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Nos dias 26 e 27 de Janeiro, na véspera do Forum Social Mundial, realiza-se em Belém do Pará o Fórum Mundial de Mídia Livre (FMML) , os mídias livristas, como são chamados, de todo planeta reúnem-se para somar forças e discutir a criação de novas formas de comunicação.
Para aqueles(as) que praticam e lutam quotidianamente por uma outra comunicação, o momento presente combina a ampliação de oportunidades com o acirramento das desigualdades.
Ao mesmo tempo em que se multiplicam iniciativas contra-hegemónicas de comunicação, acentua-se a concentração das grandes corporações dos media e explicita-se o papel desses grupos como suporte do discurso hegemónico.
1. Os 30 anos de hegemonia neoliberal que antecederam a actual crise económica modificaram o mundo, a subjectividade, o imaginário humano e o papel da informação na sociedade. Já as últimas décadas de mudanças tecnológicas, de mutações no capitalismo, de invenção de outras formas de compartilhar, viver, trabalhar, apontam para a crise dos modelos neoliberais e para a emergência de novos paradigmas e outros imaginários.
2. Um consenso social tem sido modelado pelos sistemas de comunicação interligados por interesses e tecnologias avassaladores. Ao mesmo tempo, novas formas de resistência e contra-discursos surgem e se disseminam buscando quebrar os "consensos". Apesar das limitações, as novas tecnologias servem à democracia participativa e surgem com impacto global e capacidade de articular redes, que funcionam sob novos modelos.
3. Uma engrenagem dioturna, formada por grandes conglomerados da comunicação, reproduz e vocaliza a mesma narrativa hegemónica que condiciona impulsos, vontades, expectativas. Por outro lado, a possibilidade da construção de outras narrativas e da apropriação de novos media por novos sujeitos do discurso (colectivos, periferias, minorias, etc.) é uma criação experimentada local, nacional e globalmente, a despeito de novas formas de alienação. Nunca os processos culturais, a economia criativa, a valoração da informação e do conhecimento foram tão cruciais para se pensar a sociedade.
4. Esteja explícito ou não, muitas pessoas, redes, grupos estão condicionados a forças descomunais cujo poder destrutivo evidencia-se na incerteza desses dias, marcados por um modelo de sociedade cada vez mais socialmente injusto, economicamente insustentável, ambientalmente destrutivo, moralmente aético, acrítico e permissivo. A crise do capitalismo, da mídia de massa e do pensamento único cria, no entanto, uma oportunidade de reconfiguração das discussões sobre o papel da comunicação e da informação no mundo contemporâneo.
5. Desvelou-se, neste crash financeiro, o papel dos media oligopólicos com influência crescente sobre os destinos da sociedade, inclusive omitindo e isolando vozes e factos dissonantes. As intersecções entre os media e o poder dos mercados desregulados estreitaram-se nesses 30 anos. A financeirização da economia gerou uma contrapartida de financeirização do noticiário, adicionando-se um novo instrumento à manipulação da economia. Nada mais ilustrativo desse comprometimento do que o persistente malabarismo de ocultação de um sistema especulativo só reconhecido quando sua explosão ganhou evidência incontornável.
6. Estados, governos, democracias e processos de desenvolvimento foram colocados à mercê dos desígnios e chantagens impulsionados por essa lógica auto-destrutiva. A crise financeira expõe a crise do neoliberalismo. As grandes estruturas de comunicação avalizaram esse processo, emprestando-lhe legitimidade, sedução e argumentação coercitivos. Sobretudo, revestindo-o de múltiplas estratégias de desqualificação das vozes dissonantes ecoadas por governantes, partidos, lideranças sociais ou mesmo pela resistência de uma subjetividade atemorizada e constrangida.
7. Não é mais possível lutar pela democratização económica e social do mundo ou de uma aldeia, sem erigir muitas vozes dos mais diversos alcances, com influência internacional capaz de se contrapor à usina forjadora de supostos consensos sociais. Da mesma forma que o capitalismo é global, as lutas e a resistência são globais. Não queremos produzir um novo consenso, mas defender a possibilidade das diferenças e dos dissensos.
8. Essas vozes não serão um uníssono de sinal inverso ao que se combate, mas justamente a combinação harmônica das distintas e variadas vozes que hoje se levantam a partir da afirmação do direito à comunicação dos diversos grupos e indivíduos comprometidos com a luta por justiça social, e que tem nessa diversidade a sua fortaleza.
9. Neste momento, é ainda mais importante que os veículos não alinhados ao pensamento hegemônico, os produtores independentes de mídia e todos aqueles(as) que se pautam diariamente contra as injustiças e opressões decorrentes do neoliberalismo se reconheçam na semelhança e na pluralidade de suas inquietudes. A responsabilidade que nos une deve-se materializar em fóruns e acções de abrangência que se contraponham à crise que se alastra por todo o globo.
10. Convidamos assim os veículos de informação democrática, as comunidades, os colectivos, as entidades, os movimentos sociais, os blogueiros e cada individuo – que é em si um comunicador -, a participar do I Fórum Mundial de Mídia Livre, que acontece no Brasil (em Belém do Pará), nos dias 26 e 27 de janeiro de 2009. As conclusões do FMML terão importante incidência política nas deliberações do Fórum Social Mundial, que acontece nessa mesma cidade, a partir do dia 27 de janeiro de 2009.
11. Certos de que compartilhamos as mesmas preocupações e sentimento de urgência na construção dos media livres e democráticos, aguardamos a confirmação de sua presença.
Fórum de Mídia Livre, Brasil, novembro de 2008