“Aquele que deseje filosofar deve antes de mais duvidar de todas as coisas. Não pode tomar parte num debate antes de ter escutado as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as diversas opiniões, nem antes de avaliar e comparar as razões contrárias e a favor. Jamais deve julgar ou censurar um enunciado apenas pelo que ouviu, pela opinião da maioria, pela idade, pelo mérito ou pelo prestígio do orador, devendo por consequência agir de acordo com uma doutrina orgânica que se mantém fiel ao real e uma verdade que pode ser entendida à luz da razão.”
“Desejo que o mundo usufrua dos gloriosos frutos do meu trabalho, desejo despertar a alma e abrir o espírito dos que vivem privados dessa luz que, seguramente, não é invenção minha. Se estiver errado, não creio que o faça deliberadamente. E, ao falar e escrever deste modo, não sou impelido pelo desejo de sair vitorioso, pois que reconheço qualquer tipo de fama e conquista como inimigos de Deus, vãs e sem qualquer honra, se não forem verdadeiras; mas, por amor à sabedoria autêntica e num esforço para reflectir com justeza, fatigo-me, sofro, atormento-me”.
"Muito me debati. Julguei poder ganhar... Mas o destino e a natureza reprimiram os meus estudos e o meu vigor. Mas já é alguma coisa ter estado no campo de batalha, pois vejo que conseguir ganhar depende muito da sorte. Porém, fiz tudo o que podia e não creio que nenhuma geração vindoura o possa negar. Não tive medo da morte, jamais cedi perante os meus iguais, com firmeza de carácter, escolhi uma morte corajosa a uma vida de cobardia sem combate”.
Breve Biografia:
Giordano Bruno (Nola, perto de Nápoles,1548 — Roma, 17 de fevereiro de 1600) foi um teólogo, filósofo, astrónomo e matemático italiano; condenado por heresia pela Igreja Católica. Defendia a teoria do universo infinito e a multiplicidade de sistemas estelares, no que constitui uma ultrapassagem do heliocentrismo que ainda estava a dar os seus primeiro passos, e mesmo assim dentro uma visão fechada do universo, rejeitada por Bruno.
Filho do militar João Bruno e de Flaulissa Savolino,o seu nome de baptismo era Depois de estudos de literatura e filosofia, Filippo ingressa na Ordem Dominicana (no convento de Nápoles em 1566), adoptando então o nome de Giordano. Aí estudou profundamente a filosofia de Aristóteles e de São Tomás de Aquino, doutorando-se em Teologia. Apesar deste título académico que lhe poderia garantir a vida fácil para um erudito, o espírito de Bruno era demasiado rebelde para aceitar em silêncio os abusos da Igreja. Não tarda por isso a atrair contra si as censuras e admoestações dos dogmáticos e dos detentores do poder.
Em 1576 abandona o hábito eclesial ao ser acusado de heresia por duvidar da Santíssima Trindade. Foge de Nápoles, perseguido pela Inquisição, e começa uma errância de 15 anos, ocupado a ensinar e a escrever, bem como a divulgar as suas ideias «loucas»( como, por exemplo, a sua ideia de que as mulheres não são menos inteligentes que os homens).
Visita Génova (onde se converte ao calvinismo), Toulouse, Paris, Londres (onde este dois anos, entre 1583 e 1585), de novo Pais, antes de seguir para Marbourg, Wittenber, Praga, Helmstedt e Frankfurt, onde dá à estampa alguns dos seus escritos, num dos quais se pode ler: «Cristo? Um sedutor. A virgindade de Maria? Uma aberração. A missa? Uma blasfémia. A bilía? Um naco de mentiras». Afirmações como estas levaram à sua excomunhão pelos próprios calvinistas e luteranos.
Graças às suas pesquisas e influências que foi recebendo Giordano Bruno pensa o Universo, o Ser, a razão de uma perspectiva diversa da que estava consagrada nos dogmas e na doutrina.
Regressa a Itália em 1591 sob a protecção de um rico comerciante veneziano que o acaba por entregar à Inquisição . Após sete anos de prisão, de tortura, e recusando sempre abjurar das suas teses e convicções, Giordano Bruno é condenado à morte pelo Santo Ofício, acusado de «herético impenitentes e obstinado». Morreu supliciado na fogueira a 17 de Fevereiro de 1600, não sem antes lhe terem arrancado a língua por causa das palavras temerárias que havia corajosamente proferido.
Ao ser anunciada a sentença de que seria executado piamente, sem profusão de sangue (que em verdade significava a morte pela fogueira) Giordano Bruno teria declarado: "Teme mais a Força em pronunciar a sentença do que eu em escutá-la", com isso querendo dizer que a Força (a Igreja Católica) sabia bem do crime contra a humanidade que estaria a cometer ao criar um mártir do pensamento.
Defensor do humanismo, corrente filosófica do Renascimento (cujo principal representante é Erasmo), Bruno defendia o infinito cósmico e uma nova visão do homem. Defendeu teorias filosóficas que misturavam neo-platonismo místico e panteísmo. Acreditava que o Universo é infinito, que Deus é a alma universal do mundo e que todas as coisas materiais são manifestações deste príncipio infinito. Por tudo isso, Bruno é considerado um pioneiro da filosofia moderna, tendo influenciado decisivamente o filósofo holandês Baruch de Espinoza e o pensador alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz
Um dos pontos chaves de sua teoria é a cosmologia, segundo a qual o universo seria infinito, povoado por milhares de sistemas solares, e interligado com outros planetas contendo vida inteligente. Para esta perspectiva bebeu na fonte de Nicolau da Cusa, Copérnico e também de Giovanni Della Porta.
John Gribbin, no seu livro "Science: A History 1543-2001" explica que Bruno participava de um movimento chamado Hermetismo.
Nómada por natureza e modo de vida, Bruno baseou sua filosofia apoiado nas suas intuições e vivências fora dos cânones e dos lugares comuns.
Em 1889 foi construído um monumento em sua homenagem no local onde Giordano Bruno teria sido executado: no Campo de Fiori, em Roma ( Itália)
Obras:
Il Candelaio, em 1582
Cena de le Ceneri, em 1584
De l’infinito universo e mondi, em 1584
De la causa, principio e uno, em 1584
Gli eroici furori, em 1585