Mas esquece-se que se trata de um problema eminentemente social e até político. Basta para tanto recordar a insistência e pressa que os órgãos e responsáveis políticos revelam ao autorizar a venda e circulação de carros cada vez mais potentes, capazes de atingir velocidades inadmissíveis, assim como todo o afã das autoridades em construírem vias de circulação onde o alto valor da fluidez do trânsito supera em importância a própria segurança rodoviária, e, principalmente, no tipo de ordenamento do território planificado pelas esferas governamentais que leva cada vez mais as populações a ficarem dependentes do automóvel e do transporte particular.
Quantos mais automóveis há, mais a vida se torna desagradável, e menos úteis eles se mostram.
Vivemos hoje numa espiral de crescimento do transporte de pessoas e mercadorias. As indústrias do automóvel, da construção civil e dos combustíveis tornaram-se o primeiro poder económico e, em cumplicidade com os governos, modelam o território, a sociedade e as regras sociais em função dos seus interesses económicos em detrimento do inetresse geral e da prória saúde das pessoas.
Os condutores, esses, independentemente da sua consciência social e dos padrões éticos por que se regem, vão adaptando melhor ou pior a sua conduta em função percepção dos riscos que lhes são apresentados. E se estes diminuem, graças à tecnologia ou ao traçado e construção das vias, a tendência é para elevar o grau de risco do seu comportamento. Por isso é que a única solução para reduzir a mortalidade rodoviária é reduzir as deslocações e apostar numa economia de proximidade.
As indústrias envolvidas e os governos, seus cúmplices, têm plena consciência das consequências das suas opções e do modelo de crescimento económico que visa tão-só satisfazer os interesses empresariais na maximização do lucro a qualquer preço e custe o que custar.