Ciências Humanas e Sociais
Gandhi e o Dia da Não-Violência (30 de Janeiro)
O dia 30 de Janeiro foi proclamado Dia da Não-violência em homenagem a Gandhi cuja morte ocorreu justamente neste mesmo dia no ano de 1948. Trata-se de uma iniciativa não-governamental e independente no âmbito mais geral da educação para a paz, a solidariedade e o respeito pelos direitos humanos.
Mahatma Gandhi nasceu na Índia em 1869 e é considerado um dos principais expoentes do pacifismo e da luta não-violenta pelo respeito e realização dos direitos humanos e da justiça. Depois de ter estudado Direito na Inglaterra foi trabalhar para a África do Sul como advogado. Foi neste país que começaram as suas primeiras acções de protesto pacífico contra o sistema instituído baseadas na resistência pacífica e na não-cooperação com as autoridades. Ao fim de 20anos de luta, e depois de ter conseguido algumas melhorias para a comunidade indiana sedeada na África do Sul, decide ir viver para o seu país de origem - a Índia - e lutar pela sua independência face à Inglaterra, a potência colonizadora. Depois de muitas lutas e outras tantas detenções a Índia conquistou, ao fim de 40 sofridos anos e intemeratas lutas, a independência em 1947.
Os 4 principais pensamentos de Gandhi eram a verdade, o amor, a não-violência e a não-cooperação, aos quais se poderá ainda acrescentar a desobediência civil, e foi com eles que não só lutou contra os maus tratos e discriminações que os indianos sofriam na África do Sul como ainda foi através deles que obteve a independência da Índia.
Gandhi foi profundamente influenciado pelos livros sagrados da tradição religiosa hinduísta como o «Bhagavad-Gita» onde se ensina que a não-violência, a verdade, a simpatia entre os seres, o perdão, a força de vontade e a ausência de orgulho são as maiores virtudes do ser humano. Recebe também a influência do jainismo durante a sua infância, bem assim como o «Sermão da Montanha» bíblico. Finalmente foram também determinantes para a formação do seu pensamento as obras e vidas de H.D.Thoreau ( em especial, o seu livro sobre Desobediência Civil) e a pedagogia e os ensinamentos de Leon Tolstoi ( com o seu anarquismo cristão).
Outro aspecto importante em Gandhi era a dimensão espiritual. Defendia uma concepção aberta baseada na unidade essencial de tudo o que é ser vivo. O facto de considerar todas as religiões como mais ou menos verdadeiras está na base da sua mais profunda tolerância.
O pacifismo gandhiano está escorado numa filosofia e numa prática de libertação individual e social, bem como na reforma e mudança das estruturas sociais que oprimem o homem.
Recordemo-nos que os 3 grandes objectivos de Gandhi eram:
O desaparecimento da segregação que atingia os párias na Índia
A unidade e a irmandade entre todos os seres humanos, qualquer que fosse a sua religião, raça e casta, quer na índia quer no mundo.
A independência política da Índia deverá alcançar-se mediante procedimentos não-violentos de forma à edificação moral de todos e de maneira da transmitir um exemplo de fraternidade e paz.
O eixo central do pensamento de Gandhi é a Não-violência (Ahinsa) definida como: «A atitude de renúncia a matar e a causar danos aos outros seres por meio de pensamentos, palavras ou acções». Assim qualquer objectivo, por mais benéfico que seja, não justifica o uso de meios violentos ou contrários á moral.
Gandhi escreve: «A Não-violência é a maior força que existe à disposição do ser humano. É mais poderosa do que qualquer arma de destruição inventada pelo ser humano, e por mais sofisticada que seja.»
A este conceito de Não-violência, Gandhi acrescenta o da «Força da Verdade» (Satyagraha) cuja aplicação consiste na desobediência a determinadas leis consideradas injustas, mas ainda na aceitação disciplinada pelas sanções previstas pelo legislador, de forma a levar este à conclusão da ineficácia e insustentabilidade das suas próprias leis.
