(Santo Agostinho)
?Quem entra em ti, entra no gozo de seu Senhor (Mt 25, 21), e não temerá, e estará perfeitamente bem no sumo bem. Eu me afastei de ti e andei errante, meu Deus, mui longe de teu esteio em minha adolescência, e cheguei a ser para mim mesmo uma região de esterilidade? (Livro Segundo, Capítulo X ? Deus, O sumo bem).
?Eu era para mim mesmo uma infeliz morada, na qual era ruim estar e da qual não podia sair. E para onde iria meu coração, fugindo de si mesmo? Para onde fugir de mim mesmo? Para onde não me seguiria?? (Livro Quarto, Capítulo VII ? De Tagaste para Cartago).
?Não há ninguém que queira dormir sempre, e segundo dita o bom senso, é melhor estar desperto que dormir. Contudo, às vezes retarda-se o despertar, quando o torpor torna os membros pesados, e, mesmo a contragosto, continua-se a dormir mesmo depois de chegada a hora de despertar? (Livro Oitavo, Capítulo V ? As duas vontades).
?Ó Deus, faz que eu te conheça, meu conhecedor, que eu te conheça como de ti sou conhecido (Cor 13, 11). Virtude de minha alma, penetra-a, assemelha-a a ti, para que a tenhas e possuas sem mancha nem ruga (Ef 5, 27)? (Livro Décimo, Capítulo I ? Finalidade do livro).
?Que tenho eu que ver com os homens, para que me ouçam as confissões, como se eles pudessem curar as minhas enfermidades? (SL 102, 3) São curiosos para conhecer a vida alheia, mas indolentes para corrigir a própria! Por que desejam ouvir de mim quem sou, quando não se importam em saber de ti o que são? E como podem saber, ao me ouvirem falar de mim mesmo, se lhes digo a verdade, uma vez que homem algum sabe o que se passa no outro, senão o espírito do homem, que nele, habita? (1 Cor 2, 11) Mas, se ouvissem a ti falar deles, não poderiam dizer: ?O senhor mente?. E o que é ouvir-te falar de si, senão conhecerem-se a si mesmos? E quem, conhecendo a si mesmo, pode dizer ?é falso?, sem mentir? (Livro Décimo, Capítulo III ? Por que se confessar aos homens?).
?Grande é realmente o poder da memória, prodigiosamente grande, meu Deus! É um santuário amplo e infinito. Quem o pôde sonhar até suas profundezas? É um poder próprio de meu espírito, que pertence à minha natureza; mas eu não sou capaz de compreender inteiramente o que sou. Será o espírito demasiado estreito para se conter a si mesmo? Onde, então, está o que ele não pode conter de si? Estaria fora dele, e não nele? Como então não o contém?
Esta idéia me provoca grande admiração, e me enche de espanto. Viajam os homens para admirar as alturas dos montes, as grandes ondas do mar, as largas correntes dos rios, a imensidão do oceano, a órbita dos astros, e se esquecem de si mesmos!? (Livro Décimo, Capítulo 9 ? Deus e os sentidos).
?Percorro em todas as direções este mundo interior, vou de um lado para outro, e nele me aprofundo o mais possível, sem encontrar-lhe os limites, tão grande é a vida que reside no homem mortal!? (Livro Décimo, Capítulo XVII ? Deus e a memória).
?Às vezes, me fazes conhecer uma extraordinária plenitude de vida interior, de inefável doçura que, se chegasse à completação, não seria certamente compatível com esta vida. Mas torno a cair nesta baixeza, cujo peso me acabrunha; volto a ser dominado pelos meus hábitos, que me tem cativo e, apesar de minhas lágrimas, não me libertam. Tão pesado é o fardo do hábito! Não quero estar onde posso e não posso estar onde quero: miséria em ambos os casos!? (Livro Décimo, Capítulo XL ? À procura de Deus).