip-HopAcesse o trabalho de Linha Dura em: www.myspace.com/linhadura .
loading...
-
A Globo Se Protege
Tem certos assuntos que dão uma preguiça. Um deles, pelo menos para mim, é a rede Globo. Empresa nascida no período militar, abençoada pela Time Life, veio para criar a idéia de um “estado nacional”, sob o ponto de vista dos militares,...
-
Companheiro Gas-pa Lança Novo Cd De Hip-hop
"Eu amo o Hip Hop, ele mudou a minha vida. Não só a minha, mas a de uma porrada de gente. Pra melhor, e, nos últimos tempos, pra pior", diz Gas-PA. Foto: Arquivo pessoal. Gas-PA além de rapper é militante político, usa a arte para a conscientização...
-
Dicionário De Politiquês
Linguagem para transformar o mundo Vito Gianotti lança manual prático de linguagem para quem deseja se comunicar com muitas pessoas Dicionário de Politiquês é o novo livro de Vito Giannotti, escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação...
-
Projecto E Manifesto Da Galeria Extéril
Manifesto • Todo artista tem o direito de expôr o seu trabalho, quando lhe apetecer e onde bem entender, sem qualquer tipo de exclusividade. • Da arte, são sinónimos as faculdades primárias: Inteligência, Raciocínio, Sentimento, Percepção,...
-
Revolution ( John Lennon, 1968)
Você diz que quer uma revolução Bem, você sabe Todos queremos transformar o mundo Você diz-me que isso é evolução Bem, você lá sabe. Todos queremos transformar o mundo. Mas quando você fala de destruição Você não sabe que não pode contar...
Ciências Humanas e Sociais