Os procedimentos e as formas de luta que defendia eram:
1- Manifestações pacíficas: diálogos, testemunhos, petições, marchas, jejuns, manifestações públicas, greves de fome, greves de zelo, orações e cooperação aberta com os mais oprimidos.
2- Não-cooperação através do boicote sistemático e na negação de colaborar com um regime ou com um sistema considerado como iníquo (Gandhi utilizou este procedimento contra tribunais, escolas e as instituições inglesas na Índia)
3- Desobediência civil por via da violação intencional, organizada, sistemática, pública e responsável das leis injustas
Segundo a concepção gandhiana o homem deve assumir plenamente a sua autonomia de ser livre e responsável: deve promulgar ele próprio as leis a que deve conformar os seus pensamentos, as suas palavras e acções (autónomo, vem do grego autos, ele próprio, e nomos, lei – ou seja, aquele que é regido pelas suas próprias leis), sem se remeter a qualquer autoridade exterior, seja ela religiosa, social ou política., que lhe ditaria a sua conduta.
É claro que essa autonomia comporta inevitavelmente a possibilidade de se enganar, mas só correndo esse risco é que o homem pode chegar à verdade. Para ele, o homem sincero não deixará de corrigir o erro quantas vezes forem necessários. Em contraste a isto, o homem que promete a obediência a uma autoridade exterior é que corre o risco de persistir no erro.
Aquele que procura a verdade deve convencer-se que está sempre na estrada e que nunca chegará ao fim do caminho. A verdade que ele apreende é sempre fragmentária, relativa e parcial, logo, imperfeita. É, por isso, que o homem nunca deve querer impor a sua verdade aos outros. A regra de ouro é a da tolerância mútua. Opor-se a um sistema injusto e atacá-lo, está correcto; mas opor-se ao seu autor e atacá-lo é tornar-se naquilo que ó o seu adversário, um agressor.
Gandhi não desconhece os instintos agressivos dos seres humanos, mas por isso mesmo escreve: «Enquanto animal, o homem é violento, mas enquanto espírito, ele é não-violento»
Coloca ainda a intrepidez à cabeça das virtudes do homem forte. Ser intrépido é não tremer frente ao perigo. «A intrepidez – escreve ele – revela que o indivíduo está liberto de qualquer receio exterior, seja ele o da doença, dos ferimentos físicos, da morte ou o de perder os seus bens»
Para testemunhar a verdade e para combater a injustiça, é preciso, antes do mais, que o homem supere o medo que o habita e o aconselha a permanecer ao abrigo de todo o perigo. «A força reside na ausência de receio», diz ele.
Gandhi pensa que a opressão sofrida pelos Indianos não deriva tanto da maldade dos Ingleses como da perfidez e injustiça do sistema colonial britânico. Consequentemente ele pretende combater esse sistema: « A nossa não-cooperação - afirma ele – não se dirige para os Inglese, mas no sistema que os Ingleses nos impuseram»
Assim, a luta não-violenta consiste em erradicar o mal sem eliminar o malfeitor: »Faço as coisas de modo a perseguir o mal onde quer que ele esteja, sem nunca molestar aquele que é responsável por ele», conclui.
Ao longo de toda a sua luta pela independência da índia, uma das principais preocupações da Gandhi foi não só combater a tutela do Império Britânico, mas permitir ao povo indiano governar-se a si próprio, sem recorrer aos mecanismos típicos de um Estado, único titular do poder de exercer violência sobre os cidadãos. Para ele, o melhor meio para resistir ao poder imperial dos ingleses é fazer com que os Indianos aprendam a governar-se sozinhos, isto é, a tornarem-se autónomos.
Links:
www.multimania.com/manco
www.mahatma.org.in
Leituras:
O Princípio da Não-Violência, Jean_Marie Muller, Edições do Intituto Piaget,1998
Gandhi l'insurgé, L'épopée de la marche du sel, Jean-Marie Muller (Albin Michel).
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